Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    ROSE FRANCE DE FARIAS PANET (UEMA)

Minicurrículo

    Professora e pesquisadora do Curso de Arquitetura da Universidade Estadual do Maranhão. Doutora em Antropologia Social e Políticas Públicas (l’EPHE – UFMA). Mestre em Antropologia pela EPHE-Paris/ FR. Especialista em Estudos sobre a América Latina-IHEAL/FR. Diretora e roteirista de 20 filmes, sendo 16 etnográficos, 1 longa documental financiado pela ANCINE/FSA/EBC, para exibição em TVs públicas, lançado em 2017 pela Lume Filmes., três ficções, um curtíssimo e duas séries para TV.

Ficha do Trabalho

Título

    A presença feminina no Festival Guarnicê de Cinema: abordagem etnobio/

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir de bases metodológicas assentadas na etnobiografia e na reflexividade, a presente comunicação pretende abordar o Festival Guarnicê como acontecimento social de transformação e expansão cultural, associado a uma biografia, ou o inverso: a narração de um trecho da minha própria vida como construção e sentido do mundo real: uma narrativa sobre mim que associa os acontecimentos biográficos a uma história sociocultural, que aqui é a trajetória do Guarnicê.

Resumo expandido

    Cheguei ao Maranhão para fazer uma pesquisa de campo com o povo Kanela-Ramkokamekra, necessária ao curso de mestrado em Antropologia Social que eu estava realizando na EHESS, Paris-França. Voltei, tempos depois, para uma segunda estadia, completando nove meses de pesquisa nesta aldeia indígena. Desta experiência, além da dissertação e da tese, captei imagens fotográficas e audiovisuais com as quais realizei exposições e fiz diversos filmes. Os filmes feitos nesse período foram meu passaporte ao mundo exequível do cinema. Estes também foram meu passaporte de entrada para o festival Guarnicê, um dos mais dinâmicos, importantes e longevos do Brasil.
    Era 2000, e o Guarnicê estava em sua 24ª edição e se chamava Festival Guarnicê de Cine-Vídeo. Esta foi a primeira vez que eu participava com um filme de um festival de cinema. No ano seguinte participei novamente com outro filme, também produzido em território indígena, e ganhei uma menção honrosa. Naquele momento eu não imaginava que, a existência deste festival, pudesse se tornar tão importante na minha vida, definindo e reforçando minha identidade, delineando relacionamentos e criando perspectivas sobre o mundo.
    A partir de bases metodológicas assentadas na etnobiografia e na reflexividade, a presente comunicação pretende abordar o Festival Guarnicê como acontecimento social de transformação e expansão cultural, associado a uma biografia, ou o inverso: a narração de um trecho da minha própria vida como construção e sentido do mundo real: uma narrativa sobre mim que associa os acontecimentos biográficos a uma história sociocultural, que aqui é a trajetória do Guarnicê. Esta abordagem metodológica se fará ainda a partir de uma prática social reflexiva existente na intersecção entre biografia e produção cultural. Tratarei do Festival Guarnicê a partir das minhas experiências com este festival, como, quando e por que cheguei até ele. O Eu enquanto personagem etnográfico e como sujeito subjetivado.
    Ainda como objetivo da comunicação, apresento o Festival Guarnicê como espaço aberto à presença feminina e sua influência na gestão, formação e estímulo para produções cinematográficas dirigidas por mulheres. Em sua trajetória, o Guarnicê teve à frente gestores engajados e sensíveis. Parte significativa das suas edições foi dirigida por mulheres que deixaram no festival marcas de acolhimento aos participantes e que deram continuidade ao evento mesmo durante a pandemia, inaugurando o formato híbrido que possibilitou sua internacionalização. Essas gestoras, imprimiram inovações ao festival aumentando a presença feminina na curadoria, no júri, nas críticas dos filmes e criando um espaço de reflexão da produção cinematográfica com a incorporação do Seminário Ciência Cine Guarnicê, onde pesquisas sobre cinema e audiovisual são apresentadas na programação do festival, desde 2021. Participei concorrendo com filmes, na curadoria e no júri em diversas edições. Destacarei aqui a presença de Rosélis Barbosa Câmara e Fernanda Santos, além da cineasta Isa Albuquerque, que falarão sobre suas próprias relações com o Guarnicê, a partir também de uma abordagem etnobiográfica e reflexiva. Para tanto, biográfico e etnográfico se encontram no intercâmbio de experiências através de narrativas compartilhadas. Gonçalves compara a dimensão da individuação, da ação do indivíduo produzida por suas escolhas pessoais na construção de uma trajetória social como fruto do encontro entre aquele que narra e aquele que escuta a narração, considerando neste movimento a razão e a condição de uma criação de si, como a criação de um personagem de ficção. ‘Do mesmo modo que o indivíduo na vida real, o personagem de ficção jamais se separa dos contextos em que é produzido e nos quais se produz (GONÇALVES, 2012:25). Assim, no intercâmbio do partilhar uma experiência proporcionada pelo Guarnicê, buscarei potencializar a construção dos processos de significação da trajetória pessoal.

Bibliografia

    BENJAMIM, Walter; Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. ª ed. São Paulo: Brasiliense. 1987

    BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil S.A. 1989

    GHASARIAN, Christian. De l’ethnographie à l’anthropologie réflexive: nouveaux terrains, nouvelles pratiques, nouveaux enjeux. Armand Colin, Paris, 2004

    GONÇALCES, Marco Antônio; MARQUES, Roberto; CARDOSO, Vânia (organização), Etnobiografia: subjetivação e etnografia. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012

    KOFES, Suely & MANICA, Daniela; Vida & grafias: narrativas antropológicas entre biografia e etnografia (organização), Lamparina editora, Rio de Janeiro, 2015

    MOREIRA NETO, E. Guarnecendo memórias. São Luís: EDUFMA, 2017.