Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduarda de Oliveira Figueiredo (UFMT)

Minicurrículo

    Possui Bacharelado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac São Paulo (2017), onde participou do Programa de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística na linha de Cultura Visual (2015). Realizou Mestrado em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal de Mato Grosso (2023). Fez parte da equipe de curadoria do Festival On-line de Filmes de Inquietação – FOFI (2021). Participa do Grupo de Pesquisa SEMIC – Semióticas Contemporâneas da Universidade Federal de Mato Grosso.

Ficha do Trabalho

Título

    Inscrições da pandemia em dois ensaios audiovisuais produzidos em 2020

Formato

    Presencial

Resumo

    Trata-se de analisar duas formas de compreender a pandemia de Covid-19 realizadas pelos trabalhos Poemargens (2020), de Anna Maria Moura e Sol Ferreira, e O que não tem espaço está em todo lugar (2020), de Jota Mombaça. Busca-se destacar suas diferentes construções ensaísticas e examinar como essas práticas, na pandemia, visam compartilhar materiais da experiência de suas autorias ultrapassando tal contexto, na tela, ao passo que se utilizam de algumas propostas plásticas da imagem do vídeo.

Resumo expandido

    O objetivo é investigar como as obras Poemargens, de Anna Maria Moura e Sol Ferreira, e O que não tem espaço está em todo lugar, de Jota Mombaça, realizadas em 2020 na quarentena, abordam a pandemia de Covid-19. Neles, a pandemia é tanto um indício de processo contextual de realização dos dois filmes quanto um dispositivo, contingencial e mediado, de criação, que se inscreve nas obras. Por meio da análise fílmica visamos delinear em que proporção tais filmes, em suas construções ensaísticas, respondem na pandemia a ela. O que podemos analisar é que os dois trabalhos propõem, em seus “[…] ensaios em forma de enunciados audiovisuais” (Machado, 2003, p. 63), processos bastante livres e pessoais interessados em registrar seus cotidianos na pandemia, seus materiais de arquivos pessoais e seus registros da “memorabilia” (Rasia, 2021, p. 1001) audiovisual e fotográfica da quarentena e anterior a ela. Neles, identificamos que tais artistas interdisciplinares têm em comum experiências com a escrita, com a declamação de poesia e com a performance, relacionadas à crítica anticolonial e à desobediência de gênero. Anna e Sol, em Mato Grosso, e Jota, entre Fortaleza, Lisboa e Berlim. O que não tem espaço está em todo lugar, feito entre três países, em setembro de 2020, é “um filme de viagem e um ensaio sobre velocidade, desterro, amores e distância”, segundo Mombaça. Noutro modo, Poemargens é, afirma Anna, uma “carta escrita à quatro mãos como resultado da nossa troca de afeto e cuidado” em vídeo. O universo que tais artistas montam, de forma intuitiva e experimental, tem como foco uma “vida emaranhada nas coisas” (Mombaça, 2021), de modo que as obras propõem e organizam algumas das diferentes experiências e reflexões que seus proponentes absorveram da pandemia, na quarentena, evidenciando a imposição da pandemia. Dessa maneira, essas obras refletem sobre diferentes temas das circunstâncias encontradas pela pandemia no país, tecendo considerações sobre suas experiências públicas e olhando para outras pessoas no virtual, as quais estão distantes na contingência da quarentena durante a produção dos filmes, mas que impulsionam suas memórias e, também, uma certa necessidade de se retratar. O fulcral entre ambos são suas práticas e conexões afetivas emersas nas telas na pandemia, com todos os seus sons e imagens convivendo, ali, a partir de um corpo racializado, dissidente sexual e “gênero-desobediente”, como fala Mombaça (2020, p. 95). As suas articulações derivam disso à medida que lidam com suas sensibilidades e matérias na palavra falada e cantada e nas próprias imagens sonoras nas obras. Dessa forma, uma vida vivida durante a pandemia trabalhada no enfoque desses formatos dos filmes por interpolação e interação a distância é, talvez, um exercício de uso de contrastes, temas entrelaçados, complementos, excessos e tentativas de sobreposição à inscrição e incrustação das circunstâncias pandêmicas, dando forma também a ideia de que voltar para os arquivos, quase sempre, é partir para um outro lugar, que é o que se faz na montagem de tais obras, através dos seus acervos guardados nos objetos de memória (músicas, livros, poemas, fotografias, cartas), nos cartões de memória dos dispositivos móveis, na câmera dos smartphones e nas conexões das redes sociais no ambiente on-line nos servidores de arquivo de internet. Tal abordagem foi uma inclinação percebida noutros projetos daquela época, uma vez que em muitas produções pandêmicas “[…] o arquivo cede lugar à sensibilização dos afetos, como um olhar para o outro de fora […] [servindo] também como modalidade da fala consigo e com esse outro “virtual”, por vezes materializado em imagem e memória nas recorrentes telas” (Rasia, 2021, p. 1001). Assim, os filmes respondem e oferecem perguntas ao contexto pandêmico, em 2020, ressignificando, revisitando e retrabalhando os arquivos pessoais lançando mão das propostas plásticas da imagem do vídeo, que é o lugar da edição, se inscrevendo na pandemia.

Bibliografia

    MACHADO, Arlindo. Apresentação. In: DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. Tradução de Mateus Araújo Silva. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 11-20.
    MACHADO, Arlindo. O Filme-Ensaio. Revista Concinnitas, Rio de Janeiro, v. 2, n. 5, p. 63-75, 2003. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/concinnitas/article/view/42804. Acesso em: 01 abr. 2024.
    MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
    MOMBAÇA, Jota. A coragem do segredo. In: Farsa – Língua, fratura, ficção: Brasil-Portugal. Org. Sesc São Paulo, 2020, p. 94-105. Disponível em: https://farsa.sescsp.org.br/publicacao/farsa-catalogo.pdf. Acesso em: 01 abr. 2024.
    RASIA, Regis. Questões estéticas sobre a modalidade da produção audiovisual pandêmica. In: XXIV Encontro da SOCINE. Anais […] Rio de Janeiro: SOCINE, 2021, p. 998-1003.