Ficha do Proponente
Proponente
- Marcelo Rodrigo Mingoti Müller (UNIFOR)
Minicurrículo
- Professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza e no Programa de Pós Graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará. Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/ USP(2016). Formado pelo Curso Regular da EICTV (Cuba, 2001) e na Graduação em Cinema e Vídeo da ECA/USP (2003). Diretor de “Eu te Levo” (2017). Co-roteirista de “Infância Clandestina” (Benjamin Ávila, 2012), “O Outro Lado do Paraíso” (André Ristum, 2014), entre outros longa-metragens e séries.
Ficha do Trabalho
Título
- Rabiscos para uma poética da mise en scène em realidade virtual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este estudo investiga a construção da mise en scène na adaptação para a realidade virtual do texto teatral “Agreste – Malva Rosa”, de Newton Moreno. Concentra-se em aspectos da virtualidade que distinguem sua mise en scène, como a incorporação e manipulação de avatares, as especificidades da criação de espaços virtuais ficcionais e as interações entre corpos e avatares, articulando estratégias holísticas da criação com diálogos com autores do cinema, teatro e realidade virtual.
Resumo expandido
- Desde a criação dos primeiros mundos virtuais, artistas e público, mediados por avatares, têm utilizado estes espaços para a realização de obras artísticas. Damer destaca o que poderia ser considerada a primeira leitura de poesia realizada por um avatar em 1998, no Mix it UP! Avatar Party in Digital Space (2008, p. 99), um marco seguido por diversas iniciativas, incluindo a notável leitura de Lawrence Lessig de seu livro Free Culture no Second Life em 2006, mencionada por autores como Coleman (2011) e Murray (2003). Atualmente observamos uma vasta gama de eventos artísticos que investigam as possibilidades cênicas da virtualidade. Mas embora muitos autores registrem e discutam essas obras, raramente os trabalhos abordam seu processo de criação. Por isso, pretendemos rabiscar caminhos para uma poética da mise en scène em realidade virtual de forma simultânea e complementar à realização de uma obra para este meio, mesmo sem saber exatamente se estamos realizando uma peça de teatro virtual, uma animação ao vivo, um machinima em 360 graus ou uma mistura ainda indefinida destas formas.
O objeto deste estudo é a adaptação do texto teatral de Newton Moreno, Agreste – Malva Rosa, que iniciei no segundo semestre de 2023, mas ainda não tem previsão de quando será apresentada ao público. Um dos motivos da escolha desta obra é a síntese do texto original, em que uma única personagem, a Contadora de Histórias, que narra a tragédia de Maria e Etevaldo, de sua fuga para viver o amor ao castigo de Maria pela intolerância e o preconceito de seus vizinhos.
À primeira vista, o processo virtual pode ser organizado de maneira análoga ao processo da mise en scène no cinema ou no teatro: uma equipe especializada irá preparar o cenário e os avatares que representam os corpos dos personagens e do público, assim como os demais elementos virtuais, antes ou de forma simultânea ao processo de construção da personagem e da encenação com a atriz. Porém, ao avançar com a realização, as especificidades do ambiente virtual levantam inúmeras questões: – Como construir uma relação entre o corpo real da atriz com seu corpo virtual a ponto de que a sua verdade cênica possa ser sentida na virtualidade? – De que forma o espaço virtual pode transformar-se em um cenário vivo que fortaleça a síntese explosiva do relato, integrando e organizando a presença dos corpos dos personagens e do público? Como cada uma das pessoas do público, incorporada a avatares semelhantes aos dos personagens, participa no desenvolvimento da história, interage entre sí, com a Contadora e com os objetos do cenário?
A partir de questionamentos como esses, nossa busca por uma poética da mise en scène em realidade virtual terá três eixos principais: 1- a criação, incorporação e manipulação de corpos virtuais que sejam sentidos como personagens vivos pelo espectador; 2- a criação cenários que propiciem presença virtual em um ambiente ficcional resultante de um projeto de direção de arte capaz de sintetizar as questões dramáticas da obra; e 3- que as interações entre as pessoas imersas no ambiente contribuam para a experiência ficcional, encontrando um equilíbrio entre as características interativas do meio e a forma original do texto de síntese dramática em uma narrativa linear. Para lidar com estas questões, a heurística será acompanhada pelo diálogo com autores de diversas áreas, que vão das ferramentas de análise da cena propostas por Judith Weston (2003) e Eisenstein (Bordwell 2008, p. 40) às características da realidade virtual (Bailenson, 2018) e da imersão (Grau 2003), passando pelos métodos clássicos da preparação do personagem pelos atores (D´Agostini 2019) às experiências de atores e grupos de teatro contemporâneo presentes em textos e vídeos disponíveis na internet (Bradley 2020, Reis 2022). A perspectiva é a de um caminho incerto porém permeado de descobertas.
Bibliografia
- BRADLEY, J. Making Theater in Virtual Reality. 2020. Disponível em: https://youtu.be/9AH6nmpYSkE. Acesso em: 23 abr. 2023.
COLEMAN, B. Hello Avatar: Rise of the Networked Generation. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 2011
D’AGOSTINI, Nair. Stanislavski e o método de análise ativa: A criação do diretor e do ator. São Paulo: Perspectiva, 2019.
DAMER, B. Meeting in the Ether: A brief history of virtual worlds as a medium for user-created events. Artifact, v. II, n. 2, 2008.
MURRAY, Janet H. Hamlet no Holodeck: O Futuro da Narrativa no Ciberespaço. São Paulo: Itaú Cultural e Editora Unesp, 2003.
REIS. Theatricalizing the metaverse through VR. The Writing Platform, 2022. Disponível em: https://shorturl.at/fnyV0. Acesso em: 26 abr. 2023.
SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. São Paulo: Horizonte, 2006
WESTON, Judith. The Film Director’s Intuition: Script Analysis and Rehearsal Techniques. Studio City, CA: Michael Wiese Productions, 2003.