Ficha do Proponente
Proponente
- Laís Torres Rodrigues (UFF)
Minicurrículo
- Graduada em Imagem e Som pela UFSCar, produziu como trabalho de conclusão de curso a monografia “O melodrama e a política: Um estudo sobre a adaptação de ‘A Vida Invisível’ para o cinema”, investigando, sobretudo, o melodrama como ferramenta de adaptação e abordagens intermidiáticas da obra. Atualmente, é discente do PPGCine-UFF a nível de mestrado, onde desenvolve estudos sobre as intersecções entre cinema queer e imaginação melodramática no cinema de Karim Aïnouz.
Ficha do Trabalho
Título
- Reiterações melodramáticas no cinema de Karim Aïnouz
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a reiteração de elementos presentes na obra de longa-metragem ficcional de Karim Aïnouz, associando esse fenômeno ao conceito de imaginação melodramática proposto por Peter Brooks. Buscando criar interlocuções entre os seis longas estudados, a comunicação pretende discutir as circularidades presentes na obra de Aïnouz como um todo, a fim de aprofundar a associação do cineasta com o melodrama.
Resumo expandido
- Embora o tempo e a elasticidade de seu gênero permitam reapropriações das mais diversas, o melodrama carrega em sua estrutura mais primordial algumas características reconhecíveis e imunes a qualquer readaptação. Dentre elas, podemos citar as reiterações – narrativas e estéticas – que, na origem do melodrama, surgem como formas de se criar e sustentar o exagero das apresentações teatrais. No entanto, as reiterações observadas em derivações melodramáticas no cinema corroboram uma visão mais sutil de percepção do gênero por meio da ideia de imaginação melodramática, em que o melodrama se apresenta como um “sistema estético coerente” (Brooks, 1995) e não apenas como uma estrutura narrativa massificada e rígida. As observações acerca dos melodramas na contemporaneidade observam as obras por um viés mais amplo. Conforme entende Bragança (2007), “os estudos mais recentes sobre o melodrama não se detêm no desenvolvimento do gênero exclusivamente, mas procuram abordá-lo como um sistema ficcional de produção de sentido”. Assim, tentaremos observar, neste trabalho, a repetição de temas, imagens, sons e outros elementos não necessariamente como tentativa de exagero pretendido na origem e estrutura do gênero, mas como parte crucial para a produção de sentido na obra melodramática. Observando o escopo da obra de longa-metragem ficcional de Karim Aïnouz, podemos notar repetições de temas e estéticas. A princípio, podemos entender se tratar apenas de uma marca autoral proposta. No entanto, o olhar por uma perspectiva melodramática expande as possibilidades de interpretação desses símbolos.
Por meio de recursos oriundos da análise fílmica, o trabalho pretende demonstrar como esses símbolos são utilizados na construção de um imaginário que se expande para além do corpo do filme e estabelece um diálogo entre duas obras ou mais. Pretende-se, com isso, observar uma coerência estético-narrativa na obra de Aïnouz associada ao imaginário melodramático. Os filmes analisados e postos em diálogo são Madame Satã (2002), O Céu de Suely (2006), Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), O Abismo Prateado (2013), Praia do Futuro (2014) e A Vida Invisível (2019).
Podemos notar nessas inter-relações, a princípio, o elemento do mar, observado sob o ponto de vista estético, narrativo e também como uma ideia que paira sobre a obra como um todo. Em O Abismo Prateado, Viajo porque preciso, volto porque te amo, Praia do Futuro e A Vida Invisível, o mar é apresentado no filme como uma possibilidade de libertação, se apresentando aos personagens nas mais diferentes formas. A reiteração desse elemento não se apresenta apenas como intra fílmica, repetida dentro de cada filme individualmente, mas também apresenta uma circularidade na filmografia como um todo: não é só o mar em si que é repetido, mas a sua significação. A canção popular como mote narrativo – elemento comumente utilizado em narrativas melodramáticas – pode ser observada também em Madame Satã, O Abismo Prateado, Praia do Futuro e A Vida Invisível, conforme pretendemos demonstrar. Mergulhando nessa observação de elementos reiterados e estabelecendo múltiplos diálogos entre os filmes, espera-se encontrar novas significações possíveis entre esses elementos quando vistos pela lente da imaginação melodramática.
Bibliografia
- AUMONT, J. ; MARIE, M. A Análise do Filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.
BALTAR, M. Realidade Lacrimosa: o melodramático no documentário brasileiro contemporâneo. Niterói, Eduff, 2019
BRAGANÇA, M. Melodrama: notas sobre a tradição/tradução de uma linguagem revisitada. ECO-PÓS, v.10, n.2, 2007, p. 29-47.
BROOKS, P. The Melodramatic Imagination: Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. New Haven/ London, Yale University Press, 1995.
HUPPES, I. Melodrama – o gênero e sua permanência. Cotia: Ateliê Editorial, 2000.
MAIA, G.; ASEVEDO, E. Música, afeto e política dos corpos no New Queer Cinema de Karim Aïnouz. RuMoRes, v. 14, n. 27, p. 98–123, 16 jul. 2020.
SOARES, L.; FISCHER, S. Mares e Aquários: águas do deslugar no cinema de Karim Aïnouz. Significação, v. 50, p. 1–26, 28 dez. 2023.
VAZ, A. As paisagens do filme o Abismo Prateado (Karim Aïnouz; 2013). Domínios da Imagem, v. 10, n. 19, p. 156–156, 22 dez. 2016.