Ficha do Proponente
Proponente
- Roberta Barboza de Oliveira Machado (UFSM)
Minicurrículo
- Produtora Editorial formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista CAPES, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM/UFSM) – linha Mídias e Identidades Contemporâneas. E-mail para contato: roberta.machado@acad.ufsm.br
Ficha do Trabalho
Título
- Representação Corporal no Cinema: O efeito de realidade do corpo gordo
Formato
- Presencial
Resumo
- O pensamento sensorial de Eisenstein defende que a montagem de imagens e sons no cinema pode provocar respostas emocionais. Filmes como “A Baleia” e “Os Rejeitados” exploram o luto e apresentam representações contrastantes de corpos gordos. A comparação entre os personagens Charlie e Mary Lamb ilustra como diferentes abordagens estéticas influenciam a representação, destacando o poder do cinema em evocar emoções e explorar nuances sensoriais.
Resumo expandido
- O pensamento sensorial de Eisenstein argumenta que a montagem de imagens e sons pode evocar respostas emocionais no espectador, indo além da simples compreensão intelectual da trama, de forma que, o cinema possibilita visualizar outras perspectivas e colocar o espectador como sujeito que adota múltiplos pontos de vista. Ocorrendo uma identificação e empatia com o que está sendo representado, sendo um “Efeito de Realidade” (GONÇALVES, 2022, p. 14).
Nesse contexto, os filmes “A Baleia” (2022), do diretor Darren Aronofsky, e “Os Rejeitados” (2023), do diretor Alexander Payne, empregam elementos visuais e sonoros de maneiras distintas para transmitir a complexidade do luto. Porém, a maneira como são retratados os personagens Charlie (Brendan Fraser) e Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), ambos atores ganhadores do Oscar por seus papéis nestas obras, revela diferentes abordagens estéticas para representar o corpo gordo. Com o objetivo de elucidar a diversidade corporal no cinema, este trabalho explora o entendimento de interseccionalidade (AKOTIRENE, 2020), contextualiza historicamente a gordofobia e suas origens racistas e machistas (STRINGS, 2019), aborda a influência desse viés nas representação midiática (HALL, 2016) e a cultura midiática que enaltece determinados tipos corporais (LOURO, 2000). Além de buscar elucidar eixos de opressão e violações, ao fazer um recorte quanto a corpos gordos no audiovisual, ao propor uma reflexão sobre as obras supracitadas e contrapor a representação dos personagens. Com o objetivo de encontrar características narrativas que contribuem para perpetuar estereótipos gordofóbicos associados ao corpo gordo (ARRUDA, 2019).
Brendan Fraser interpreta um personagem gordo e gay, enlutado pela morte de seu companheiro, que busca aproximar-se de sua filha em seus últimos dias de vida. O filme transforma o ator magro em uma pessoa gorda, através do uso de fatsuit, técnica que se utiliza de enchimentos e maquiagem para modificar a aparência de atores. O filme também apresenta em sua narrativa e direção de arte elementos que desumanizam o personagem, reproduzindo estereótipos gordofóbicos (ARRUDA, 2021), como o de comedor compulsivo, sujo, grotesco, entre outros. Através da linguagem cinematográfica, o filme enfatiza de maneira exagerada o tamanho do corpo de Charlie como parte integrante de sua persona, associando-a diretamente à dor e ao processo de luto, de forma a provocar uma resposta emocional no público, gerando repugnância.
Por outro lado, Da’Vine é uma uma mulher negra e gorda, que interpreta Mary Lamb, cozinheira enlutada pela morte de seu filho na guerra do Vietnã. A personagem perpassa desigualdades raciais e sociais, enquanto sofre o luto. O corpo gordo de Mary não é alvo de crítica ou de representação estereotipada, em vez disso, a narrativa se concentra em sua jornada emocional e psicológica, explorando a dor de uma maneira sutil e introspectiva. Ao longo da trama, outras facetas de Mary, para além da tristeza da perda de seu filho, são representadas, ela é uma mulher engraçada, preocupada com os outros e sensível. Aqui, elementos como a fotografia e a trilha sonora criam uma atmosfera de melancolia e introspecção, convidando o espectador a se conectar emocionalmente com Mary.
Em suma, a comparação entre Charlie e Mary Lamb revela como diferentes abordagens estéticas e narrativas podem influenciar a representação dos corpos gordos no cinema. Enquanto o primeiro utiliza o corpo do personagem como um dispositivo sensorial para gerar repulsa, perpetuando estereotipos gordofóbicos, o segundo opta por uma abordagem que destaca a complexidade emocional da personagem, sem recorrer a estes estereótipos. Ambos os filmes demonstram o poder do cinema em evocar respostas emocionais profundas no espectador, explorando as nuances do pensamento sensorial de Eisenstein de maneiras distintas e impactantes.
Bibliografia
- A BALEIA. Direção: Darren Aronofsky. Estados Unidos: A24, 2022. (117min)
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
ARRUDA, Agnes de Sousa. O peso e a mídia: as faces da gordofobia. 1ª ed. – São Paulo: Alameda, 2021.
GONÇALVES, Marco Antônio. Pensamento sensorial: cinema e perspectiva em Eisenstein. In: GONÇALVES, Marco Antônio. O sorriso de Nanook: ensaios de antropologia e cinema. Rio de Janeiro, Maud editora, 2022.
HALL, Stuart. (2016). O espetáculo do “outro”. Cultura e representação. (Org. Arthur Ituassu) Rio de Janeiro: Apicuri/PUC – Rio.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 7-34.
OS REJEITADOS. Direção: Alexander Payne. Estados Unidos: Miramax Films, 2023. (133min)
STRINGS, Sabrina. Fearing the black body: the racial origins of fat phobia / Sabrina Strings. New York, NY : New York University Press, 2019.