Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Peixoto Curi (ESPM Rio)
Minicurrículo
- Pedro Peixoto Curi é mestre e doutor pelo PPGCOM-UFF e graduado em Comunicação Social (Jornalismo) pela UFRJ. Pesquisa temas relacionados aos estudos de fãs, cultura jovem, televisão e convergência midiática. Atualmente é professor na ESPM Rio, onde coordena os cursos de graduação de Cinema e Audiovisual e Jornalismo.
Ficha do Trabalho
Título
- Para além das plataformas: um olhar ampliado sobre a TV no Brasil
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.
Formato
- Presencial
Resumo
- A partir de uma perspectiva histórica mais ampla da televisão como meio, esse trabalho busca refletir sobre o complexo ecossistema midiático que se desenvolve em torno do conteúdo televisivo no Brasil. Como as TVs lineares, aberta e por assinatura, as plataformas de streaming e até mesmo as redes sociais têm se articulado diante dos novos hábitos dos consumidores, da estrutura de um mercado cada vez mais fragmentado e internacionalizado e da falta de uma regulamentação adequada a essas relações?
Resumo expandido
- No início de seu livro “Television and American Culture” (2010), Jason Mittel discute a evolução da televisão nos Estados Unidos ao longo de diferentes eras. Ele argumenta que embora seja difícil categorizar a TV em eras distintas devido à sua complexidade histórica, é vital reconhecer as mudanças significativas que o meio passou ao longo do tempo. Mittel propõe uma periodização que inclui três eras principais: a Era Clássica das Redes, que estabeleceu, entre as décadas de 1940 a 1980, normas e processos vigentes até hoje; a Era Multi-canal, caracterizada pela segmentação introduzida pela TV a cabo, a transição entre as grandes redes nacionais e as novas tecnologias de programação a cabo e por satélite; e a Era da Convergência, marcada pela ascensão dos meios digitais e desafios à televisão tradicional. Para Mittel, ainda na primeira década dos anos 2000, essa convergência tecnológica nos forçaria a questionar os modelos econômicos tanto do broadcast quanto da televisão multi-canal, enquanto os espectadores tomariam o controle.
Nas últimas décadas, a estrutura industrial da televisão experimentou substantivas transformações em virtude de importantes mudanças tecnológicas, econômicas e culturais. Seu caráter inicial de meio generalista e massivo adquiriu novas formas: novos suportes que ampliam e multiplicam as possibilidades de levar sinais ao espectador, digitalização e compressão de imagem e som que incrementam o volume, a qualidade e a velocidade do que é transmitido, audiências que se segmentam em função de gosto e poder aquisitivo e novas formas de financiamento que se somam aos recursos tradicionais são algumas das características que definem a chamada “televisão posfordista”.
Da mesma forma que o crescimento do sistema de cabo nos anos 90 constitui, sem dúvidas, um dos fenômenos que mais se destaca entre as inovações vinculadas à televisão, o streaming tem levado essas transformações para outra escala.
A experiência de assistir a conteúdos audiovisuais por streaming trouxe para a vida dos espectadores brasileiros novos mediadores de acesso e, aos sistemas de recomendação tradicionais, somam-se os algoritmos, novos aparelhos que permitem uma melhor interação com os diversos conteúdos e aplicativos, agregadores que prometem a solução para a grande oferta de plataformas e soluções que oferecem economia e facilidade na gestão de assinaturas, além do desenvolvimento de um ecossistema midiático complexo do qual fazem parte a TV linear aberta, canais por assinatura, plataformas de streaming, das gigantes internacionais às menores, ligadas à programação linear de diferentes canais abertos, e até mesmo as redes sociais.
Se a convergência de diferentes mídias se torna uma estratégia das grandes corporações, isso acontece porque os consumidores aprenderam novas formas de interagir com o conteúdo que encontram. De acordo com Jenkins (2008, p.44), a convergência é “tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima”. Para ele, “a convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa”. As ferramentas tecnológicas afetam não apenas a disseminação e a recepção, mas também a produção e a interação entre os usuários. As mesmas tecnologias que possibilitaram a participação dos consumidores no conteúdo midiático também alteraram os padrões de consumo.
Sem qualquer intenção de reescrever a história da TV ou isolar o fenômeno do streaming de um contexto maior, esse trabalho busca refletir sobre como tem se relacionado, no Brasil, esse ecossistema midiático do qual fazem parte as TVs lineares, aberta e por assinatura, a internet e as plataformas de streaming diante dos novos hábitos dos consumidores, da estrutura de um mercado cada vez mais fragmentado e internacionalizado e da falta de uma regulamentação adequada que dê conta dessas relações.
Bibliografia
- BOLAÑO, C. Mercado brasileiro de televisão. São Paulo: Educ, 2004.
BUONANNO, Milly. “Serialidade: continuidade e rupture no ambiente midiático e cultural contemporâneo”. In: Matrizes, São Paulo, v. 13, n. 3, pp. 37-58, 2019.
DUARTE, Luiz Guilherme. É pagar pra ver: TV por assinatura em foco. São Paulo: Summus. Editorial, 1996.
HOLZBACH, A.; CASTELLANO, M. (orgs.). Televisões: reflexões para além da TV. Rio de Janeiro: E-papers, 2018.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência: São Paulo: Aleph, 2008.
JOHNSON, C. Branding Television. Nova Iorque: Routledge, 2012.
JOHNSON, D. (org.). From networks to Netflix: a guide to changing channels. Nova Iorque: Routledge, 2018.
LOTZ, A. Portals: a treatise on Internet-Distributed Television. Ann Arbor: Maize Books, 2017.
MITTEL, Jason. Television and American Culture. Nova York: Oxford University Press, 2010.
SGAMMINI, Marcela. Televisión y vida cotidiana: la domesticación del cable en Córdoba. Villa María: Eduvim, 2011.