Ficha do Proponente
Proponente
- THAIS OLIVEIRA DUARTE (UFRJ)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA-UFRJ). Possui graduação em Comunicação Social – Rádio e TV (ECO – UFRJ). Atua com produção executiva de projetos de cinema e audiovisual em diálogo com outras linguagens artísticas e pesquisa o cinema brasileiro e seus atravessamentos na atualidade.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema da Filmes de Plástico: imaginários da periferia
Formato
- Presencial
Resumo
- Tomando a filmografia da produtora Filmes de Plástico como fio condutor da análise, o presente trabalho tem como proposta a reflexão acerca do imaginário construído sobre Contagem e as pessoas que vivem e circulam por essa região. De forma ampla, busca-se a discussão acerca da potencialidade das imagens enquanto propulsoras de imaginários sobre a periferia, partindo da aproximação com a antropologia e pela ideia do cinema enquanto força contrária a concepções unificadoras
Resumo expandido
- Formada pelos realizadores André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurílio Martins e pelo produtor Thiago Macêdo Correia, em mais de dez anos de atuação, a Filmes de Plástico vem ganhando cada vez mais destaque no cinema brasileiro contemporâneo. Dentre seus filmes, é possível destacar “Ela Volta na Quinta” (André Novais, 2014), “Temporada” (André Novais, 2018), “No Coração do Mundo” (Gabriel Martins e Maurílio Martins, 2019) e “Marte Um” (Maurílio Martins, 2022). A produtora surge em 2009, momento em que se pode observar uma mudança significativa ao se produzir e pensar imagens. Imagens situadas em olhos, corpos, culturas e concepções estéticas que trazem novas e potentes perspectivas às obras cinematográficas e mundos por elas imaginados. Essa mudança pode ser entendida a partir de uma série de fatores, dentre eles, um maior acesso às universidades, o fortalecimento das políticas públicas e a disseminação dos formatos digitais, permitindo a realização de obras de forma mais rápida e barata e a formação de novas redes e circuitos de exibição.
Tomando a filmografia da produtora como fio condutor da análise, o presente trabalho tem como proposta a reflexão acerca do imaginário construído pela Filmes de Plástico sobre Contagem e as pessoas que vivem e circulam por essa região. De forma ampla, busca-se a discussão acerca da potencialidade das imagens enquanto propulsoras de imaginários sobre a periferia. Para tal reflexão, parte-se da ideia de que assim como os filmes podem reforçar concepções comumente estabelecidas em uma sociedade, eles também podem aprofundar e desestabilizar imaginários. Compartilha-se a concepção de Gonçalves (2016) ao refletir sobre a capacidade da antropologia, especificamente da etnografia, de oferecer, por meio da experiência da imagem, uma “contraimagem”, colocando em discussão a crença de sua universalidade. Como destaca, “do ponto de vista da etnografia, a imagem é apreendida de modo que revele que, desde que a imagem é imagem, ela é sempre situada num olho, num corpo, numa cultura, numa concepção estética (GONÇALVES; 2016, p.20). A etnografia revela que se há uma mecanicidade na máquina, há também um sujeito que a opera – um corpo, um olhar, uma perspectiva.
Partindo desse argumento, uma hipótese é de que a cinematografia contemporânea na qual o cinema da Filmes de Plástico está inserida, pode ser pensada tomando como base as reflexões de Pierre Clastres (2020) a partir do pensamento Guarani sobre a recusa à unidade/força unificadora do Estado. Essa ideia dialoga com a noção da existência de uma “estética da resistência”, proposta por Shohat e Stam (2006), que tem como característica a coexistência de discursos, formas, contradições e dissonâncias. Interessa também a reflexão de Clastres (2004) em torno da relação dessas sociedades com a guerra, especficamente a ideia dessas sociedades como “máquinas de guerra”, sendo constituídas a partir de uma força centrífuga, de dispersão, em contraposição a força centrípeta do Estado. Discute-se também o conceito de “máquinas de guerra” a partir de Deleuze e Guatarri (2008), pensando o cinema como uma máquina de guerra potencial.
Ao criar mundos, indivíduos também criam eles próprios suas perspectivas sobre este mundo. Nesse sentido, a realidade sociocultural também pode ser entendida por meio das narrativas e histórias contadas sobre ela e por meio das quais ela representa/apresenta essa realidade. Mesmo que as estratégias narrativas sejam inconscientes, é sempre necessária a reflexão sobre a percepção de como representamos, enquadramos, ficcionalizamos e produzimos essa histórias. A própria produção de imagens por diferentes culturas pode afetar o cânone estabelecido para se conceituar cinema, arte ou imagem. Talvez, a potência do cinema, estaria não na contraposição pura e simples de uma determinada visão de mundo, mas, sim, exatamente a possibilidade de expor contradições, tornando “visíveis e audíveis as ‘rachaduras'” (MINH-HA, 2015, p.56).
Bibliografia
- GONÇALVES, M. A. Imagem e experiência. In BARBOSA, A. [et al.] A Experiência da Imagem na etnografia. São Paulo: Terceiro Nome. 2016.
CLASTRES, P. A sociedade contra o estado. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
CLASTRES, P. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
SHOHAT, E; STAM, R. Crítica da imagem eurocêntrica: multiculturalismo e representação. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
MINH-HÁ, T. T. Questões de imagem e política. In: O Cinema de Trinh T. Minh-há. MAIA, C.; FLORES, L. F. Rio de Janeiro: Caixa Cultural. 2015, p. 51-59. Catálogo de Mostra.
DELEUZE, G.; GUATARRI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, Vol. 2. S.o Paulo: Editora 34, 2008.