Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Henrique Alves Silva (UFF)

Minicurrículo

    Doutorando e Mestre em Comunicação, e licenciado em Cinema e Audiovisual, realizados na Universidade Federal Fluminense. Co-coordenador do AnimaMídia – Grupo de Pesquisa em Desenho Animado. Desenvolve pesquisas relacionadas ao horror infanto-juvenil em suas múltiplas ocorrências: produções cinematográficas, televisivas e creepypastas virtuais. Além de pesquisador, atua como curador e coordenador educativo, contribuindo em festivais como o FCFB – Festival de Cinema Fantástico Brasileiro.

Ficha do Trabalho

Título

    “O inferno é o limite”?: o horror em Super Xuxa Contra o Baixo Astral

Seminário

    Estudos do insólito e do horror no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O artigo visa evidenciar como Super Xuxa Contra o Baixo Astral (Anna Penido, David Sonneschein, 1988) está em convergência com a tendência estadunidense do horror infanto-juvenil testemunhada na década de 1980. Com o auxílio de conceitos como Intoxificação e Desintoxificação cunhados por Noël Carroll (1999a), a pesquisa pretende alcançar um duplo propósito: aproximar a obra do horror audiovisual e distinguir as singularidades das narrativas de horror direcionados ao público infanto-juvenil.

Resumo expandido

    Como desenvolver a relação entre o gênero do horror e o público infanto-juvenil de maneira apropriada? A própria união de públicos tão heterogêneos e abrangentes como o juvenil e o infantil em apenas um termo esvazia a sua eventual utilização em um debate. Por vezes, a palavra “infantil”, associada a outros termos como “filme” e/ou “programa”, transmite uma percepção equivocada da existência de uma definição do que seriam tais produções; conceituação essa que quando existe é, no mínimo, falha (HOLZBACH, DORNELLES, 2020). Neste ponto, a distinção entre filme infantil e filme familiar (BAZALGETTE, STAPLES, 1995) nos auxilia a compreender melhor tanto o público-alvo de cada obra, quanto os seus intuitos. Dentro desse complexo debate, ainda existem obras que são categorizadas como pertencentes ao “horror infanto-juvenil”.
    Existem poucas concordâncias nas pesquisas sobre o horror destinado ao público infantil e juvenil, mas as duas de maior fôlego (ANTUNES, 2020; LESTER, 2021) salientam a importância da década de 1980 e da criação da classificação indicativa PG-13 nas produções estadunidenses. Foi a partir dessa década que as produções que se utilizavam da figura do monstro, elemento fundamental para as narrativas de horror de acordo com Carroll (1999), e se destinavam ao público pré-adolescente se tornaram mais numerosas — a princípio no cinema e, na década seguinte, na televisão.
    Nesse contexto, estreia Super Xuxa contra Baixo Astral (Anna Penido, David Sonneschein, 1988). Proponho a análise dessa obra como uma tentativa de emular esse tipo de produção na cinematografia nacional. Sua escolha não é sem fundamento. Não penso que seja o primeiro filme brasileiro a sugerir algo dessa natureza, mas penso que a filiação à vertente do horror foi realizada de maneira mais consciente. Podemos destacar, por exemplo, a maneira como a sequência em que a protagonista é sugada por uma televisão guarda muitas similaridades com Poltergeist: O Fenômeno (Poltergeist, Tobe Hooper, 1982). Além disso, Anna Penido, roteirista e co-diretora do longa, estava realizando o mestrado em cinema na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) durante a década de 1980 e pôde acompanhar o surgimento de obras nesse estilo in loco.
    Para nos auxiliar nessa análise, além da pesquisa documental através de jornais da época para observar a fortuna crítica e a maneira com que o filme foi apresentado por seu marketing, alguns conceitos norteadores irão nos auxiliar. O primeiro deles é o de “pontos de pressão fóbica” (KING, 2013, p. 20), ou seja, a maneira com que produções de horror se utilizam de temores compartilhados por um vasto grupo de indivíduos para construir as suas narrativas. Quais seriam as particularidades desses temores quando direcionados ao público infanto-juvenil — mesmo que Super Xuxa seja classificado prontamente como um filme familiar? Outras conceituações importantes para podermos compreender as especificidades desse horror infanto-juvenil são: Intoxificação e Desintoxificação (toxification e detoxified, no original) cunhados por Noël Carroll (1999a) em seu artigo que se debruça sobre a relação entre horror e humor. Ambos os termos são possibilidades de desenvolvimento do fantástico: a intoxificação ocorre quando o medo e a repulsa do protagonista são somados a imagens que provocam horror; e a desintoxificação ocorre quando o medo é subtraído. Colocando em polos antagônicos, intoxificação seria a maneira como o fantástico ocorre no horror e desintoxificação seria mais similar às comédias. Defendo que essa oscilação entre os dois extremos, momentos de horror e repulsa intercalados com sequências cômicas, está no cerne das narrativas de horror infanto-juvenis — aproximando-as em direção as comédias de horror e, não, as transformando em um “horror seguro” como é ocasionalmente apontado, principalmente durante os anos 1980 quando as comédias de horror “continuavam ultrapassando os limites” (HALLENBECK, 2009, p. 118).

Bibliografia

    ANTUNES, Filipa. Children Beware!: Childhood, Horror and the PG-13 Rating. McFarland, 2020.
    BAZALGETTE, Cary; STAPLES, Terry. Unshrinking the kids: Children’s cinema and the family film. In: In front of the children: Screen entertainment and young audiences, p. 92-108, 1995.
    CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus Editora, 1999.
    CARROLL, Noël. Horror and humor. The Journal of Aesthetics and Art Criticism, v. 57,n. 2, p. 145-160, 1999a.
    HALLENBECK, Bruce G. Comedy-horror films: a chronological history, 1914-2008. McFarland, 2009.
    HOLZBACH, Ariane Diniz; DORNELLES, Wagner. Definição pela exclusão: apontamentos iniciais sobre os limites epistemológicos dos programas infantis. Mídia e Cotidiano, v. 14, n. 1, p. 117-132, 2020.
    KING, Stephen. Dança Macabra. Suma, 2013.
    LESTER, Catherine. Horror films for children: Fear and pleasure in American Cinema. Bloomsbury Publishing, 2021.