Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Roberta Barboza de Oliveira Machado (UFSM)

Minicurrículo

    Produtora Editorial formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista CAPES, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM/UFSM) – linha Mídias e Identidades Contemporâneas. E-mail para contato: roberta.machado@acad.ufsm.br

Ficha do Trabalho

Título

    Representação Corporal no Cinema: O efeito de realidade do corpo gordo

Formato

    Presencial

Resumo

    O pensamento sensorial de Eisenstein defende que a montagem de imagens e sons no cinema pode provocar respostas emocionais. Filmes como “A Baleia” e “Os Rejeitados” exploram o luto e apresentam representações contrastantes de corpos gordos. A comparação entre os personagens Charlie e Mary Lamb ilustra como diferentes abordagens estéticas influenciam a representação, destacando o poder do cinema em evocar emoções e explorar nuances sensoriais.

Resumo expandido

    O pensamento sensorial de Eisenstein argumenta que a montagem de imagens e sons pode evocar respostas emocionais no espectador, indo além da simples compreensão intelectual da trama, de forma que, o cinema possibilita visualizar outras perspectivas e colocar o espectador como sujeito que adota múltiplos pontos de vista. Ocorrendo uma identificação e empatia com o que está sendo representado, sendo um “Efeito de Realidade” (GONÇALVES, 2022, p. 14).
    Nesse contexto, os filmes “A Baleia” (2022), do diretor Darren Aronofsky, e “Os Rejeitados” (2023), do diretor Alexander Payne, empregam elementos visuais e sonoros de maneiras distintas para transmitir a complexidade do luto. Porém, a maneira como são retratados os personagens Charlie (Brendan Fraser) e Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), ambos atores ganhadores do Oscar por seus papéis nestas obras, revela diferentes abordagens estéticas para representar o corpo gordo. Com o objetivo de elucidar a diversidade corporal no cinema, este trabalho explora o entendimento de interseccionalidade (AKOTIRENE, 2020), contextualiza historicamente a gordofobia e suas origens racistas e machistas (STRINGS, 2019), aborda a influência desse viés nas representação midiática (HALL, 2016) e a cultura midiática que enaltece determinados tipos corporais (LOURO, 2000). Além de buscar elucidar eixos de opressão e violações, ao fazer um recorte quanto a corpos gordos no audiovisual, ao propor uma reflexão sobre as obras supracitadas e contrapor a representação dos personagens. Com o objetivo de encontrar características narrativas que contribuem para perpetuar estereótipos gordofóbicos associados ao corpo gordo (ARRUDA, 2019).
    Brendan Fraser interpreta um personagem gordo e gay, enlutado pela morte de seu companheiro, que busca aproximar-se de sua filha em seus últimos dias de vida. O filme transforma o ator magro em uma pessoa gorda, através do uso de fatsuit, técnica que se utiliza de enchimentos e maquiagem para modificar a aparência de atores. O filme também apresenta em sua narrativa e direção de arte elementos que desumanizam o personagem, reproduzindo estereótipos gordofóbicos (ARRUDA, 2021), como o de comedor compulsivo, sujo, grotesco, entre outros. Através da linguagem cinematográfica, o filme enfatiza de maneira exagerada o tamanho do corpo de Charlie como parte integrante de sua persona, associando-a diretamente à dor e ao processo de luto, de forma a provocar uma resposta emocional no público, gerando repugnância.
    Por outro lado, Da’Vine é uma uma mulher negra e gorda, que interpreta Mary Lamb, cozinheira enlutada pela morte de seu filho na guerra do Vietnã. A personagem perpassa desigualdades raciais e sociais, enquanto sofre o luto. O corpo gordo de Mary não é alvo de crítica ou de representação estereotipada, em vez disso, a narrativa se concentra em sua jornada emocional e psicológica, explorando a dor de uma maneira sutil e introspectiva. Ao longo da trama, outras facetas de Mary, para além da tristeza da perda de seu filho, são representadas, ela é uma mulher engraçada, preocupada com os outros e sensível. Aqui, elementos como a fotografia e a trilha sonora criam uma atmosfera de melancolia e introspecção, convidando o espectador a se conectar emocionalmente com Mary.
    Em suma, a comparação entre Charlie e Mary Lamb revela como diferentes abordagens estéticas e narrativas podem influenciar a representação dos corpos gordos no cinema. Enquanto o primeiro utiliza o corpo do personagem como um dispositivo sensorial para gerar repulsa, perpetuando estereotipos gordofóbicos, o segundo opta por uma abordagem que destaca a complexidade emocional da personagem, sem recorrer a estes estereótipos. Ambos os filmes demonstram o poder do cinema em evocar respostas emocionais profundas no espectador, explorando as nuances do pensamento sensorial de Eisenstein de maneiras distintas e impactantes.

Bibliografia

    A BALEIA. Direção: Darren Aronofsky. Estados Unidos: A24, 2022. (117min)
    AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
    ARRUDA, Agnes de Sousa. O peso e a mídia: as faces da gordofobia. 1ª ed. – São Paulo: Alameda, 2021.
    GONÇALVES, Marco Antônio. Pensamento sensorial: cinema e perspectiva em Eisenstein. In: GONÇALVES, Marco Antônio. O sorriso de Nanook: ensaios de antropologia e cinema. Rio de Janeiro, Maud editora, 2022.
    HALL, Stuart. (2016). O espetáculo do “outro”. Cultura e representação. (Org. Arthur Ituassu) Rio de Janeiro: Apicuri/PUC – Rio.
    LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 7-34.
    OS REJEITADOS. Direção: Alexander Payne. Estados Unidos: Miramax Films, 2023. (133min)
    STRINGS, Sabrina. Fearing the black body: the racial origins of fat phobia / Sabrina Strings. New York, NY : New York University Press, 2019.