Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Ticiane Simões dos Santos (UNB)

Minicurrículo

    Atriz pesquisadora, ensaísta, dramaturga e realizadora audiovisual. Graduada em Teatro na Universidade Federal de Alagoas – UFAL e Mestranda em Artes da cena pelo PPGCEN – UNB. Formada em Dança Teatro e Dramaturgia pela Escola Viva de Guarulhos. Integrante e pesquisadora do NEPED – Núcleo de Estudo e Pesquisa das Expressões Dramáticas/CNPQ – UFAL onde coordena o Laboratório de Experimentos Cênicos. É diretora fundadora da ONG Ateliê Ambrosina, onde coordena o projeto Casa Ambrosina.

Ficha do Trabalho

Título

    CAVALO E SEU CORPO COLETIVO: A PREPARAÇÃO DE ELENCO NO LONGA ALAGOANO

Formato

    Presencial

Resumo

    “Envolvidos num processo artístico, sete jovens dançarinos são provocados a um mergulho em suas ancestralidades”. É assim que Cavalo se apresenta, em sete corpos, sete caminhos, sete cores de uma negritude alagoana que erguem uma gira coletiva. Este trabalho, percorre o elo de criação das atuações no primeiro longa alagoano fruto de edital público, Cavalo (2020). Busca refletir o processo de cocriação que se estabelece na cinematografia alagoana entre a Direção, a Preparação de Elenco e o Ator.

Resumo expandido

    Quando pensamos a cena cinematográfica como espaço de reflexão sobre as possibilidades de novas construções, de novas narrativas e principalmente de novos resultados, podemos imaginar que não há como esse percurso ser tratado de forma a manter a estrutura hierárquica clássica implicada no campo audiovisual onde a figura de quem dirige (o Diretor) já chega no processo determinado a colher o que sabe querer, dispondo os atores à serviço de um resultado previamente desejado. Direção, Direção de Fotografia, Direção de Atores, Direção de Arte, Montagem, trabalham tendo como norte a construção de uma única obra: o filme.

    Cavalo (Rafhael Barbosa e Werner Salles), traz à cena o encruzilhamento de sete atores com sete atuações, que buscam se encontrar em seus corpos a serviço de algo/alguém/alguma. Vemos uma mistura de corpos componentes diversos e atuantes na cena. Atores, dançarinos, cantores, performers. Mostram-nos, cada um com uma narrativa singular, como usam seus corpos como ferramenta para a obra artística ou para o serviço cotidiano e/ou ainda religioso, porém, sempre sob uma condução ativa da direção, numa tentativa de construir, juntos, uma história.

    Mas, que caminhos foram usados? Será que há um método de representação, ou no caso, também de autorrepresentação aplicado pela direção de atores durante o processo? E ainda, como essas histórias e esses corpos foram selecionados para que essa colcha de retalhos tenha se dado de forma efetiva?

    Iniciei a discussão sobre as tensões entre interpretação e autorrepresentação no cinema alagoano ainda como resultado do PIBIC intitulado Atuação cinematográfica: reflexões sobre o lugar do/a ator/atriz no cinema alagoano. Já chego aqui, com as conclusões resultantes do trabalho de pesquisa realizado lá, cheguei ao que pude entender como um apontamento conclusivo, que o lugar da preparação de elenco dentro dos filmes aos quais observei demonstrava um lugar sólido dentro da cadeia de produção fílmica, não só em Alagoas, como também numa cena do cinema nacional, principalmente no trabalho com não atores ou atores estreantes, presentes dentro de uma construção contemporânea do fazer cinema, que, desde a década de 80, a partir da preparação de elenco proposta em Pixote, a lei do mais fraco (BABENCO, 1980), como nos localiza, historicamente, Valmeri Ribeiro “… O trabalho de Fátima Toledo com não atores, primeiro em Pixote, depois em Central do Brasil e Cidade de Deus, inaugurou um registro mais espontâneo, mais próximo do modo de falar e agir do brasileiro contemporâneo (P. 9, 2014).

    Ao contrário do que pudemos observar com frequência na seleção pata atuação, a preparação mostra-se um lugar onde o trabalhador da atuação (ator/atriz de formação) consegue se estabelecer como peça de indispensável saber, sendo cobrado dele – o preparador – além de conhecimentos técnicos mais finos para com a arte cinematográfica, uma formação ou uma carreira consolidada que comprove seus conhecimentos específicos sobre as técnicas de atuação para cena.

    De fato, o que torna um ator preparado para a cena, são os estudos que ele faz, as tentativas e erros advindas da profissão, o treino, a entrega. Não cabendo ao preparador a construção da personagem, porque, por natureza das profissões, apenas o ator conseguirá ou não realizar a materialização da personagem.

    Seria esse profissional, o preparador, que carrega bagagem de tentativas e erros próprios, postos em metodologias que buscam encurtar caminhos entre os desejos da direção ao pensar a personagem e a construção de quem atua, sendo ele ator ou não. É a ele que cabe o a gestão do tempo para que as personas amadureçam, se tornem críveis aos olhos minuciosos da câmera. Quando preparo, preciso saber do tempo que disponho para que o ator em cena crie esses mesmos caminhos, guio-o por caminhos curtos se assim a produção cobrar ou permito mergulhos profundos e arrodeios antes de chegar aonde se espera, se houver tempo. Tudo no Cinema é tempo e dinheiro.

Bibliografia

    BOGART, Anne. “Seis coisas que sei sobre o treinamento de atores.” Urdimento: Revista de Estudos em Artes Cênicas 1.12 (2009): 029-040.

    ___. “A Preparação do Diretor: sete ensaios sobre arte e teatro; tradução.” (2011).

    GALDREAULT, André; JOST, François. A narrativa cinematográfica. Brasília: Editora UnB, 2009.

    MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Editora Cobogó, 2021.

    NACACHE, Jacqueline. O ator no cinema. Lisboa: Texto e Grafia, 2012.

    RAMOS, Clara Leonel. A construção do personagem no documentário brasileiro: autorrepresentação, performance e estratégias narrativas. 264 págs. Tese de Doutorado- Universidade de São Paulo. São Paulo, São Paulo – 2013.

    RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

    XAVIER, Ismail (org). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983.

    ___. O olhar e a cena. São Paulo: Cosac & Naif, 2003.