Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) (UFF)

Minicurrículo

    É professora do depto de Arte/UFF. Doutora em Comunicação/UERJ. Dirigiu o Araribóia Cine–Festival de Niterói (2022-2013). Integrou a diretoria do Fórum dos Festivais (2005-2010). Coordenadora do “Diagnóstico Setorial 2007/Indicadores 2006 dos Festivais Audiovisuais”. Documentarista, dirigiu curtas premiados “Era Araribóia um Astronauta?”(1998), “A Maldita”(2007), “Fantasias de Papel”(2015), e o longa “A Maldita”(2019). Exerce atividades de curadoria, consultoria e júri em eventos audiovisuais.

Ficha do Trabalho

Título

    Re[vi]ver o Araribóia Cine – Festival de Niterói

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Nesta comunicação iremos re(vi)ver o Araribóia Cine – Festival de Niterói, realizado entre 2002 e 2013. Organizado pela UFF, o evento era dedicado à exibição de curtas e médias com objetivos de promover reflexão sobre filmes brasileiros e dar visibilidade às obras audiovisuais esquecidas nas prateleiras. Como festivais são experiências de cidade e instâncias discursivas, analisaremos estratégias adotadas na configuração de seu perfil ideológico, artístico e nas ações de sustentabilidade.

Resumo expandido

    Nesta comunicação buscaremos re(vi)ver o Araribóia Cine, festival realizado em Niterói, RJ, entre 2002 e 2013. Organizado institucionalmente pela Universidade Federal Fluminense, o evento dedicado sobretudo à exibição de curtas e médias metragens teve como principais objetivos promover reflexão sobre filmes brasileiros que estavam alijados das salas de exibição, e dar visibilidade às obras esquecidas nas prateleiras das produtoras cinematográficas, das cinematecas e arquivos fílmicos. Acreditamos que festivais são experiências de cidade e instâncias discursivas, analisaremos as estratégias adotadas pelo festival na configuração do perfil ideológico, artístico e nas ações de sustentabilidade
    O nome do festival niteroiense traz ênfase no personagem mítico Araribóia, indígena fundador do aldeamento que originou Niterói, evocando um dos seus símbolos primeiros. A imagem do Araribóia é figurada na marca do festival e na identidade visual de cada edição do evento (cartazes, catálogos, sites, vinhetas, sacolas, etc.), reativando “junto ao imaginário popular memórias afetivas referentes ao passado indígena da cidade”. (Bastos, 2018, p. 174). Acreditamos que esta representação contribuiu para o que o festival provocasse um senso de pertencimento e de comunidade junto ao público niteroiense frequentador do evento.
    O contexto de surgimento do Araribóia Cine, início dos anos 2000, é caracterizado pela carência de espaços de exibição do filme brasileiro, especialmente do curta e média metragem, na época produzidos no formato película (35mm e 16mm); pelo crescente aumento na produção de curtas-metragens; e sobretudo, pela ausência de reflexão sobre este produto cultural em festivais de cinema, em pesquisas acadêmicas, assim como em revistas especializadas.
    Diante deste cenário, o festival foi idealizado priorizando as exibições seguidas de debates, realizados após as sessões, o que se configurou na ocasião como um diferencial em relação aos outros eventos. Em 2002 eram poucos os festivais que se dedicavam à reflexão, em especial à reflexão estética do filme de curta e média metragem. Os debates nos festivais eram em formato de coletiva de imprensa, e na maior parte das vezes focava nas questões de produção dos filmes (Alcoforado, 2000, p. 26-27) Partindo da premissa de que é no curta-metragem onde há uma maior criatividade, experimentalismo e inventividade, as sessões do Araribóia Cine eram organizadas de forma temática, exibindo filmes produzidos em diversas décadas, ao contrário de boa parte dos festivais que priorizava (e prioriza) o que há de mais novo na produção. Assim o festival ia na contracorrente programando filmes independente de seu ano de produção (mas mesmo assim muitos inéditos na cidade), e provocando debate a partir do recorte temático visando sensibilizar o público para a diversidade da arte cinematográfica e para novos olhares e visões sobre o mundo.
    Evento de pequeno porte econômico, o Araribóia Cine recorria a uma série de estratégias para alcançar os seus objetivos de mediação entre as obras artísticas e o público frequentador, majoritariamente niteroiense, que era estimulado e convocado a participar ativamente dos debates. Através da presença de criadoras/es das obras audiovisuais (independente da função criativa), de debatedores especializados na temática do evento, e de mediadoras/es que conduziam de forma “festiva” as conversas com o público, encontramos na forma festival um lugar privilegiado da expressão cinematográfica (Taillibert, 2009). É nossa intenção investigar as características curatoriais do festival compreendendo este termo para além da escolha [seleção e programação] dos filmes, assim como analisar a linha artística que reflete no posicionamento ideológico do festival.
    Ter como objeto de estudo eventos de pequeno porte, parte de um desejo de dar visibilidade a festivais não hegemônicos através do estudo de suas singularidades, e assim contribuir para a construção de novas histórias.

Bibliografia

    ALCOFORADO, Paulo. Hip, hip, hurra! Festivais brasileiros abrem mão da reflexão crítica, e lançam-se num delírio de mercado. Sinopse, n.5, ano II, junho 2000.
    BASTOS, Lia Vieira Ramalho. Niterói, terra de índio – Apagamentos, silenciamentos e reapropriações em torno da figura de Araribóia. Niterói: Eduff, 2018.
    CESAR, Amaranta et. Al. (orgs.) Desaguar em cinema: Documentário, memória e ação com o CachoeiraDoc. Salvador: EDUFBA, 2020.
    KNAUSS, Paulo. “Herói da cidade: imagem indígena e mitologia social”. In: KNAUSS, P. (org.) Sorriso da Cidade: imagens urbanas e história política de Niterói: Niterói: FAN, 2003.
    MATTOS, Tetê. “Araribóia Cine – Festival de Niterói: desafios e estratégias de criação de uma rede de articulações a partir de um evento cultural”. In: CALABRE, Lia (org.) Políticas culturais: diálogo indispensável. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2008.
    TAILLIBERT, Christel. Tribulations festivalières – Les festivals de cinéma et audiovisuel en France. Paris: L’Harmattan,