Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Lúcia Ramos Monteiro (UFF)

Minicurrículo

    Lúcia Ramos Monteiro é professora do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense, onde integra o Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual. Atua também como crítica, tradutora e curadora. Suas pesquisas sobre cinema geológico, longa duração e estudos de roteiro foram contempladas pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da Faperj. Participou da organização de diversas publicações coletivas, dentre as quais o livro Fordlândia, Suspended Spaces (Relicário, 2023)

Ficha do Trabalho

Título

    O Cavalo de Turim (2011), de Bela Tarr, e o cinema geológico

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação pretende examinar o filme “O Cavalo de Turim” (2011), de Bela Tarr. Na narrativa da extinção dos meios de sobrevivência de uma família nuclear formada por pai e filha adulta, os gestos cotidianos se repetem, com variações. Num dado momento, ela estende uma camisa sobre o varal, de modo que o tecido ocupa inteiramente a tela, obstruindo a visão e antecipando o fim – do filme, da vida, do mundo. A sequência se insere em uma constelação a que temos chamado de “cinema geológico”.

Resumo expandido

    A comunicação pretende examinar o filme “O Cavalo de Turim” (2011), de Bela Tarr, a partir de uma sequência específica. Na narrativa da extinção dos meios de sobrevivência de uma família nuclear formada por pai e filha adulta, os gestos cotidianos se repetem, com pequenas, embora importantes, variações. Num dado momento, ela estende uma camisa sobre o varal, de modo que o tecido ocupa inteiramente a tela, obstruindo a visão e antecipando o fim – do filme, da vida, do mundo. O espectador detém-se, então, sobre as ondulações da camisa, cujo relevo forma pequenas colinas.
    Incomum, a situação exacerba as perturbações de escala próprias ao close-up (DOANE, 2021), experimentada já no cinema dos primeiros tempos, a exemplo de “The Big Swallow” (1901), de James Williamson, em que um homem, incomodado em ser filmado, avança e engole câmera, operador e espectador. No seio de “O Cavalo de Turim”, a sequência em questão confere visibilidade à matéria da imagem, numa inversão curiosa entre fundo e figura. O tecido branco, que ocuparia o “fundo cinematográfico” (BONAMY, 2013), ganha o primeiro plano e retira qualquer forma reconhecível do quadro. Por envolver fenômenos climáticos e apresentar-se como uma narrativa apocalíptica, o filme dialoga com questões mobilizadas pela constelação de filmes com os quais temos trabalhado na chave do “cinema geológico”, sem pretensão, porém, de delinear contornos de um movimento ou uma escola, propondo antes uma modalidade de olhar. Nossa hipótese é a de que, em um contexto em que se intensifica o debate sobre cinema e Antropoceno (LITVINTSEVA, 2018; MONTEIRO, 2020, entre outros), um conjunto heterogêneo e aberto de filmes (dentre os quais o último longa do realizador húngaro) vêm favorecendo uma aproximação do espectador com o “tempo geológico”, por definição incompatível com a percepção humana (CHAKRABARTY, 2018). Ao mesmo tempo, o caso específico de “O Cavalo de Turim” parece ecoar os dizeres do geólogo Charles Lyell (“nossa posição enquanto observadores é essencialmente desfavorável quando tentamos estimar a magnitude das mudanças em curso atualmente”).

Bibliografia

    BONAMY, Robert. Le fond cinématographique. Paris: L’Harmattan, 2013.
    CHAKRABARTY, Dipesh. « Anthropocene Time ». History and Theory, n. 1, mars 2018, pp. 5-32.
    DOANE, Mary Ann. Bigger Than Life. The Close-Up and Scale in the Cinema. Durhan, NC: Duke University Press, 2021.
    LITVINTSEVA, Sasha. « Geological Filmmaking: Seeing Geology Through Film and Film Through Geology ». In : Transformations, n. 32, 2018.
    LYELL, Charles. Principles of Geology. Penguin Classics, 1998.
    RAMOS MONTEIRO, Lúcia. « Por um cinema geológico: visibilidades possíveis para os tempos da Terra ». Eco-Pós, v. 23, n. 2, 2020, pp. 163-187.