Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Diego Paleólogo Assunção (UERJ)

Minicurrículo

    Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor-pesquisador do PPGCOM/UERJ. Pesquisa nas seguintes áreas: narrativas de terror e horror a partir de perspectivas sexo-políticas; cultura pop, produção de sentido e processos de subjetividades; corpos e espectatorialidades; fotografia, imagem estática e em movimento, hibridismos e monstruosidades; novas tecnologias, efeitos e afetos do neoliberalismo; apocalipses, distopias e fins do mundo.

Ficha do Trabalho

Título

    Por onde andam meus fantasmas? Fantasmagorias e sobrevivências.

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    “Por onde andam meus fantasmas? ” é uma provocação. Nas ruínas da representação, das metáforas e alegorias no audiovisual, especular sobre o estatuto de uma possível e fugidia fantasmagoria /queer/ em um certo cinema de horror. Principais aportes teóricos: Jack Halberstam, Paul Preciado, Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Carol J. Clover, entre outras entidades que se manifestam nessas sessões. Trata-se da continuidade de elaborações que vinculam as pesquisas acadêmicas às experiências pessoais.

Resumo expandido

    Isso exige cuidado, talvez delicadeza. Fantasmas possuem uma (i)materialidade ambígua, confusa, não fixa. Fantasmas, fantasias, fantasme. Lacan, Laplanche, Freud. A literatura gótica do século XIX é um desfile de monstros, fantasmas, vampiros… operando no limiar das repressões e opressões que regulavam (e ainda regulam) as sexualidades e desejos. Essa literatura, carregada, energizada por uma eletricidade queer, é ainda repositório para o audiovisual contemporâneo. É no encontro entre fantasmas, monstruosidades, desejos, excessos e desordens que busco a energia para essa proposta. A ponte entre artefatos audiovisuais produzidos nas décadas de oitenta e noventa do século XX (momento no qual, como apresentei em 2023, estava me descobrindo gay e saindo do armário) e suas constantes revisitas, reboots, continuidades na segunda década do século XXI. Essa ponte, assombrada e em ruínas, é um pensamento sobre temporalidades. A questão “por onde andam nossos fantasmas?” tem por objetivo uma cartografia afetiva de filmes de terror (expandido) que se tornaram franquias, como Pânico, Halloween, O Massacre da Serra Elétrica, observando os arcos de personagens que sobreviveram às décadas (e aos monstros) de oitenta e noventa. Essas personagens, muitas vezes sob o guarda-chuva do termo final girl (CLOVER), produzem vínculos com a comunidade LGBTQIA+ por resistirem, lutarem contra e sobreviverem a todos os investimentos violentos contra suas vidas. É nesse emaranhado ficção/realidade que questões de afeto, espectatorialidade, corpo, subjetividade emergem: o cinema como uma prótese afetiva.
    A percepção de uma mudança de identificação também se apresenta: qual seria, hoje, o estatuto das identificações? Nas décadas finais do século XX, a final girl poderia ser um duplo das identidades constantemente sob ameaça. Como o criador da franquia Pânico, Kevin Williamson, relata em entrevista ao The Independent, em 2021: “As a gay kid, I related to the final girl and to her struggle because it’s what one has to do to survive as a young gay kid, too. You’re watching this girl survive the night and survive the trauma she’s enduring. Subconsciously, I think the Scream movies are coded in gay survival.”
    No século XXI, principalmente no audiovisual do gênero de terror/horror, esse lugar não está mais tão certo. Babadook (Jennifer Kent, 2014), por exemplo, teve sua criatura alçada a ícone LGBTQIA+. Os contornos e as fronteiras estão borrados. O que acontece, então, quando essas linhas de tempo, de personagens ficcionais e experiências reais, se cruzam e se dilatam no tempo?
    Fantasma tangencia as questões da própria imagem, das infiltrações, do desejo, do assombro; fantasmas se manifestam, não raramente, para quem quer/pode ver. A partir das estratégias de queer coding, celluloid closet, flaming classics (Vito Russo, Alexander Doty), é objetivo dessa proposta, que venho costurando nos últimos encontros da SOCINE, cartografar as proximidades, as distâncias e as mutações dessas fantasmagorias.
    Na contemporaneidade, a emergência de personagens (até protagonistas) gays, lésbicas, trans, como em They/Them (John Logan, 2022), Swallowed (Carter Smith, 2022), As Boas Maneiras (Juliana Rojas, Marco Dutra, 2018), inicia a formação de novos territórios a serem percorridos, infiltrados, assombrados.
    Os aportes teóricos são plurais: Jack Halberstam, Paul Preciado, Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Carol J. Clover, Deleuze, Shaviro, David Skall, Nina Auerbach, entre outras entidades que se manifestam nessas sessões. Trata-se da continuidade – de uma franquia? – de elaborações que vinculam as pesquisas acadêmicas às minhas experiências pessoais.

Bibliografia

    BOTTING, Fred. Gothic (1996). London: Routledge, 2005.
    BUCK-MORSS, Susan. A tela do cinema como prótese de percepção. Desterro. Cultura e Barbárie, 2009.
    CLOVER, J. Carol. Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film: Gender in the Modern Horror Film.
    EDELMAN, LEE. NO FUTURE * Queer Theory and the Death Drive * Duke University Press * Durham and London * 2004
    FREEMAN, Elizabeth. TIME BINDS: Queer Temporalities, Queer Histories. Duke University Press, Durham and London 2010.
    HUGHES, William; SMITH, Andrew Lloyd. Queering the Gothic. Manchester: Manchester University Press, 2009.
    Lazzarato, Maurizio. Videophilosophy : the perception of time in post- Fordism. New York : Columbia University Press, 2019.
    DOTY, Alexandre. Flaming Classics: queering the film canon. Routledge; 1ª edição (8 maio 2000)
    SEDGWICK, Eve Kosofsky. Between Men: English Literature and Male Homosexual Desire (1985). New York: Columbia University Press, 2015.