Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Haroldo Ferreira Lima (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Poéticas e Técnicas no Programa de Meios e Processos Audiovisuais da ECA/USP. Mestre em Psicologia Institucional e bacharel em Comunicação Social pela UFES. Pesquisa as intercessões entre experiência queer, práticas audiovisuais experimentais, e as escritas de si. Perigosa.

Ficha do Trabalho

Título

    Uma conspiração homossexual: os animais mitológicos do Gryphon Group

Seminário

    Tenda Cuir

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho lê o Notebook (1963) de Marie Menken como um caderno de artista que oferece a oportunidade de ensaiar sobre as articulações sexuais e artísticas do The Gryphon Group no pós-guerra americano. Parto da ideia conspiração homossexual (Mekas, 1955) para ajudar a traçar a contínua, irreversível e pouco narrado protagonismo da experiência queer para a formação e o desenvolvimento do Novo Cinema Americano.

Resumo expandido

    “But it is the conspiracy of homosexuality that is becoming one of the most persistent and most shocking characteristics of American film poetry today. In these films, the protagonists are consistently exposed to physical and mental assault; they are a prey to the most ingenious forms of brutality, sadism, and masochism. The perversion of sex seems to be accepted by these film poets (in their films) as a natural way of life… Thus, being incoherent in their very intention, these films necessarily remain shallow and incomprehensible. It is not important to decide here whether or not these neurotic and homosexual poems can be called art. What I want to stress is that this art of abnormality is unmotivated, unresolved and lacks a moral dimension” (Mekas, 1955)

    O Notebook (1963) de Marie Menken compila em dez minutos uma série de procedimentos poéticos experimentados pela realizadora entre 1945 e 1963. Nesse período produtivo, Menken e seu marido, o reconhecidamente bissexual Willard Mass, com outros artistas associados ao que chamaram The Gryphon Group.
    O coletivo deve ser visto a partir do investimento modernista em amizades e articulações artísticas que mobilizaram vanguardas no Norte Global a partir do intenso contato com o surrealismo de Jean Cocteau e a viadagem vividas por Norman McLaren em seu exílio americano, amante definidor para a biografia de Maas e relação aparentemente mobilizadora da vanguarda americana (Suárez, 2009). O Gryphon pode ser visto também a partir das múltiplas articulações subculturais produzidas na ressaca da guerra, expressamente mobilizadora de comunidades queer nas metrópoles costeiras dos EUA (D’Emilio, 1998).
    As experimentações corporais e mitológicas do Gryphon parecem impulsionar o jovem Jonas Mekas a descrever o primeiro experimental americano como uma “conspiração homossexual” (Mekas apud Sitney, 2000). Se a intensa relação de Mekas com Jack Smith, Allen Ginsberg e Andy Warhol parece remediar sua homofobia, o lapso de insensibilidade artística ajuda a mostrar como uma conspiração de homossexuais pode reunir grande sorte de relações vistas na opacidade de Notebook.
    Nelas parecem caber a investigação junguiana e ritualística de Maya Deren, os casos de Willard Maas, as festas frequentadas por Gregory Markopoulos, Kenneth Anger, Curtis Harrington e mesmo Brakhage na cobertura nova iorquina de Menken. É a fauna de animais fantásticos, vista por meio do caderno de artista, que oferece o legado pedagógico ao jovem Andy Warhol, a aparição de filmes como Flaming Creatures (Smith, 1963) e um veio incontornável para qualquer genealogia do cinema queer.
    É com essas relações que proponho ler o Notebook na literalidade do caderno de artista, ou nas genealogias foucaultianas, como um hupomnêmata, constituidor de “uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas, oferecidas como um tesouro acumulado para releitura e meditações posteriores” (Foucault: 2004). Com as imagens de suas diversas sessões, proponho traçar uma pequeno ensaio sobre o Gryphon Group, seus participantes e as mitologias queer que movem o cinema experimental americano a partir do filme, da não monogamia coletiva, e da abertura a toda sorte de relações para uma cinematografia movida pela experiência queer.

Bibliografia

    Suárez, Juan A. Myth, Matter, Queerness: The Cinema of Willard Maas, Marie Menken, and the Gryphon Group, 1943-1969. The MIT Press: Grey Room n. 36, 2009
    Sitney. Adam P (ed). The Film Culture Reader. Nova Iorque: Praeger Publishers, 2000.
    D’Emilio, John. Sexual Politics, Sexual Communities: the making of homossexual minority in the United States, 1040-1970. Chicago: The University of Chicago Press, 1998
    Foucault, Michel. A escritas de si. In: Ditos e Escritos V: ética, sexualidade e Política. Org. BARROS, Manuel Mota; Trad. MONTEIRO, Inês Autran; DOURADO BARBOSA, Inês A. São Paulo: Martins Fontes, 2004.