Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    VINICIOS KABRAL RIBEIRO (UFRJ)

Minicurrículo

    Professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Comunicação e Cultura, pela mesma instituição. Mestre em Cultura Visual e graduado em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, pela Universidade Federal de Goiás.

Ficha do Trabalho

Título

    Taras, sacanagens e subversões em três pornochanchadas brasileiras

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    Autêntico gênero nacional, a pornochanchada ainda se esforça para penetrar espaços na história do cinema brasileiro. Neste artigo serão analisados três filmes: Me deixa de quatro (Fauzi Mansur,1981), Kung Fu contra as bonecas (Adriano Stuart, 1975) e Novas Sacanagens do Viciado em C… (David Cardoso, 1985). A partir dos estudos de corpo, sexualidade e espectorialidade, objetiva-se, dentre outras questões, perceber o que há de cuir nestas obras.

Resumo expandido

    Autêntico gênero nacional, a pornochanchada ainda se esforça para penetrar espaços na história do cinema brasileiro. As taras, as sacanagens e as perversões brasileiras deram as mãos às críticas aos moralismos, aos conservadorismos e ao ambiente cultural que ensejava por liberdade e experimentação. O duplo sentido, o riso, a malícia e o absurdo povoaram telas faceiras, com platéias ansiosas pela excitação e pelos frenesis de corpos em coreografias sexuais. Se o gênero, apesar de altamente popular e rentável, era uma dissidência na cinematografia brasileira, quando olhamos com mais atenção é possível perceber como temas pouco discutidos no tecido social ganharam visibilidade e reflexão.
    Inimá Simões reforça que ‘‘um estudo mais pormenorizado da pornochanchada oferece com certeza elementos para conhecer alguns aspectos da nossa cultura (2000, p.72)’’ Talvez, aí, possamos revisitar as imaginações gestadas sobre corpos e práticas sexuais fora dos marcos da heterossexualidade e da cisgeneridade. O artigo propõe o desvio no desvio, a dissidência na boca do lixo e, sobretudo, como as noções de prazer e risco são apresentadas e encenadas. Para tanto serão analisados três filmes: Me deixa de quatro (Fauzi Mansur,1981), Kung Fu contra as bonecas (Adriano Stuart, 1975) e Novas Sacanagens do Viciado em C… (David Cardoso, 1985). A escolha destes três filmes, e analisá-los em proximidade, possibilita reavaliar a presença de existências em dissidência da heteronorma nestas obras e as suas atualidades para se pensar tanto o campo teórico quanto a produção contemporânea do cinema brasileiro.
    Para fundamentar teoricamente a discussão, apontaremos algumas relações entre os estudos de erotismo e pornografia, afinal “uma coisa é certa: seja pornografia ou erotismo, a característica essencial deste discurso é a sexualidade (Moraes e Lapeiz, 1984, p. 110)”.
    Assim, buscaremos uma contextualização sobre os estudos de gêneros e ‘cuir’ no campo do audiovisual e as metodologias de análises centradas no corpo e suas interseccionalidades, como nos trabalhos de Linda Williams (2014), Carol Vance (1989), Maria Elvira Benítez (2010) e Mariana Baltar (2023). A espectorialidade será considerada em suas nuances afetivas, em um cenário de pregnancia, onde as imagens da pornochanchada povoam nossos desejos, imaginações e que são impulsionadas pelas ideias de prazer, risco e subversão.
    Os filmes escolhidos para esta análise negociam, tensionam e atualizam questões ainda não resolvidas nos estudos de sexualidade, sobretudo quando pensamos em práticas subalternizadas e em dissidência. A “massa fílmica aqui proposta é, também, parafraseando Perlongher “a massa de gays que circula pelo centro da cidade (num circuito instável e difuso…) está em relações fatuais de contiguidade com as demais marginálias que instalam, no espaço urbano deteriorado, suas banquinhas: prostitutas, travestis, michês, malandros e todo tipo de lumpens (1986, p. 99)”.
    Ou seja, revisitar tais obras audiovisuais é acionar as contiguidades, fronteiras borradas e os corpos assentados nas telas, assim como as construções de suas imagens e imaginações.
    Finalmente, esperamos acrescentar algumas reflexões às questões que o campo de estudos do cinema e sua interface com as teorizações da pornografia possibilitam: o que a pornochanchada mobiliza em nossos corpos ? Como rever tais imagens e nos desvencilharmos dos apriorismos conceituais, das dicotomias e nos binarismos interpretativos ? O que as carnalidades incorporadas podem inspirar nas análises fílmicas e nas mobilizações teóricas que nos propomos aqui? Qual o espaço para o resíduo, a ambiguidade, a estilizacação de repertórios e as leituras reparativas (Sedgwick, 2020) destas obras (e de nossas relações com elas)? E, por fim : há algo cuir alí ?

Bibliografia

    BALTAR, M. Evidência invisível – BlowJob, vanguarda, documentário e pornografia. Revista FAMECOS, [S. l.], v. 18, n. 2, p. 469–489, 2011.
    DÍAZ-BENITEZ, María Elvira. Nas redes do sexo – os bastidores do pornô brasileiro Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
    MORAES, Eliane Robert; LAPEIZ, Sandra Maria. O Que é pornografia. São Paulo: Brasiliense, 1984.
    PERLONGHER, Néstor. 1986. Trottoir: A Territorialidade itinerante. Desvios, 5. São
    Paulo: Paz e Terra.
    SEDGWICK, Eve Kosofsky. Leitura paranoica e leitura reparadora, ou, você é tão paranoico que provavelmente pensa que este ensaio é sobre você. Remate de Males, Campinas, SP, v. 40, n. 1, p. 389–421, 2020.
    SIMOÕES, Inimá. O retrato do Brasil na pornochanchada. Revista Sinopse, Usp, v. 2 n. 4 (2000).
    VANCE, Carole. (org.) Placer y peligro: explorando la sexualidad femenina. Madrid, Revolución Madrid, 1989.
    WILLIAMS, Linda. Pornography, porno, porn: thoughts on a weedy field. Porn Studies, vol. 1, n°. 1-2, 2014, pp.24-40.