Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Morgado de Queiroz (UNB)
Minicurrículo
- Professora Adjunta do Departamento de Artes Visuais (VIS), do Instituto de Artes (IdA) da Universidade de Brasília. Pós-doutora, com bolsa CAPES, e Doutora pelo Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ, na linha Tecnologias da Comunicação e Estéticas, com bolsa CNPq. Realizou estágio de doutorado-sanduíche na University of Essex, na Inglaterra, com bolsa FAPERJ. Possui mestrado em Comunicação pela UFRJ (2012) e graduação em Comunicação pela UERJ.
Ficha do Trabalho
Título
- Instalações audiovisuais como dispositivo de “desobediência poética”
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- Colocaremos em debate tanto as quebras de paradigmas formais oriundos do campo ampliado das artes do vídeo, por meio das instalações audiovisuais, quanto o rompimento com as narrativas hegemônicas, por meio da noção de “desobediência poética” (Kilomba), desejante de uma perspectiva decolonial das histórias da arte e do cinema. Iremos mapear e analisar a produção artistica contemporânea em que o vídeo, em formato expandido, faz a mediação entre “inconformismo estético” e “inconformismo social”.
Resumo expandido
- Desde sua emergência híbrida e disruptiva, a tecnologia do vídeo é potencialmente fértil para fissurar pressupostos estéticos que durante séculos encabeçaram a produção de arte ocidental. Nossa pesquisa se propõe a debater tanto as quebras de paradigmas formais oriundos do campo ampliado das artes do vídeo, por meio do entendimento das instalações audiovisuais enquanto dispositivos cinematográficos, quanto o rompimento com as narrativas artísticas hegemônicas por meio da noção de “desobediência poética”, de Grada Kilomba, nos permitindo dar a ver uma perspectiva decolonial das histórias da arte. Deste modo, buscamos articular “inconformismo estético” e “inconformismo social” como valores éticos que vão informar as práticas artísticas contemporâneas sob as quais iremos nos debruçar.
Ao ocupar o território da arte contemporânea, as poéticas em vídeo, que se configuram muitas vezes como “videoinstalações” ou “instalações audiovisuais”, passam a gerar imagens mais livres, subversivas, múltiplas, híbridas e descompromissadas com narrativas lineares, podendo utilizar diversas telas e espaços não convencionais, como ruas, museus e galerias. Diversos autores, como Parente, Maciel, Dubois e Duguet, vem analisando as instalações audiovisuais a partir da noção de “dispositivo” cinematográfico, que nos permitem também analisar as implicações subjetivas, políticas e sociais das videoinstalações contemporâneas.
Ao romper com as dicotomias modernas e quebrar as molduras que separam a arte da vida, tais obras, além de superar a questão da representação, reinventam o ambiente expositivo, incentivam processos híbridos entre diferentes mídias e promovem a participação do espectador. É nesse sentido que gostaríamos de iniciar um mapeamento e analisar o potencial de obras que além de subverter o dispositivo cinematográfico, fissuram os dispositivos discursivos e de poder abrindo brechas para novos modos de ser das imagens em contexto decolonial.
Esses são alguns indícios de que a linguagem insurgente das videoinstalações e da videoarte vem sendo apropriada por artistas dissidentes ou de origens periféricas como dispositivos de “desobediência poética” – termo que deu nome a primeira individual da artista multímidia Grada Kilomba na Pinacoteca de São Paulo, realizada em 2022. A mostra ocupou as salas do museu apresentando instalações audiovisuais em dois canais, em que reconta os conflitos humanos e políticos, supostamente universais da mitologia grega, de forma descolonizada. Os lugares de fala das vozes negras silenciadas ao longo da história são questões que atravessam suas videoinstalações.
Pautada pela investigação dos legados do colonialismo e do racismo, essa artista portuguesa, de origem africana, desafia as formas hegemônicas de produzir e compartilhar arte e conhecimento que espelham relações sociais, econômicas, raciais e de gênero. Seu gesto de indisciplina estética desmantela as estruturas de poder do sistema de arte e insurge-se contra o dispositivo do cubo branco (produtor de uma falsa neutralidade às salas de museus) e contra a linguagem audiovisual e semântica dominante na história oficial da arte e do cinema.
Assim como Kilomba, notamos que cada vez mais artistas contemporâneos vem utilizando a linguagem híbrida e desviante do videoarte e das videoinstalações para rever a narrativa oficial da arte e contar as (suas) histórias que permaneceram invisíveis. Para essa comunicação, vamos reunir alguns desses artistas, como Rosana Paulino, Glicéria Tupinambá, Aline Motta, Salisa Rosa, Ventura Profana, Ana Pi e Maria Fernanda Novo, Castiel Vitorino, Denilson Baniwa, Ayrson Heráclito e Laís Machado – apresentando dispositivos de “desobediência poética” que nos permitem dar visibilidade às múltiplas histórias que a história oficial da arte não conta.
Bibliografia
- CARVALHO, Victa de. O dispositivo na Arte Contemporânea: relações entre cinema, vídeo e mídias digitais. Tese de Doutorado – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
DUGUET, Anne Marie. “Dispositivos”. In: MACIEL, Katia. (org.) Transcinemas. Rio de Janeiro: Contracapa, 2009.
EVARISTO, Conceição. Escrevivências da afro-brasilidade: história e memória. Releitura, Belo Horizonte, Fundação Municipal de Cultura, n. 23, p. 1-17, nov. 2008.
KILOMBA, Grada. Desobediências poéticas. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2019.
________. Entrevista ao jornal “El País” para a jornalista Joana Oliveira, em 11 de setembro de 2019. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/19/cultura/1566230138_634355.html
PAIVA, Alessandra Simões. A virada decolonial na arte brasileira. Bauru, SP: Editora Mireveja Ltda, 2022.
BARROS, L. M. de; FREITAS, K. Experiência estética, alteridade e fabulação no cinema negro. Revista Eco-Pós, v. 21, 2018.