Ficha do Proponente
Proponente
- Diego Paleólogo Assunção (UERJ)
Minicurrículo
- Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor-pesquisador do PPGCOM/UERJ. Pesquisa nas seguintes áreas: narrativas de terror e horror a partir de perspectivas sexo-políticas; cultura pop, produção de sentido e processos de subjetividades; corpos e espectatorialidades; fotografia, imagem estática e em movimento, hibridismos e monstruosidades; novas tecnologias, efeitos e afetos do neoliberalismo; apocalipses, distopias e fins do mundo.
Ficha do Trabalho
Título
- Por onde andam meus fantasmas? Fantasmagorias e sobrevivências.
Seminário
- Tenda Cuir
Formato
- Presencial
Resumo
- “Por onde andam meus fantasmas? ” é uma provocação. Nas ruínas da representação, das metáforas e alegorias no audiovisual, especular sobre o estatuto de uma possível e fugidia fantasmagoria /queer/ em um certo cinema de horror. Principais aportes teóricos: Jack Halberstam, Paul Preciado, Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Carol J. Clover, entre outras entidades que se manifestam nessas sessões. Trata-se da continuidade de elaborações que vinculam as pesquisas acadêmicas às experiências pessoais.
Resumo expandido
- Isso exige cuidado, talvez delicadeza. Fantasmas possuem uma (i)materialidade ambígua, confusa, não fixa. Fantasmas, fantasias, fantasme. Lacan, Laplanche, Freud. A literatura gótica do século XIX é um desfile de monstros, fantasmas, vampiros… operando no limiar das repressões e opressões que regulavam (e ainda regulam) as sexualidades e desejos. Essa literatura, carregada, energizada por uma eletricidade queer, é ainda repositório para o audiovisual contemporâneo. É no encontro entre fantasmas, monstruosidades, desejos, excessos e desordens que busco a energia para essa proposta. A ponte entre artefatos audiovisuais produzidos nas décadas de oitenta e noventa do século XX (momento no qual, como apresentei em 2023, estava me descobrindo gay e saindo do armário) e suas constantes revisitas, reboots, continuidades na segunda década do século XXI. Essa ponte, assombrada e em ruínas, é um pensamento sobre temporalidades. A questão “por onde andam nossos fantasmas?” tem por objetivo uma cartografia afetiva de filmes de terror (expandido) que se tornaram franquias, como Pânico, Halloween, O Massacre da Serra Elétrica, observando os arcos de personagens que sobreviveram às décadas (e aos monstros) de oitenta e noventa. Essas personagens, muitas vezes sob o guarda-chuva do termo final girl (CLOVER), produzem vínculos com a comunidade LGBTQIA+ por resistirem, lutarem contra e sobreviverem a todos os investimentos violentos contra suas vidas. É nesse emaranhado ficção/realidade que questões de afeto, espectatorialidade, corpo, subjetividade emergem: o cinema como uma prótese afetiva.
A percepção de uma mudança de identificação também se apresenta: qual seria, hoje, o estatuto das identificações? Nas décadas finais do século XX, a final girl poderia ser um duplo das identidades constantemente sob ameaça. Como o criador da franquia Pânico, Kevin Williamson, relata em entrevista ao The Independent, em 2021: “As a gay kid, I related to the final girl and to her struggle because it’s what one has to do to survive as a young gay kid, too. You’re watching this girl survive the night and survive the trauma she’s enduring. Subconsciously, I think the Scream movies are coded in gay survival.”
No século XXI, principalmente no audiovisual do gênero de terror/horror, esse lugar não está mais tão certo. Babadook (Jennifer Kent, 2014), por exemplo, teve sua criatura alçada a ícone LGBTQIA+. Os contornos e as fronteiras estão borrados. O que acontece, então, quando essas linhas de tempo, de personagens ficcionais e experiências reais, se cruzam e se dilatam no tempo?
Fantasma tangencia as questões da própria imagem, das infiltrações, do desejo, do assombro; fantasmas se manifestam, não raramente, para quem quer/pode ver. A partir das estratégias de queer coding, celluloid closet, flaming classics (Vito Russo, Alexander Doty), é objetivo dessa proposta, que venho costurando nos últimos encontros da SOCINE, cartografar as proximidades, as distâncias e as mutações dessas fantasmagorias.
Na contemporaneidade, a emergência de personagens (até protagonistas) gays, lésbicas, trans, como em They/Them (John Logan, 2022), Swallowed (Carter Smith, 2022), As Boas Maneiras (Juliana Rojas, Marco Dutra, 2018), inicia a formação de novos territórios a serem percorridos, infiltrados, assombrados.
Os aportes teóricos são plurais: Jack Halberstam, Paul Preciado, Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Carol J. Clover, Deleuze, Shaviro, David Skall, Nina Auerbach, entre outras entidades que se manifestam nessas sessões. Trata-se da continuidade – de uma franquia? – de elaborações que vinculam as pesquisas acadêmicas às minhas experiências pessoais.
Bibliografia
- BOTTING, Fred. Gothic (1996). London: Routledge, 2005.
BUCK-MORSS, Susan. A tela do cinema como prótese de percepção. Desterro. Cultura e Barbárie, 2009.
CLOVER, J. Carol. Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film: Gender in the Modern Horror Film.
EDELMAN, LEE. NO FUTURE * Queer Theory and the Death Drive * Duke University Press * Durham and London * 2004
FREEMAN, Elizabeth. TIME BINDS: Queer Temporalities, Queer Histories. Duke University Press, Durham and London 2010.
HUGHES, William; SMITH, Andrew Lloyd. Queering the Gothic. Manchester: Manchester University Press, 2009.
Lazzarato, Maurizio. Videophilosophy : the perception of time in post- Fordism. New York : Columbia University Press, 2019.
DOTY, Alexandre. Flaming Classics: queering the film canon. Routledge; 1ª edição (8 maio 2000)
SEDGWICK, Eve Kosofsky. Between Men: English Literature and Male Homosexual Desire (1985). New York: Columbia University Press, 2015.