Ficha do Proponente
Proponente
- Luis Fernando Severo (UNESPAR)
Minicurrículo
- Doutor e Mestre em Comunicação em Linguagens – Linha de Pesquisa em Cinema e Audiovisual, pela Universidade Tuiuti do Paraná, com estágio doutoral na Universidade Aberta de Lisboa. É professor no Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná. Realizador de mais de 40 filmes como diretor, produtor, roteirista e montador, vencedores de diversos prêmios no Brasil e no exterior. Foi diretor do Museu da Imagem e do Som do Paraná.
Ficha do Trabalho
Título
- A direção de fotografia de Carlos Ebert na Trilogia do Esquecimento
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Formato
- Presencial
Resumo
- A obra de Carlos Ebert como diretor de fotografia e operador de câmera se estende por um período de seis décadas alcança um total de 82 filmes, tendo como um de seus marcos iniciais um dos filmes mais canônicos brasileiro, O Bandido da Luz Vermelha. No interior desse corpus fílmico um dos destaques é um conjunto de três filmes que Ebert fotografou para o cineasta paranaense Rodrigo Grota, e que formam a chamada Trilogia do Esquecimento.
Resumo expandido
- A obra de Carlos Ebert como diretor de fotografia e operador de câmera se estende por um período de seis décadas alcança um total de 82 filmes, tendo como um de seus marcos iniciais um dos filmes mais canônicos brasileiro, O Bandido da Luz Vermelha. No interior desse corpus fílmico um dos destaques é um conjunto de três filmes que Ebert fotografou para o cineasta paranaense Rodrigo Grota, e que formam a chamada Trilogia do Esquecimento.
Os premiadíssimos curtas-metragens Satori Uso (2007), Booker Pittman (2008) e Haruo Ohara (2010) são um misto de ficção e documentário de teor experimental, situando-se num espaço geográfico pouco explorado pelo cinema brasileiro, o Norte Pioneiro, região do Paraná cuja ocupação só vai se consolidar nas primeiras décadas do século 20. A trilogia versa sobre artistas em processo de criação numa região jovem demais para sedimentar raízes culturais e fundamentada num saber agrário pré-industrial, território onde o artista é antes de tudo um forasteiro.
Para dar conta da complexidade da abordagem estética proposta para os filmes, diretor e fotógrafo se uniram numa simbiose criativa que não é intermediada por roteiros a serem seguidos fielmente, mas por uma série de procedimentos que buscam aliar o rigor técnico com os acasos da volubilidade da luz. Realizados em preto e branc, os filmes evocam desde a fotografia expressionista clássica até a imagem naturalista sensível às variações da natureza desenvolvida por pioneiros do documentário. A câmera tanto pode se imobilizar em contemplação como se movimentar em direção à captura dos feixes luminosos, conduzindo narrativas de escassas palavras para um transbordamento de formas, volumes e contrastes, imergindo em vibrações evocadas pela alternância de luminâncias e obscuridades.
A admirável unidade imagética dos três filmes, que preserva suas individualidades ao mesmo tempo que os aproxima, também é obtida através de uma parceria que se repete neles com o diretor de arte José de Aguiar, cujo trabalho serve de amálgama para a consolidação dos propósitos de Ebert e Grota, construindo nos interiores das locações um universo cenográfico onde as formas humanas e seus trajes se integram com luzes naturais e artificiais, adensando o impacto sensorial que o diretor almeja acima do sentido racional de suas narrativas.
A exemplo do trabalho de Nestor Almendros nos filmes que fotografou para cineastas da Nouvelle Vague, Ebert reduz suas equipes ao mínimo indispensável e procura despir suas imagens dos artifícios típicos do sistema de estúdios. Tendo toda sua formação técnica fundamentada no cinema rodado em película e dominando como poucos seus processos laboratoriais, Carlos Ebert foi um dos primeiros diretores de fotografia do cinema brasileiro de sua geração a fazer uma transição bem sucedida para o cinema digital, buscando preservar nele os conhecimentos adquiridos em sua extensa carreira, ao mesmo tempo em que se lança numa empreitada exploratória visando expandir as possibilidades criativas das novas tecnologias.
Bibliografia
- ALMENDROS, Néstor. Días de una cámara. Barcelona: Seix Barral, 1980.
ARONOVICH, Ricardo. Expor Uma História: a fotografia do cinema. Rio de Janeiro: Gryphus, 2011.
AUMONT, Jacques. O olho interminável (cinema e pintura). São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
FREIRE, Miguel. O criador de imagens: a luz brasileira de Mario Carneiro. Curitiba: Kotter Editorial, 2018.
LIRA, Bertrand. Luz e sombra: significações imaginárias na fotografia do cinema expressionista alemão. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
MENDONÇA, Luiz. Fotografia e Cinema Moderno. Lisboa: Edições Colibri, 2017.
MOURA, Edgar. 50 Anos Luz: câmera e ação. São Paulo: Editora Senac, 1999.
OLIVEIRA, Rogério Luiz; TEDESCO, Marina Cavalcanti (Orgs.). Cinematografia, expressão e pensamento. Curitiba: Appris, 2019.