Ficha do Proponente
Proponente
- Felipe Corrêa Bomfim (UFMS)
Minicurrículo
- Professor adjunto na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), lecionando no curso de Audiovisual. Doutor e Mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com curto período de doutorado sanduíche na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Graduado em Cinema na Università di Bologna. Estagiou no Museu Nacional de Cinema da Áustria e faz parte do grupo de pesquisa “Cinematografia, expressão e pensamento”.
Ficha do Trabalho
Título
- Direção de fotografia, sensorialidade e cinematografia documental
Seminário
- Estética e plasticidade da direção de fotografia
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesta pesquisa investigamos a presença e a influência de vertentes do documentário moderno nos atentando especificamente ao documentário Entreatos (2004). Em nossas análises buscamos compreender os usos e as práticas pertinentes à cinematografia do documentário direto a partir da identificação de uma tendência de registro, que salientou o campo sensorial e cognitivo, acionado por meio dos sentidos do fotógrafo na circunstância de registro, considerados como heranças do documentário moderno.
Resumo expandido
- Neste estudo voltamos nosso olhar para a produção documental brasileira inaugurada a partir dos anos 2000, tomando como ênfase o documentário Entreatos (2004), de João Moreira Salles com o intuito de salientar os possíveis diálogos deste documentário com as práticas do documentário direto no Brasil. Cabe sinalizar que tal estudo se limita a apontar direções, identificar veios e possíveis ressignificações de práticas operantes no moderno repercutidas do documentário contemporâneo e, deste modo, mostrar recursos para futuros estudos sobre esse tema.
Como ponto de partida, buscaremos sinalizar um conjunto de reverberações de práticas do documentário moderno na produção documental contemporânea. De saída, podemos identificar neste documentário, Entreatos (2004), de João Moreira Salles, um conjunto de práticas caras à cinematografia documental do documentário direto brasileiro. É perceptível aspectos caros à direção de fotografia documental, como o uso notável da câmera na mão – seu universo cognitivo e sensorial acionado pela presença do fotógrafo na tomada -, além de o impacto de suas reações diante do espaço do real e sua miríade de imprevistos.
No documentário Entreatos (2004), de João Moreira Salles e direção de fotografia de Walter Carvalho, vemos a equipe de filmagem acompanhar a campanha eleitoral de Luís Inácio Lula da Silva. Em Entreatos vemos a câmera na mão de Walter Carvalho acompanhar um conjunto de atividades do candidato as eleições de 2002. Há um significativo investimento no registro de instantes menos significativos, com certa carga de banalidade, que evocam situações de maior intimidade. Acreditamos que essa forma de registro remete às práticas documentais do documentário direto norte-americano, que lançou mão da captura fidedigna de imagens e sons, apostando na não interferência externa ou posterior ao registro.
No segmento do documentário posterior ao resultado das eleições, acompanhado em um salão, vemos Lula entrar no elevador, seguido por figuras como Marta e Eduardo Suplicy, José Alencar, entre outros. Neste trecho vemos o diretor de fotografia Walter Carvalho busca intensificar a duração da tomada a fim de capturar, em toda a sua complexidade, a tensão dramática presente no plano. O momento a ser capturado dentro do elevador do hotel passa a ser emblemático no sentido de descortinar a imagem que precede a imagem pública, que tomaria forma no saguão em poucos instantes.
Um conjunto de elementos orquestrados pelo contingente sugere a impossibilidade de entrada da câmera no elevador, como o elevador lotado, a presença do segurança e a posição de Walter Carvalho no limiar do elevador. O fotógrafo notou a importância do registro daquele instante, o último que precedia sua imagem pública como então novo presidente, que seria recebido no saguão do hotel, no piso térreo, por toda a comissão de imprensa. Diante de tais impedimentos o fotógrafo opta por agir rapidamente. Nos relatos do próprio fotógrafo, Walter Carvalho, como em um gesto inconsciente, estica o pé até a porta impedindo o fechamento (apud PUCCINI, 2009, p. 84). Ao abrir a porta, vemos o gesto do fotografo de entrar no elevador lotado e, como em uma resposta aos olhares perplexos e a sua entrada inusitada, ouvimos a frase: ‘vamos até lá embaixo’. A sensibilidade diante da circunstância do registro proporcionou ao fotógrafo uma atitude. O plano que se descortinou de sua entrada abrupta no elevador é considerado o plano possível, dotado de altíssima carga dramática para a sequência.
Ao nos atentarmos para o campo da experiência na direção de fotografia documental acreditamos salientar a presença de uma vertente mais sensorial e cognitiva, acionada por meio da valorização dos sentidos. Deste modo, a atenção às escutas, aos gestos e à predisposição a reações rápidas diante da circunstância de filmagem são heranças particularmente ricas do documentário moderno que passam a ser assimilados e amplificados no contexto da cinematografia contemporânea.
Bibliografia
- CARVALHO, Walter. ForumDoc BH 2005. Mostra fotógrafos do documentário brasileiro. Belo Horizonte: Forum Doc BH, 2005.
FORUMDOC BH 2005. Mostra fotógrafos do documentário brasileiro. Belo Horizonte: Forum Doc BH, 2005.
MESQUITA, Claudia; RIBEIRO, Daniel. A fotografia no documentário: uma entrevista com cinco fotógrafos brasileiros. Belo Horizonte: ForumDoc BH, 2005. p. 145 – 160
MOURA, Edgar. Câmera na mão, som direto e informação. Rio de Janeiro: Funarte/Instituto Nacional de Fotografia, 1985.
PUCCINI, Ségio. Sobre situações de filmagem no documentário. Revista Imagofagia. Asociación Argentina de Estudos de Cine y Audiovisual. n.3. Buenos Aires: ASAECA, 2011.