Ficha do Proponente
Proponente
- Andrea C. Scansani (UFSC)
Minicurrículo
- Professora do curso de Cinema e do Programa de Pós-graduação em Literatura da UFSC
Ficha do Trabalho
Título
- O que Roa Bastos e Melià podem nos ensinar sobre o cinema paraguaio?
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- O cinema paraguaio contemporâneo, a nosso ver, tem nos brindado com uma filmografia pungente e mobilizadora. Pensá-lo, para além da necessária análise de seus filmes e seus temas, nos coloca o desafio de dialogar com interlocutores que escapam à teoria do cinema, mesmo aquela dedicada ao cinema-latino-americano. Deste modo, propomos investigar os escritos políticos de Augusto Roa Bastos e Bartomeu Melià na construção de pontes teóricas que possam ser percorridas pelo cinema.
Resumo expandido
- Em primeiro de fevereiro de 1986, o escritor (e roteirista) paraguaio Augusto Roa Bastos, exilado em território francês, escreve uma “Carta aberta ao povo paraguaio”. Começa seu texto pontuando que à comemoração dos cinquenta anos da Guerra do Chaco faltará metade dos paraguaios: os que se encontram “ausentes em exílio exterior e os submetidos ao silêncio em exílio interior” (p. 151). Escrita três anos antes da caída de Strossner, Roa Bastos se dirige aos trabalhadores da cultura que sofrem “o destino de sua coletividade dilacerada” e clama por um projeto de reencontro no qual seria necessário “compreender que os seres humanos não são feras à espreita uns dos outros, mas seres que precisam se entender e viver na dignidade do mútuo respeito”. Assim seria possível transformar “o sopro sinistro do pesadelo no ar vital da sobrevivência”, tanto para “aqueles que permaneceram no exílio interior como reféns em liberdade condicional” quanto para “aqueles que foram lançados ao exílio exterior ou tiveram que fugir” (ROA BASTOS, 2012).
Bartomeu Melià – “jesuíta e antropólogo evangelizado pelos guaranis” (AZEVEDO, 2019) -, em seu texto “Recuperar la memoria, un retorno hacia adelante”, do livro El Paraguay Inventado (1997), discorre sobre a destruição da “ecologia cultural” de um país exercida pelas ditaduras. A imposição de um monocultivo de frases prontas, perpetrada por regimes autoritários, altera as bases da sociedade e a afasta cada vez mais de sua própria memória. Em certo momento, o autor questiona: “Quais seriam os efeitos na produção cultural de uma prolongada ditadura?” (p. 16).
Ao longo dos últimos três anos de pesquisa sobre o cinema paraguaio nos deparamos com um cenário, no mínimo, inusitado. Ao mesmo tempo em que há pouca reflexão (interna ou externa) sobre suas práticas, não faltam pensadores (internos) que se debrucem sobre as idiossincrasias da história social e política daquele país. Sendo assim, propomos dialogar com os escritos políticos de Roa Bastos e de Bartomeu Melià numa construção de pontes teóricas que possam ser percorridas pelo cinema.
Bibliografia
- AZEVEDO, Wagner Fernandes de. “Bartomeu Melià: jesuíta e antropólogo evangelizado pelos guarani (1932-2019)”, Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 08 de dezembro de 2019.
MELIÀ, Bartomeu. El Guarani conquistado y reducido. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica N. S. de la Asunción, 1997.
MELIÀ, Bartomeu. “Ay del que enseña a leer…” Revista Acción, n 14, Assunção, 1972.
MELIÀ, Bartomeu. Una nación, dos culturas. Assunção: Centro de Estudios Paraguayos Antonio Guasch, 1997.
MELIÀ, Bartomeu. El Paraguay inventado. Asunción. Centro de estudios paraguayos Antonio Guasch, 1997.
RIVAROLA, Milda (org). Augusto Roa Bastos. Escritos políticos. Assunção: Servilibro, 2017.
ROA BASTOS, Augusto. “Isla rodeada de tierra”. Oralidad, anuario 6 y 7, Unesco, 1994-1995
ROA BASTOS, Augusto (org.). Las Culturas Condenadas. Assunção: Servilibro, 2011.
ROA BASTOS, Augusto. Entre lo temporal y lo eterno. Asunción: Servilibro, 2012.