Ficha do Proponente
Proponente
- Andrey Rodrigues Chagas (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutorande e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (na linha Tecnologias da Comunicação e Estéticas) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Administração pela Faculdade Pan Amazônica (2010-2013). Pesquisa: Relações de gênero, sexualidades e raças na Amazônia; Relações culturais afro-indígenas; territorialidades e subjetividades Amazônidas.
Ficha do Trabalho
Título
- AFROFUTURISMO COMO POSSIBILIDADE DE MEMÓRIA E UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA
Seminário
- Tenda Cuir
Formato
- Presencial
Resumo
- A temática da futuridade é, talvez, um novo olhar sobre disputar as vidas racializadas, sendo assim, o artigo pretende discutir sobre o Afrofuturismo através da série de televisão norte-americana de drama e terror Lovecraft Country, de Misha Green, mas especificamente o episódio de número 7 intitulado “I am” (Eu Sou), como também refletir e apostar numa inventividade para uma vida inteira e não mediada pelas amarras sociais, rumo a um futuro que o sujeito consiga se nomear.
Resumo expandido
- No episódio 7, de Lovecraft Country, intitulado “I am” (Eu Sou), a personagem Hippolyta, uma mulher negra, casada e mãe, viaja no tempo, após encontra uma espécie de máquina do tempo. Hippolyta é confronta por uma espécie de alienígena (a figura de uma mulher negra) que a interpela sobre sua existência, forçando-a se nomear. Em suas viagens, Hippolyta reflete sobre seu lugar no mundo e no que o mundo a transformou e percebe tudo o que poderia ser/ter sido e como as amarras raciais as prenderam e condicionaram sua existência enquanto mulher negra, externando suas raivas com o povo branco, pois mesmo sendo livre, ainda vivi em uma prisão formatada pelo racismo, com sintomas invisíveis ou mesmo imperceptíveis, mas com o poder de dizer quem ela é e quem deve ser. Hippolyta então, percebe que sempre foi limitada, pequena e encolhida, tanto pelo mundo, quanto pelo seu próprio marido, o que a leva uma nova viajem ao se nomear como descobridora, contrariando sua pequenez.
Nessa encruzilhada junto a temática da futuridade, propomos uma discussão sobre as perspectivas de futuros negros/racializados através da figura de Hippolyta, em conjunto com as discussões de Saidiya Hartman sobre arquivo, memória e apagamento, espiralar do tempo de Leda Maria Martins pretende-se estender a discussão para os fragmentos de identidades políticas no Brasil como travestis, bichas e sapatões enquanto corpos soterrados, mas que persistem no tempo e, mesmo na insistência da ausência de memória, se tornam maior que o mundo. Como a ficção de Hippolyta é uma fenda para uma reflexão de gênero, sexualidades de corpos racializados e como reverbera nas experiências reais de fazer do corpo um lugar de experiência que desvia da violência.
O Afrofuturismo vem, nos últimos anos ganhando força nas discussões acadêmicas e movimentos político-sociais no Brasil, a expressão afrofuturista nos parece numa primeira análise se debruçar sobre um vasto imaginário propositivo de um outro futuro, de uma inventividade estética rumo a outra possibilidade de existência que contemple a beleza e um modo de viver inteiro, porém, o tema da futuridade na encruzilhada com raça é uma força que encontrou no Afrofuturismo uma forma de fugir, uma fuga capaz de estraçalhar o mundo/modo da forma que é operado. Pensar no afrofuturismo e lança-lo como aposta epistemológica pode ser uma chave para disputar as possibilidades de existir, uma disputa sobre as vidas racializadas.
O termo afrofuturismo foi cunhado por Mark Dery, em 1994, após questionar a ausência de afro-americanos na ficção cientifica. Para a escritora Ytasha Womack, o Afrofuturismo é “uma reelaboração total do passado e uma especulação do futuro repleta de críticas culturais […], uma interseção entre a imaginação, a tecnologia, o futuro e a liberação” (Womack, 2015: 30).
Há um esforço para pensar na criação e possibilidades, através da ficção cientifica, de novos e outros futuros para pessoas negras/racializadas, um novo conjunto imagético inventivo que dê conta de narrar, criar novas cenas organizacionais, como também forja e traçar novas rotas de fugas. A conversa sobre Afrofuturismo pode por vezes parece utópica frente aos mecanismos de regulação do mundo, principalmente, para os corpos racializados diaspóricos pós abolição, porém o movimento especulativo e/ou fabulativo, a partir, do Afrofuturismo pode ser um giro rumo a olhares e compartilhamentos desse mundo que permitam uma existência permeada pelo convívio com o mundo e não ancorada na violência, ou que a memória/arquivo para a futuridade não continue acoplado a história da violência.
Bibliografia
- DERY, Mark. “Black to the future: interviews with Samuel R. Delany, Greg Tate and Tricia Rose”. Flame wars. The discourse of cyberculture. Durham and London: Duke University Press, 1994.
HARTMAN, Saidiya. Perde a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. 1. Ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da Memória: o Reinado do Rosário no Jatobá. 2. Ed. Belo Horizonte. Mazza Edições, 2021.
MOMBAÇA, JOTA. “Lauren Olamina e eu nos portões do fim do mundo” in Caderno Octavia Butler Oficina Imaginação Política. São Paulo: 32a Bienal de São Paulo. 2016
MOTEN, Fred; HARNEY, Stefano. “Negritud y Gobernanza”. En: Los Abajocomunes. Planear Fugitivo y Studio Negro. México: Rancho Electrónico, 2018.
MBEMBE. Achille. Necropolítica. São Paulo: N-1 Editores. 2018.
YASZEK, LISA. “Race in Science Fiction: The Case of Afrofuturism” in A Virtual Introduction to Science Fiction. Ed. Lars Schmeink. Web. 2013.