Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Sayd Mansur (UFRJ)

Minicurrículo

    Sayd Mansur é produtor e realizador. Doutorando pela ECO/UFRJ e mestre em Artes pela UFF, teve graduação em Estudos de Mídia (UFF) e Cinema (Estácio de Sá). Dirigiu o curta-metragem documentário “Lacerda: O Corvo da Guanabara” (2017), sobre o jornalista, escritor e político Carlos Lacerda em co-produção com a FGV, obra selecionada para diversos festivais nacionais e internacionais, entre eles o 29ª KINOFORUM (2018), 13º Festival Visões Periféricas (2019) e no Los Angeles CineFest.

Ficha do Trabalho

Título

    (Re)montagens da História – Apropriações no Estado Novo de Vargas

Formato

    Presencial

Resumo

    Buscamos a partir de uma experiência teórico e prática, destacar os métodos de criação junto aos seus limites éticos diante da ressignificação de arquivos audiovisuais no cinema de compilação. Deste modo, utilizaremos parte do material produzido durante o Estado Novo (1937-1945) pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), a fim de problematizar o uso de arquivos públicos para reconstituição de novos pontos de vista sobre nossa História.

Resumo expandido

    Este debate incide na discussão sobre as práticas de reapropriação de imagens de arquivo, a partir de um exercício prático de montagem e uma reflexão teórica, com foco no arquivo dos cinejornais do Estado Novo. Para tanto, consideramos a contestação que sofrem as imagens técnicas por conta de sua natureza representacional, debate que tem confrontado pesquisadores com seus métodos de análise, assim como provoca inúmeros realizadores ao aprimoramento de suas operações de produção.

    Logo, o aprimoramento dos procedimentos que evidenciam os usos dessas imagens, enquanto índices que mobilizaram nossa História, se apresenta como um bom ponto de partida para observarmos as práticas que consolidaram certas representações sobre nossa memória, evidenciando suas contradições internas. Afinal, o projeto de âmbito nacional dos cinejornais procurava a adesão popular, evitando temas ou representações polêmicas, ilustrando apenas aquilo que pudesse confirmar a imagem do Estado promotor de justiça social e da harmonia entre as classes. Desenvolvendo seus temas em torno de símbolos como as festas cívicas em detrimento do folclore tradicional, a industrialização e sua maquinária como retrato do Estado desenvolvimentista, em oposição às representações dos trabalhadores, a partir de uma lógica que encontrava em Vargas a consolidação dos esforços da nação, pois seria ele o elemento capaz de dar sentido e corporificá-la.
    Este trabalho de reconfiguração das imagens e memórias do passado a que nos dedicamos, vai ao encontro do que Benjamin apontou como a conciliação de uma legibilidade das imagens do outrora consolidadas no agora. Deste modo, buscamos extrair desses cinejornais um “agora” que vêm ao mundo pela primeira vez, mas que mantém continuidade com aqueles instantes registrados no “outrora”.

    Deste modo, pensaremos os recursos de montagem para além de métodos no encadeamento de lógicas, aceitando o convite de Didi-Huberman para a desmontagem de imagens. Pois estas, quando arquivadas, permanecem repletas de lacunas, cabendo a nós um exercício crítico que se detenha diante da indagação sobre os sentidos já encerrados em si mesmos. Esta conjectura, é seguida ainda por outra ideia do autor francês, a de que a montagem seria não apenas o objeto do conhecimento histórico, mas também uma operação desse mesmo conhecimento.

    Por fim, não faremos distinções quanto às categorias de reciclagem num primeiro momento, não tanto por uma dificuldade em estabelecer limites, mas, em razão da permanente confluência que estes caminhos vêm mantendo nos últimos anos. Ou seja, não é raro encontrarmos filmes que montam imagens históricas, transformando esse material a partir de uma abordagem fabulatória. Assim como há obras feitas a partir de restos de filmes clássicos ou de imagens de filmes de família, apropriando-se delas de modo a refletir sobre um contexto político ou evento histórico.

    O que torna interessante este gesto de “reciclagem”, contudo, é colocar o próprio índice de realidade dessas imagens sob suspeita, longe da pretensão de revelar a natureza por detrás de uma imagem, empenhando-se por realçar parte das relações que seus realizadores pretenderam ocultar durante sua produção.

    Por fim, esta pesquisa propõe uma re-apresentação narrativa deste período, elaborada através de um exercício de montagem de imagens e sons de sua propaganda oficial, com o compromisso de produzir novas relações entre estes recursos arquivísticos e articulá-los com outros sentidos não originários, com a finalidade de conduzir uma reflexão crítica que põe em relação este passado com nosso presente.

Bibliografia

    BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018

    COMOLLI, Jean-Louis. Algumas notas em torno da montagem. Revista Devires, Belo Horizonte, vol. 4, n. 2, p. 12-41, jul./dez. 2007.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Remontar, remontagem (do tempo). Tradução de Milene Migliano. Belo Horizonte: Chão da Feira, 2016.

    LINS, Consuelo; REZENDE, Luiz Augusto; FRANÇA, Andréa. A noção de documento e a apropriação de imagens de arquivo no documentário ensaístico contemporâneo. Revista Galáxia, São Paulo, n. 21, jun. 2011.

    LISSOVSKY, Mauricio, JAGUARIBE, Beatriz. Imagem fotográfica e imaginário social: a invenção do olhar moderno na Era Vargas. (in) XV COMPÓS, 2005, Bauru, 2006.

    RODRIGUES, R. de Aquino Laécio. Práticas de ressignificação ou de violação dos arquivos?. E-Compós, 2021.

    WEES, William. Recycled images: The art and politics of found footage films. New York: 1993.