Ficha do Proponente
Proponente
- Mario Caillaux Oliveira (UNB)
Minicurrículo
- Doutorando em Teoria e História da Arte pela Universidade de Brasília, pesquisa as relações entre as imagens em movimento e a arte contemporânea em suas diversas formas de atuação.
Ficha do Trabalho
Título
- Desaparecimento e remasterização de trabalhos pioneiros de videoarte
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Neste artigo investigaremos como, cinquenta anos após a criação das primeiras obras de videoarte no Brasil, alguns desses trabalhos históricos encontram-se inacessíveis devido à obsolescência da tecnologia utilizada. Em outros casos, as transferências e atualizações de mídias acabam interferindo nos modos de recepção e exibição desses filmes em espaços expositivos. Buscaremos problematizar os caminhos e os possíveis efeitos para esses dilemas.
Resumo expandido
- Neste ano de 2024, são comemorados os 50 anos da criação dos trabalhos que participaram da representação brasileira na mostra Video Art, com curadoria de Suzanne Delehanty, que aconteceu no Institute of Contemporary Art da Filadélfia, nos Estados Unidos. Para muitos pesquisadores este foi o marco inicial do surgimento da videoarte no Brasil (Machado 2007 & Ramos; Murari, 2018). Já em 1977, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) adquiriu uma câmera de vídeo para estimular os artistas a realizarem obras com esse suporte. Dessa maneira, toda uma produção pioneira realizada por artistas radicados em São Paulo, como Regina Silveira, Carmela Gross, Gabriel Borba Filho entre outros, torna-se possível. Ao longo dessas cinco décadas, o uso do vídeo como um meio de expressão artística desenvolveu-se de maneira bastante profícua, tornando-se uma prática global bastante difundida e que contribuiu de maneira significativa para borrar cada vez mais as fronteiras entre o cinema experimental e as artes plásticas. Diversas terminologias foram cunhadas para classificar justamente esses filmes que atuam nessa divisa: videoarte, videoinstalação, cinema expandido (Gene Youngblood, 1970), cinema de exposição (Phillipe Dubois, 2004). Uma das chaves de leitura que explicaria o fenômeno das imagens em movimento no campo das artes visuais seria justamente o desenvolvimento e a democratização das tecnologias e dos dispositivos de captura e exibição de imagens. Entretanto, ao mesmo tempo que o acesso aos meios de produção e visualização tornou-se mais popular, a preservação e a exposição desses trabalhos antigos transformaram-se em um problema. De que maneira a tecnologia, que a principio seria um dispositivo para ajudar na criação e divulgação dessas obras, com a sua obsolescência acaba sendo uma barreira para a sua conservação e principalmente para a sua exibição? E ainda, como a transposição de suportes e mídias, que a princípio contornaria o problema técnico, pode afetar a fruição do espectador com a obra? Estes são os pontos e dilemas que trataremos nesta comunicação.
Durante essas cinco décadas, alguns desses trabalhos pioneiros foram, ao longo dos anos, desaparecendo e sua exibição e divulgação inviabilizadas, chegando inclusive, em determinadas ocasiões, a serem considerados perdidos. Buscaremos explorar como artistas, curadores, instituições e fundos dedicados a preservação e memória audiovisual tratam dessa problemática. Em um primeiro momento, analisaremos como a falta de equipamentos originais em determinados momentos impede a visualização e divulgação destas obras. Este é o caso dos filmes de Fernando Cocchiarale que participaram da mostra americana na Filadélfia, citada acima, e que há bastante tempo não são exibidos ao público pela falta de cópias em mídias acessíveis. Já, em uma segunda etapa, problematizaremos como a remasterização dessas obras para outros suportes / tecnologias mais modernas e de acesso mais fácil podem acabar modificando a própria maneira de visualização da obra. Filmes que originalmente eram transmitidos em pequenos monitores de tubo, hoje em dia, são mostrados em grandes projeções ou acessíveis em celulares e tablets. Para isso, tomaremos como exemplo a mostra Vídeo_Mac, que ocorreu em 2020 no site do museu paulista, com a curadoria de Roberto Moreira Cruz e que recuperou e exibiu grande parte desses vídeos pioneiros produzidos no MAC-USP.
Bibliografia
- RAMOS, Guiomar; MURARI, Lucas. Fragmentos de uma história do cinema experimental brasileiro. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila. (Org.) Nova história do cinema brasileiro, vol. 2. São Paulo: SESC, 2018.
BELLOUR, R. A querela dos dispositivos. REVISTA POIÉSIS, v. 9, n. 12, p. 15-22, 1 dez. 2008. Disponível em: https://periodicos.uff.br/poiesis/article/view/26941 – Acesso em: 20 abril. 2023.
CRUZ, Roberto. Filmes e vídeos de artistas: preservando e difundindo o que ainda não se perdeu. in: BAMBOZZI, Lucas; PORTUGAL, Demétrio (orgs.) O Cinema e seus outros: manifestações expandidas do audiovisual. São Paulo: Equador: AVXLab – Laboratório de Audiovisual, 2019.
DELEHANTY, Suzanne. Video art. Philadelphia; Institute of Contemporary Art University of Pennsylvania, 1975.
DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.
MACHADO, Arlindo (org.). Made in Brasil: três déc