Ficha do Proponente
Proponente
- RODOLFO NONOSE IKEDA (UFBA/UFMS/PFC)
Minicurrículo
- Descendente de japoneses, criado no Pantanal-Fronteiriço, dirigiu ou produziu premiados filmes e séries, de curtas e médias metragens, como Moradas (Sesc), Nós,outros, Entremundos (DocTV-TV Cultura), e longas metragens, como Multiplicidades (TVE/MS), Olho Nu (de Joel Pizzini) e Cabeça à Prêmio (de Marco Ricca). Coordenou o MIS de MS e colaborou com diferentes coletivos, como Bigorna e Ascuri. Doutor em Cultura e Identidade / UFBA / UFMS. Gestor da Pantanal Film Commission.
Ficha do Trabalho
Título
- Matadores ao Redor de Bacuraus: Subversões e Alteridades no Cinema BR
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta pesquisa analisa a repetição de regimes discursivos da subalternidade pelo cinema
brasileiro contemporâneo nas décadas de 1990 e 2010, tendo como aporte teórico-crítico os
Estudos do Cinema Brasileiro, Culturais e Subalternos. Parte-se da ideia de que filmes como Os
Matadores (BRANT, 1997), O Som ao Redor (MENDONÇA, 2013) e Bacurau
(MENDONÇA e DORNELLES, 2019), (re)inventam as fronteiras e bordas do país, criando possibilidades de subversão dos discursos, poderes e estéticas dominantes.
Resumo expandido
- Nos anos 1990 e 2010, diversas subalternidades – condições de subordinação, seja de classe, gênero, etnia ou sob qualquer outra forma (GUHA apud BEVERLEY, 2014) – tomam grande parte das atenções no cinema brasileiro. As faces do povo e seus cenários se (re)vêm e
se (re)conhecem. Como documentos culturais, os filmes refletem faces
fragmentadas por marcas e feridas deixadas por acontecimentos históricos e políticos de um passado que insiste em retornar. Esta pesquisa repensa os discursos das subalternidades em três filmes significativos do cinema brasileiro contemporâneo e suas
relações com o contexto sócio histórico e as circunstâncias de produção, em uma perspectiva
pós-estruturalista, procurando refletir sobre como os filmes Os matadores, de Beto
Brant (1997), O som ao redor, de Kleber Mendonça (2013), e Bacurau (2019), de Kleber
Mendonça e Juliano Dornelles, subvertem os discursos dominantes, as relações de poder e os
mecanismos de subalternização instituídos. Na esteira de Matos (2009), podemos dizer
que é histórico que não há a existência de somente alguns tipos de condições de subordinação, mas várias, produzidas por relações que vão das pobrezas e das populações crescentes até as políticas de Estado e mercado, que muitas vezes criam as condições de subordinação para favorecer poucos em desfavor de muitos.
Na década de 1990, as relações entre a “consolidação da democracia”, os diversos
movimentos sociais e a criminalidade se tensionavam cada vez mais no país. Época da
chamada “retomada”, o cinema nacional voltava a se desenvolver paralelamente às novas
políticas públicas e privadas de produção e consumo. Considerado um dos primeiros
representantes dessa “retomada”, o filme Os matadores continua atual pelos temas (violência
e desigualdades sociais e culturais) e pelos recursos expressivos utilizados (conectados ao
heterogêneo cinema contemporâneo).
Ambientado em sua maioria na fronteira Brasil-Paraguai, o filme, com narrativa e
trilha sonora ágeis e fragmentadas, entrecortadas por flash-backs e com influências
hipertextuais de estilos, fases e gêneros cinematográficos nacionais e internacionais – como o
“Western” e o cinema norte-americano, o documentário, o Neo-Realismo italiano, o Cinema
Novo e o Cinema da Boca do Lixo –, conta a história de vida de assassinos profissionais de
origens diferentes (Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul) que habitam esta região e que,
enquanto aguardam a próxima vítima, expõem em seus diálogos e reflexões o presente e o
passado desta história que interliga a fronteira do país aos seus grandes centros urbanos, bem
como a criminalidade e a violência à defesa da propriedade, do poder do capital, dos
interesses políticos e da sobrevivência. O filme realiza uma discussão – e também uma
intervenção – sobre a conjuntura política contemporânea, mais especificamente, sobre a
estrutura social brasileira, estruturada pela violência contra o subalterno. Em 2013, no governo Dilma, e no ano em que aconteceram as famosas
ocupações, manifestações e jornadas pelo país, O som ao redor – um filme com elementos do suspense e do terror – expõe a vida em um bairro de classe média após a chegada de uma
milícia, que oferece o serviço de segurança particular aos seus moradores. Entrecortada por micronarrativas de classes e momentos históricos diferentes, o filme estabelece uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho, entre prédios, paredes, muros, grades, e relações de poder, que retornam do campo a cidade, do passado ao futuro (XAVIER, 2013). Em 2019, após as polêmicas eleições de Bolsonaro em 2018, e o notório desmanche
do cinema nacional, é lançado Bacurau, ambientado em um futuro recente, visível e palpável, tanto quanto o passado distópico que retorna e que depois torna a se subverter – pelas subalternidades múltiplas e entre as fronteiras do país, retomando riquezas de suas carências (NAGIB, 2006, 2002) como os cinemas de O Som ao Redor e Os Matadores.
Bibliografia
- BENTES, Ivana. Estéticas da violência no cinema. Interseções: Revista de Estudos
interdisciplinares, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UERJ. Rio de janeiro,
ano 5, n. 1, p. 217-237, 2003.
BEVERLEY, John. Tesis sobre subalternidad, representacion y política. In: OLIVEIRA,
Marynize Prates; PEREIRA, Maurício Matos do Santos; CARRASCOSA, Denise (org.).
Cartografias da Subalternidade: Diálogos no Eixo Sul-Sul. Salvador: EDUFBA, 2014, p.
35-77
MATOS, Maurício. Significações da violência no cinema brasileiro. Tese (Doutorado em
Estudos Multidisciplinares em Cultura e Sociedade) – Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade, Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador, 2009.
NAGIB, Lúcia. O Cinema da Retomada: Depoimentos de 90 Cineastas dos anos 90. Rio de Janeiro: Editora 34, 2002, 528 p.
XAVIER. O Cinema ao Redor. In: : Anais Digitais do XIX Encontro da Socine –
Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Campinas: Unicamp, 2015.