Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Rezende Landim (Unicamp)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-graduação em Multimeios (Unicamp), articulador do coletivo turvo, curador colaborador no cine Pagu, pesquisador e pensador de imagens. Realizador de documentários: Transmutações Latinas (em fase de pré-produção e pesquisa), Batuque:(en)cantos de Lutas (em finalização), Camburi Resiste (2023), Habita-me se em ti transito (2012), dentre outros. Atualmente é pesquisador colaborador do Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem e do laboratório TERRAMÃE/Unicamp.

Ficha do Trabalho

Título

    O batuque de Nelson Silva em reconstrução sonora e visual

Formato

    Presencial

Resumo

    Buscamos compreender como se dá a construção identitária do batuque afro-brasileiro de Nelson Silva por imagens, desde a pesquisa para a realização do filme Batuque: (en)cantos de luta, no decorrer das gravações e nas observações diferidas em sessões com o grupo. Assim, ao pensarmos o lugar das imagens, nos pautamos pelos conceitos de oralidade, memória e ancestralidade por meio do processo fílmico para agenciamentos das formas de representação do grupo.

Resumo expandido

    O Batuque afro-brasileiro de Nelson Silva foi criado em 1964, com o espetáculo “Aquarela do Brasil”. Trata-se de um grupo musical de raiz que até 2023 conta com 19 integrantes, homens e mulheres negros(as), sendo a maior parte deles(as) com mais de 60 anos. O Batuque foi criado e dirigido por Nelson Silva, com a ideia de se formar um conjunto que tivesse função sociocultural em favor das manifestações do negro em Juiz de Fora (MG). O repertório de mais de 80 letras e arranjos musicais (sambas, lamentos, batuques, canções, toadas, maculelês e hinos) foi composto por Nelson Silva, sendo que há uma forte relação das músicas com a história da população negra em Juiz de Fora (MG). Durante o período da pesquisa de campo em 2016, para a realização do filme Batuque: (en)cantos de lutas, o grupo estava composto por 19 pessoas. Todos estes atores sociais foram entrevistados para a realização do filme, com a perspectiva de tratar das relações de cada integrante com o grupo, de modo a apresentarem sua ligação com o Batuque, com Nelson Silva ou suas memórias. Pensar o Batuque afro-brasileiro de Nelson Silva no contexto de Juiz de Fora é pensar também sobre a imagem e as configurações sociais e identitárias do povo negro nesse lugar, da diversidade desse conjunto. As músicas de Nelson Silva trazem uma narrativa oral e até mesmo visual, do ponto de vista criativo e da gestualidade, sobre ser negro e suas questões identitárias, mas ouvir essas narrativas individualmente traz novos panoramas para essa compreensão em constante negociação e busca por representatividade, quase seis décadas depois da criação do grupo. Dessa forma, o processo de um filme traz luz a esse percurso de compreender tais narrativas, as quais vamos tecendo nesta reconstrução sonora e visual, portanto, cabe aqui pensar os procedimentos dessa passagem à imagem:

    Não se trata apenas de saber reconhecer o que pode ser observado e o modo de abarcá-lo pela imagem, mas, mais fundamentalmente, do processo de transposição em imagem, dessa passagem à imagem. Trata-se de uma construção de uma elucidação do espaço fílmico cuja constituição como campo de desvelamento antropológico abre para o que nós poderemos considerar uma abordagem fenomenológica (PIAULT, 2018, p. 20,).

    Um processo de criação que se dá organicamente na construção de relações permeadas por imagens, no qual convidamos leitores(as) deste trabalho a pensar estratégias, metodologias e formas de encontros para uma antropologia possível por meio das imagens, tratando-se de um espaço crítico, um “pensamento mais amplo e libertador” (PIAULT, 2018, p. 12), para além de refletir com e por imagens, pensar “processos dessa produção no interior de uma reflexão epistemológica” (PIAULT, 2018, p. 20). Assim, em meio a trocas e encontros, descobrimos o Batuque, sua história e memória, por meio de um trânsito de imagens, gestos e simbolismos para reconstruções sonoras e visuais.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto / Museu de Arte do Rio de Janeiro, 2013, 506 p., 96 ilustrações. Tradução: Vera Ribeiro.

    FRANCE, Claudine de. Cinema e Antropologia. Trad. Marcius S. Freire, Campinas, SP,
    Editora da Unicamp, 1998.

    MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global: Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação, 2004 (Coleção Viver, Aprender).

    PIAULT, Marc Henri. Antropologia e Cinema: passagem à imagem, passagem pela imagem. São Paulo: Editora Unifesp, 2018.

    SAMAIN, Etienne. As Imagens Não São Bolas de Sinuca.: Como Pensam as Imagens. Como Pensam as Imagens, editado por Etienne Samain, DGO-Digital original, SciELO – Editora da Unicamp, 2012, pp. 21–36.