Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Antonio Silva (UFPA)

Minicurrículo

    Rodrigo. Rodrigo Antonio é formado em História (UFPA) e Cinema (EICTV), Mestre em Artes (UFPA). Produziu longas e curtas-metragens com carreira e reconhecimento internacional. Atua como curador e avaliador de laboratórios, editais setoriais, eventos de mercado e festivais. Foi Professor no Curso de Cinema da UFPA (2018-2020). Desenvolve pesquisas no âmbito do cinema negro e distribuição de impacto social. Atualmente é Diretor de Formação e Inovação da Secretaria de Audiovisual do MINC.

Ficha do Trabalho

Título

    O olhar de oposição, o pertencer e a coexistência de telas

Seminário

    Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação propõe apresentar reflexões acerca da difusão audiovisual no Brasil, partindo da prática da produção e distribuição com foco em impacto social. Num primeiro exercício de sistematização, parte-se da conceituação do “olhar opositor” de bell hooks para tratar da realidade diversa e desigual do mercado audiovisual, compreendendo que os diferentes atores sociais e suas diferentes práticas de diálogo com o público pautam a coexistência de telas bem como os paradigmas postos no mercado.

Resumo expandido

    A presente comunicação busca propor uma reflexão teórica em torno do debate da difusão e da distribuição audiovisual partindo de uma articulação entre os campos de análise do mercado audiovisual e epistemes da comunicação, numa perspectiva afrorreferenciada.
    Parte-se das experiências de produção e distribuição audiovisual com foco em impacto social. O entendimento aqui posto, reflete em torno da coexistência de telas e o reconhecimento de distintas formas de fazer e pensar o audiovisual. Isto nos leva a indagações em torno de como o mercado se constituiu e para onde ele caminha em meio a uma configuração inegavelmente desigual de acesso aos bens culturais e suas ferramentas de produção, bem como dos desníveis do acesso às políticas públicas do audiovisual.
    A proposição de uma reflexão afrorreferenciada compreende que o debate de mercado não pode prescindir do entendimento das transformações sócio históricas postas em nossa realidade, com incidência direta da revolução comunicacional que vivenciamos, seus desdobramentos e atualizações. Neste campo de reflexão, temos o entendimento de que para dar conta dessa realidade, de múltiplas vozes e janelas, faz-se necessário uma ampliação dos marcos referenciais de análise do mercado, em paralelo à proposição de novas metodologias, bem como na afirmação de marcos teóricos no campo da pesquisa em cinema e audiovisual.
    Os apontamentos de bell hooks (2019) no artigo o olhar opositor: mulheres negras espectadoras, no qual a autora afirma que há poder em poder olhar, é aqui utilizado em torno da dimensão política do acesso. O olhar opositor como forma de afirmação de si e como dimensão de uma prática política ativa frente aos sistemas de opressão, nos mostra que o não acesso aos modos e meios de construção e reprodução da imagem – portanto, de construções narrativas – é, como bem sabemos, uma forma de dominação dos nossos corpos, do nosso olhar. É uma estratégia de demarcar o não pertencer, o que visa a nos impedir de poder falar, de compreender e de construir nossas materialidades.
    O pertencer é aqui posto em sua dimensão de afirmação dos sujeitos no tempo presente, no fazer da história. Eixo de reflexão, a partir de debates no campo do audiovisual e da cultura, onde, após um ano de reestruturação do Ministério da Cultura, se vive o desafio da equação de dar conta da reativação de políticas públicas e do fortalecimento da indústria audiovisual, atentos aos desafios histórico e estruturantes do país.
    Neste sentido, pensar e propor caminhos para uma política audiovisual brasileira que dê conta da pluralidade e desigualdades, não pode prescindir de um debate interdisciplinar, de corresponsabilização de atores e assim, de um endereçamento das atribuições de cada agente do ecossistema audiovisual.
    É da relação de acesso e transformação cultural que Rosane Borges (2022) defende que a reinvidicação de acesso e novos espaços, está condicionada a afirmação dos sujeitos e suas subjetividades e na construção de uma agenda política que reivindica acesso e transformação para assim, construirmos repositórios de imagens capazes de suportar memórias.
    Suportar memória é construir lastros históricos, seja de imagens, de narrativas, de modelos, mas principalmente, de novas metodologias de difusão e acesso, no qual os indicadores numéricos não são suficientes. Há ausências estruturantes que precisam de ser tomadas como dados.
    Pautar a coexistência de telas é propor a afirmação de novos grupos sociais como construtores de novos imaginários de país e como propositores de uma nova compreensão de mercado, em especial das políticas de acesso, nas quais, o pertencer, é o passo primeiro de reconhecimento do outro e da sua forma de estar no mundo, seja como parte legítima de um mercado audiovisual, seja como promotor de metodologias que se compreendem como alternativas, mas são em essência, o porto de partida e de chegada de quem vê o mundo desde a margem e, assim, o vê e o percebe mais amplo.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. Autoridades eletivas: o lugar do documentário em meio ao universo audiovisual. Fronteiras – estudos midiáticos, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 149-167, jan./jun. 2004. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/fronteiras/issue/view/107. Acesso em: 22 mar. 2020.
    BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, no11. Brasília, maio – agosto de 2013, pp. 89-117.
    BORGES, Rosane. Masterclass “O olhar opositor em bell hooks, fazedor de memórias e histórias”, integrante da programação do aniversário de 6 anos da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro – APAN, disponível em: https://youtu.be/TXvPxN5OORU .
    COSTA, Tatiana Carvalho. QuilomboCinema: ficções, fabulações, fissuras. In: Catálogo Fórum.Doc.Bh, 2020. Carla Italiano [et al]. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2020.
    HOOKS, bell. Olhares Negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
    WALKER, Alice. Em busca dos jardins