Ficha do Proponente
Proponente
- Janaína Oliveira (IFRJ / FICINE / NYU)
Minicurrículo
- Janaína Oliveira é pesquisadora e curadora de cinema. Professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e consultora da JustFilms – Fundação Ford. É doutora em História e foi Fulbright Visiting Scholar no Centro n a Universidade Howard nos EUA. Atualmente integra o Comitê de Seleção do BlackStar Film Festival, o conselho consultivo do Doc’s Kingdom, conselho curatorial do Criterion Channel e realiza pós-doutorado Departamento de Cinema da NYU.
Ficha do Trabalho
Título
- Oferendas narrativas para a história dos cinemas negros no Brasil
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- “Oferendas poéticas e políticas” é uma concepção utilizada pela dançarina e cineasta brasileira Ana Pi. Inspirada em Pi, a proposta desta comunicação apresenta “oferendas” narrativas para reflexão sobre a história dos cinemas negros no Brasil. O gesto aqui visa explorar as possibilidades epistemológicas das reflexões sobre as cinematografias negras no país, para além do debate com base no binômio representação/representatividade tão presente nas ponderações e práticas atuais.
Resumo expandido
- “Estamos sempre no meio da jornada”. (BRAND, 2022, p.65)
Em 2023, o curta metragem “Alma no Olho” de Zózimo Bulbul completou cinquenta anos. Considerado o gesto inaugural dos cinemas negros no Brasil, o filme de Bulbul passou boa parte destas cinco décadas numa espécie de ostracismo, ignorado pelo público e pela história do cinema nacional. O reconhecimento da relevância histórica, simbólica e estética da obra é recente, e ocorreu sobretudo a partir do florescimento de uma geração de cineastas e pesquisadores que encontraram nos trabalhos e trajetória Bulbul não só referências cinematográficas, mas também uma inspiração ativista. Os cinemas negros brasileiro, que por muito tempo permaneceu como um projeto aspirado por Bulbul e os demais cineastas de sua geração, atualmente se apresenta como uma das principais vertentes da produção nacional. Um movimento artístico e político, com múltiplos fronts pois cresce exponencialmente não só a quantidade de filmes, mas na quantidade de as mostras e festivas dedicado ao campo, assim como a produção acadêmica da qual inclusive o Seminário Temático “Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas” faz parte.
A presente comunicação apresentará uma reflexão que conjuga dimensões históricas, estéticas, poéticas, e epistemológicas que atravessam a construção deste movimento plural. A proposta, inspirada nas encruzilhadas propostas por Leda Maria Martins, que encontra ressonância e confluências e outras propostas de pensamento que tem a força propulsora de Exú como epistême, e também na concepção de jardin créole de Édouard Glissant. Tratap-se, portanto, não é uma busca por genealogias ou a simples determinação de origens, mas sim de uma investigação pelos entrecruzamentos que conformam as produções artísticas e teóricas nos tensionamentos, dissensos e consensos que hoje vemos emergir quando se fala em cinemas negros no Brasil.
Utilizando a concepção de “oferenda”, empregada pela cineasta e dançarina brasileira Ana Pi em seus trabalhos, a proposta se compreende não como uma disputa narrativa e sim como uma oferta (ou um ebó), que é também poética e política (seguindo os passos de Pi), para pensar a composição do cenário nacional dos cinemas negros. O gesto aqui visa explorar as possibilidades epistemológicas das reflexões sobre as cinematografias negras no país, para além do debate com base no binômio representação/representatividade tão presente nas ponderações e práticas atuais. Pois, pensando junto com Cíntia Guedes em ensaio recém-publicado, nós “não seremos nunca capazes de produzir imagens positivas suficiente para reparar a iconografia do escárnio” (GUEDES, 2024, p. 118) que o cinema e o audiviusal no Brasil produziram sobre as pessoas e as culturas negras.
Bibliografia
- BRAND, Dionne. Um mapa para a porta do não retorno: notas sobre pertencimento. RJ: A Bolha Editora, 2022.
CARVALHO, Noel (org.). Cinema Negro Brasileiro. Campinas: Papirus, 2022.
FLORÊNCIO, Thiago, MEIHY, Murilo, “Feitiço negro, despachos brancos: Epistemologia do despacho e pedagogia anticolonial”, Exilium Revista de Estudos da Contemporaneidade, v. 4 n. 7, 2023, pp. 79-97.
GATES, Racquel and GILLESPIE, Michael Boyce “Reclaiming Black Film and Media Studies”. Film Quarterly, Vol. 72, Number 3, pp. 13–43, 2019
GUEDES, Cíntia. “Para caboclas y sereias que insistem em navegar”. LIMA, Diane (org). Negros na Pisicina. Arte contemporânea, curadoria e educação. RJ: Fósforo, 2024.
GLISSANT, Édouard. Poética da Relação. RJ: Bazar do Tempo, 2021.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. RJ: Editora de Livros Cobogó, 2021
OLIVEIRA, Janaína. “With the Alma no Olho: Notes on Contemporary Black Cinema”. Film Quarterly, Vol. 74, No. 2, pp. 32–38, 2020.