Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Deisy Fernanda Feitosa (FCL e USP)

Minicurrículo

    Graduada em Comunicação Social – Radialismo (2007) e Jornalismo (2009) pela UFPB; mestre (2010) em TV Digital pela Unesp; doutora (2015) em Ciências da Comunicação pela ECA-USP; pós-doutora em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da FFLCH (USP); e pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais do CTR-ECA (USP), sob supervisão do prof. Almir Almas. Professora e coordenadora do curso de Jornalismo da Cásper Líbero. Membro do LabArteMídia e do Obted.

Coautor

    ALMIR ANTONIO ROSA (USP)

Ficha do Trabalho

Título

    Não consigo respirar: George Floyd e a restituição do corpo à palavra

Formato

    Presencial

Resumo

    Este artigo discorre sobre tendências do Jornalismo Audiovisual a partir de experiências que têm sido realizadas no Brasil e mundo afora e que utilizam como recursos a realidade virtual e a inteligência artificial, como forma de oferecer ao público maior imersão, gerar empatia e de facilitar a rotina das redações. Pretende-se, por meio de uma pesquisa documental e experimental – por meio do projeto Direitos Violados, conhecer tendências, oportunidades e refletir sobre limites éticos.

Resumo expandido

    Pode-se considerar a década de 2010 como um marco para novas experimentações tecnlógicas no campo do Jornalismo. A realização de experiências imersivas em narrativas não-ficcionais apresentada pela jornalista e documentarista Nonny de la Peña e sua equipe (2010) abriu um mundo novo e chamou a atenção para como a empatia e a a prática da alteridade podem ser exercitadas a partir de narrativas que lançam mão da realidade virtual. Peña e sua equipe teletransportaram governantes para zonas de conflito e os impactaram de forma inédita.
    Há menos de uma década, a inteligência artificial tem também sido acoplada às rotinas jornalísticas. Redações de emissoras como BBC já admitem usar o recurso para produzir de forma automatizada conteúdos que não carecem de uma apuração mais rigorosa, como campanhas de utilidade pública, notícias sobre meteorologia e resultado de partidas de futebol, por exemplo. Ou seja, a força de trabalho humano estaria à serviço da construção de fatos que demandam valores mais analíticos e interpretativos e sensibilidade. Em contrapartida, os algoritmos podem contribuir com a análise de grandes volumes de dados em meio à construção de conteúdos noticiosos e, por meio de sistemas de recomendação, direcionar de forma mais estratégica e personalizada os fluxos de notícias. Ou seja, com isso, também há influência na forma de consumir esses conteúdos.
    Apresentadores virtuais e androides também têm sido uma aposta de emissoras de televisão. E como novidade, em 2023, desponta com maior potencial de popularização o uso de IA generativa, que cria conteúdos a partir de uma base de dados. Tem-se aí o aprendizado de máquina (machine learning).
    Em 2023, por exemplo, realizamos uma experiência em realidade virtual chamada Dona Maria: Direitos Violados, que utilizou IA – por meio de ferramentas como o Midjourney – como recurso para reproduzir memórias de ambientes por onde passou Dona Maria, uma idosa que viveu por 30 anos em situação análoga à escravidão, enquanto trabalhava para uma família de classe média na condição de empregada doméstica. Além disso, neste projeto, criamos uma versão em inglês do depoimento dela. A dublagem foi realizada utilizando uma ferramenta de IA, na qual é possível fazer o upload de alguns minutos do áudio original para que o algoritmo aprendesse e reproduzisse, da melhor forma possível, o tom da voz e o ritmo da fala em outros idiomas.
    A experiência foi desenvolvida no âmbito do convênio COIL/VSAT (Collaborative Online International Learning / Virtual Storytelling Application and Toolkit (VSAT), executado em conjunto pela Oxford Brookes University (OBU) e pela Universidade de São Paulo (USP), por meio da LabArteMídia. O projeto se concentrou em soluções de realidade virtual para a VSAT, plataforma de código aberto e disponível na web, permite ao usuário criar uma experiência de narrativa em ‘fotosfera’ imersiva e interativa em poucas horas.
    A partir desse projeto, entendemos que um novo fluxo de produção poderia usar o Midjourney para recriar ambientes ao qual você não tem acesso e não pode fotografar ou filmar. Apesar de não criar imagens em 360 graus, é atualmente a mais popular ferramenta de AI generativo para a criação de imagens. Utilizamos a versão 5, a mais recente na época da produção, e solicitamos a criação de uma imagem equirretangular, adequada para fotos em 360 graus.
    Ou seja, não é difícil imaginar em um futuro próximo um processo em que o repórter, após a entrevista com uma pessoa, possa usar o celular para rapidamente recriar o ambiente descrito, e obter a validação instantânea do entrevistado. Tudo isso indica que podemos estar diante de uma revolução no modo como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas, e vemos a olho nu tendências inovadoras serem delineadas por meio da integração de Realidade Virtual (VR) e Inteligência Artificial (IA) no jornalismo audiovisual. Podemos, diante disso, observar um alargamento das possibilidades da narrativa jornalística.

Bibliografia

    BARBOSA, Mariana (Org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019
    BERTOCCHI, Daniela. Dos dados aos formatos: a construção de narrativas no jornalismo digital. Curitiba: Appris: 2016.
    CASSAUWERS, TOM. Can artificial intelligence help end fake news? Horizon, the EU Research and Innovation Magazine. 15 April 2019
    FINN, Ed., What Algorithms Want: Imagination in the Age of Computing, MIT Press, 2017
    MANOVICH, L. (2023). Seven Arguments about AI Images and Generative Media. In Artificial Aesthetics. http://manovich.net/index.php/projects/artificial-aesthetics-book
    PEÑA; Nonny de la, WEIL, Peggy, LLOBERA, Joan, GIANNOPOULOS, Elias, POMÉS, Ausiàs, SPANLANG, Bernhard, FRIEDMAN, Doron; SANCHEZ-VIVES, Maria V, SLATER, Mel; Immersive Journalism: Immersive Virtual Reality for the First-Person Experience of News. Presence: Teleoperators and Virtual Environments 2010; 19 (4): 291–301. doi: https://doi.org/10.1162/PRES_a_00005