Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Thais Brito da Silva (UFOB)

Minicurrículo

    Thaís Brito é Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal da Bahia. Como curadora, participou da Mostra Ameríndia: Percursos do Cinema Indígena no Brasil (DocLisboa/Portugal), Mostra Amotara – Olhares das Mulheres Indígenas, Mostra de Cinema Indígena da Aldeia Multiétnica e do acervo audiovisual da Anaí. Foi Júri do Festival Panorama Int. Coisa de Cinema e do Prêmio TAL – Television America Latina. É diretora do Festival Internacional de Cinema Indígena Cine Kurumin.

Ficha do Trabalho

Título

    Projeções e imaginários: a circulação de filmes indígenas em festivais

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Um olhar para o cinema brasileiro a partir da circulação de filmes indígenas nos festivais de cinema no Brasil é o que propõe essa análise. Compartilho do pensamento do artista Macuxi, Jaider Esbell, sobre a arte indígena contemporânea como “uma armadilha” ou “um feitiço” “Não é um quadro, flecha ou cerâmica; é um feitiço para falar de um assunto sério que é a urgência ecológica”. Que imaginários, então, circulam com os filmes indígenas nos festivais de cinema no Brasil?

Resumo expandido

    Em sentido amplo, o cinema indígena marca no cinema brasileiro o momento em que há uma multiplicidade de sujeitos históricos a realizar filmes, quando a emergência de novos sujeitos de cinema e novas práticas cinematográficas ligadas às lutas por visibilidade acontece (Cesar, 2017). Todos esses “outros” que apareciam até então no cinema como alteridade — indígenas, mulheres e negros são os mais expressivos — tomam para si a perspectiva sobre seu próprio universo e encaram o olhar que antes os olhava, como destaca André Brasil (2012: 103) escrevendo sobre os povos indígenas que sempre foram “objeto do olhar” e passaram a encarar, “firmemente, o olhar de que era objeto”. São os índios que enquadram o “olhar do branco” e revelam não só a sua dimensão histórica, mas sua presença real no mundo de hoje (Caixeta de Queiroz, 2008).

    Nos últimos anos, há uma proliferação da produção de cinema indígena, com uma filmografia vasta ligada às demandas de diversos povos, tanto vinda dos cineastas formados pelo Vídeo nas Aldeias como realizada por coletivos de cinema indígena espalhados pelas aldeias em todo o país, além de realizadores independentes, que contam com o apoio de produtoras e profissionais audiovisuais não-indígenas. Há algum tempo, passaram a fazer parte desse universo os filmes realizados no âmbito das ações de compensação ambiental por obras com impacto em terras indígenas. Todas essas experiências fazem do cinema indígena um processo intercultural e híbrido.

    Entre os coletivos de cinema indígena no Brasil, vale destacar a produção da Associação Cultural de Realizadores Indígenas de Mato Grosso do Sul (Ascuri), Coletivo Beture Audiovisual Mebengokre, Coletivo Kuikuro de Cinema, Coletivo de Cinema Maxakali do Pradinho, Coletivo Mbya-Guarani de Cinema Indígena, Coletivo Comunicação Kuery, Coletivo Fulni-ô de Cinema, a Escola de Cinema Indígena Jenipapo-kanindé, no Ceará, Ororuba Filmes, de indígenas Xukuru no Nordeste, além das mulheres da Associação Yamarikumã no Xingu, entre outras iniciativas. O impacto desse novo cenário, na perspectiva de Vincent Carelli, que “nunca teria imaginado naquela época que chegaríamos a formar realizadores indígenas” (2004: 8), é a abertura de um novo ciclo. “Concluímos o ciclo do Vídeo nas Aldeias e abrimos um novo, o Vídeo das Aldeias. A ideia de intercâmbio de informação entre as aldeias persiste no projeto, mas agora os índios têm a possibilidade de realizar e assistir seus próprios trabalhos”.

    Existem, atualmente, outras iniciativas inspiradas na prática do Vídeo nas Aldeias ou formadas em contextos distintos, mas que também atuam com formação e produção audiovisual indígena, a exemplo das produtoras Pajé Filmes, Filmes de Quintal, Jenipapo Audiovisual, Instituto Catitu. Há, ainda, diversos realizadores e realizadoras indígenas com produções audiovisuais independentes ou realizadas em colaboração com produtoras e profissionais não-indígenas. A perspectiva dos realizadores e realizadoras do cinema indígena torna evidente uma multiplicidade de visões em torno da definição do cinema indígena. Uma webserie que realizada pelo Festival Cine Kurumin apresenta alguns cineastas indígenas comentando suas práticas audiovisuais. O realizador Takumã Kuikuro manifestou-se de forma provocativa, ao declarar:

    — Eu não sou cineasta indígena, eu sou só cineasta mesmo. A gente também é indígena, por isso algumas pessoas consideram como cineastas indígenas, mas essa palavra cineasta indígena, eu não quero. Eu quero ser cineasta mesmo, só chamado cineasta. Cineasta branco, ele é também cineasta, trabalha com cinema. A gente trabalha com cinema também, a gente quer ser chamado cineasta.

    A partir desta formulação somos provocados a trilhar os caminhos do cinema indígena em festivais de cinema no Brasil, análise a ser apresentada no Seminário Temático.

Bibliografia

    ARAÚJO, Ana Carvalho Ziller; CARVALHO, Ernesto Ignacio de; CARELLI, Vincent (Orgs.). Vídeo nas Aldeias 25 anos: 1986-2011. Olinda: Vídeo nas Aldeias, 2011.

    BRASIL, André Guimarães. Bicicletas de Nhanderu: lascas do extracampo. In: Devires, v. 9, n. 1, p. 98-117, 2012.

    CAIXETA DE QUEIROZ, Ruben. Cineastas Indígenas e pensamento selvagem. In: Devires, v. 5, n. 2, p. 98-125, 2008.

    CESAR, Amaranta. Que lugar para a militância no cinema brasileiro contemporâneo? Interpelação, visibilidade e reconhecimento. In: Revista ECO-Pós, v. 20, n. 2, p. 101-121, set. 2017.