Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Cássio Fernandes de Oliveira (UNB)

Minicurrículo

    Cássio Oliveira é natural do Maranhão e reside atualmente no Distrito Federal. Graduado em cinema e mídias digitais pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) e mestre na linha Imagem, Estética e cultura contemporânea pela faculdade de comunicação da Universidade de Brasília, é roteirista, diretor e pesquisador. Atua em várias frentes do audiovisual e faz parte do coletivo de cinema em Ceilândia em Brasília , a CEICINE.

Ficha do Trabalho

Título

    “escuridão e táticas de contruz em Era uma Vez Brasília”

Formato

    Presencial

Resumo

    A presente pesquisa pretende investigar movimentos de insurgências no cinema brasileiro contemporâneo a partir de filmes produzidos na periferia, incluindo os coletivos de cinema, com foco em Era Uma Vez Brasília (Adirley Queirós) . Ao relacionar essas obras, bem como seu modelo de produção, aspira-se compreender a perspectiva dos vencidos (BENJAMIN, 1994) ligada à dimensão simbólica da noite e das zonas de contraluzes e das margens como espaços epistemológicos de fabulação e resistência.

Resumo expandido

    Neste pesquisamento escolhemos alguns filmes, com foco em Era uma vez Brasília (2017), de Adirley Queiroz, para refletir sobre os diálogos possíveis que essa nova onda audiovisual estabelece para transpor barreiras, sem medo de se perder na escuridão periférica — todos eles se caracterizam por trabalhar com imagens escuras, noturnas, e a partir de territórios às margens. Acreditamos que esses filmes celebram encontros, rompendo com normas e hegemonias, ou seja, saem do padrão do sujeito como indivíduo para encontrar uma nova formação de vida coletiva.
    Os filmes que analisamos abordam um momento importante da nossa história recente, quando grupos surgidos das mais diversas realidades, seja nos aspectos da raça, classe, gênero e sexualidade, produzem vozes para mostrar seu descrédito diante do poder branco e opressor, falível. Forjando uma narrativa pulsante, com a força de suas dores e uma espera fora do tempo, potencializada pelo autocuidado que sustenta as vidas das margens.
    Portanto, propomos pensar as margens não apenas como um espaço geográfico onde se localizam os oprimidos do sistema, mas um espaço simbólico onde grupos minoritários se frequentam com a potência de produzirem certas faíscas, ruídos, vibrações; justas políticas de contraluzes, e que, ao contrário de se opor à escuridão, nascem ali, com ela e a partir dela. Portanto, para esta análise, propomos um giro: ao invés de associar a ausência de luz a locais de trevas e à falta de perspectiva, a dimensão da escuridão se converte em um espaço coletivo de experimentação política onde germinam insurgências por meio de luzes intermitentes, como as luzes dos vaga-lumes.
    É neste ambiente em que vários coletivos de cinema, a partir de outros agenciamentos minoritários, começaram suas produções dialogando com uma nova forma de enxergar o país, afastando-se da mera lógica da representação, criando outros territórios estéticos. Caracterizado pela insurgência, este cinema rompeu o cenário audiovisual brasileiro, apresentando propostas contra hegemônicas, como um chamado para uma ampla e impactante atuação de diferentes grupos identitários no audiovisual.
    Entendemos que o espaço da margem é construído como projeção daquilo que o centro dominante descarta, ou, numa perspectiva psicanalítica, do que ele reprime, mantendo à distância aquilo que não pode ser visto nem ouvido — em última instância, o outro. Mas é nesses espaços de margens, simbolizados pela noite contínua e pelo corte da luz, onde a transformação também pode se dar. “Neste sentido, a margem não deve ser vista apenas como espaço periférico, de perda e privacidade, mas como espaço de resistência e possibilidade” (KILOMBA, 2008, p. 68). A linha política que esses filmes experimentam, portanto, permite pensar esses lugares de margens como zonas de defesas comuns; “espaço de abertura radical” (HOOKS, 1989, p.149) e territórios comunitários que se reconfiguram como potentes locais de fabulação.

Bibliografia

    BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: Obras escolhidas I – magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    CAMPOS, J. P. F. O inferno do agora: uma leitura de Era uma vez Brasília (2017). 131p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2019.
    DELEUZE, G. Diferença e repetição. São Paulo: Graal, 2009.
    ______. A Imagem-Tempo. São Paulo: Brasiliense, 2013.
    DIDI-HUBERMAN, G. Sobrevivência dos vaga-lumes. Tradução de Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Belo Horizonte: UFMJ, 2011.
    HOOKS, b. Talking black: thinking feminist, thinking black. Bostom: South and Press, 1989.
    KILOMBA, G. Memórias da Plantação – episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
    NASCIMENTO, A. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. 2ª ed. Brasília/Rio de Janeiro: Fundação Palmares/OR Editor Produtor, 2002.RUFINO, L. Pedago