Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ (ESPM – Rio)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO (2022). Mestra em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2014). É professora na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio), no curso de Cinema e Audiovisual. Atua com os seguintes temas da pesquisa: cinema e audiovisual; literatura; memória; intertextualidades; e produção audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Relações intertextuais entre Frankenstein e Pobres Criaturas

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho surge de uma inquietação que é parcialmente produzida pela pesquisa desenvolvida na minha tese de doutorado intitulada Adaptação literária na cultura da convergência: Clássicos e memória cultural, defendida em 2022, e renovada pelo encontro com o filme Pobres Criaturas (2023) dirigido por Yorgos Lanthimos e adaptado de um romance homônimo, publicado em 1992 e escrito por Alasdair Gray em um processo intertextual com a obra Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley.

Resumo expandido

    Este trabalho surge de uma inquietação que é parcialmente produzida pela pesquisa desenvolvida na minha tese de doutorado intitulada Adaptação literária na cultura da convergência: Clássicos e memória cultural, defendida em 2022, e renovada pelo encontro com o filme Pobres Criaturas (2023) dirigido por Yorgos Lanthimos e adaptado de um romance homônimo, publicado em 1992 e escrito por Alasdair Gray em um processo intertextual com a obra Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley.
    Nosso objetivo é analisar as permanências da obra de Shelley no cenário cultural contemporâneo a partir do reencontro adaptativo e intertextual produzido tanto pelo livro quanto pelo filme, considerando o imaginário da obra de Shelley e as suas leituras/interpretações que atravessam novos contextos de produção e recepção.
    Em Um teto todo seu (1929) Virginia Woolf questiona o que é materialmente necessário para que mulheres possam ter a liberdade de produzir criativamente, de ficcionalizar, de escrever. Ao fazê-lo, Woolf transita pela história da literatura inglesa e convoca a memória de mulheres que vieram antes, que esgarçaram limites para os ampliar e, dessa forma, criaram espaço para outras mulheres, reais e ficcionais. Woolf inclui em seu ensaio autoras como Charlotte e Emily Brontë, Jane Austen, Elizabeth Gaskell e George Elliot. Mulheres que criaram as circunstâncias, em seus mundos, para existir e para exercer (mesmo que parcialmente) seus desejos, escrevendo sobre personagens femininas, elas também, em busca de lugares a ocupar e de onde transbordar. As perguntas levantadas por Woolf seguem ressoando: que mulheres podem escrever? Que mulheres podem e conseguem produzir as condições necessárias para que sua existência se aproxime dos seus desejos? Quais são as existências que se inscrevem em um imaginário cultural e social do que é possível para essas mulheres?
    Em uma construção intertextual com Frankenstein, Pobres criaturas conta a história de Bela Baxter, uma mulher criatura, ao mesmo tempo mãe e filha, fruto de um experimento realizado por Dr. Goodwin Baxter, cientista, criador e, ele mesmo, criatura forjada nas mãos cruéis de seu pai. Bela se desenvolve protegida e escondida do mundo externo e, aos poucos, percebe que não está satisfeita em (somente) existir. Ela tenciona essa existência a todo tempo com o seu desejo de ocupar um outro lugar no mundo que tem que ser criado, galgado, esgarçado. A protagonista de Pobres Criaturas nos faz refletir sobre a própria existência da mulher, sua construção enquanto ser social e seus desejos em processo de amadurecimento. Pessoa que, ao mesmo tempo, ocupa um corpo de adulta e a consciência de criança, aprendendo a fazer uso do seu corpo, do seu intelecto, dos seus afetos e das suas subjetividades. No tempo que ela demanda para aprender sobre esse corpo, os homens que a cercam exercitam suas condições de poder, de dissimulação e de uso. Bela esbarra com uma masculinidade que, quando confrontada com o real dessa mulher, se torna mais monstruosa que os animais híbridos que povoam a realidade imaginada e concretizada pela figura do cientista. Nessas tensões, Bela amadurece, busca sua autonomia e desafia os lugares que estavam disponíveis para ela: ela escapa, foge, transborda, não cabe.
    De acordo com Serena Guarracino: “Os ecos de Frankenstein são perceptíveis em diversas questões fundamentais que estão relacionadas com estudos feministas e queer dos dias de hoje.” (Guarancino, 2023, p.33) Neste trabalho, portanto, temos a intenção de gerar um primeiro encontro com esse objeto, transitando pelos fios que podem ser traçados entre os campos da produção de sentido do feminino – autoras e personagens – nos seus processos de construção subjetiva e concreta de mundos possíveis e nas rendas que são tecidas nos seus significados, embrenhados e compartilhados por essas existências.

Bibliografia

    COOPER, Lynette Ott. Mythic Lives of Austen, Shelley, and the Brontes in Biography, Literature and Film. 2023. Tese de Doutorado.
    CURTI, Lidia. Female stories, female bodies: narrative, identity and representation. Bloomsbury Publishing, 1998.
    GRBI, Doria. Echoes of Frankenstein in Aladair Gray’s Poor Things. 2019. Tese de Doutorado. University of Rijeka. Faculty of Humanities and Social Sciences.
    GUARANCINO, S. (2023). L’”orrenda progenie” di Lidia Curti: madri mostruose e corpi trasgressivi. De Genere – Rivista Di Studi Letterari, Postcoloniali E Di Genere, (9).
    FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain de. Literatura e cinema: interseções. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, p. 13-26, 2011.
    SHELLEY, Mary. Frankenstein ou o Prometeu moderno. Trad. Adriana Lisboa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
    WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Antofágica, 2022.