Ficha do Proponente
Proponente
- Rúbia Mércia de O.Medeiros (UFC)
Minicurrículo
- Realizadora, pesquisadora, curadora e educadora audiovisual. Curadora da Mostra Cine Caratapa (2023-dias atuais). Consultora da Rede Cine +. Professora do Ateliê de Filmes-carta (MST-Ceará) Coordenadora do Programa de Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do CCBJ. Doutoranda no Programa de PPGCOM -UFC, com a pesquisa “Gesto, Corpo e Cena: processos de formação em filmes realizados por mulheres. Integrante do grupo Laboratório de Estudos e Experimentações em Artes e Audiovisual(ICA/UFC).
Ficha do Trabalho
Título
- É tempo de cura: processos de criação da Mostra Sertão Cinema Delas
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta proposta apresenta a prática de curadoria em sala de aula a partir da criação da Mostra Cinema Delas, que parte da experiência do ateliê de Filmes-Carta com mulheres nos assentamentos Recreio e Nova Canaã, em Quixeramobim-CE, em diálogo com o tempo da terra, da cura e do imaginário dessas mulheres, trabalhadoras rurais. Com o objetivo de articular contextos (políticos e estéticos) que atravessam o campo da realização e curadoria em comunidades que estão fora das práticas cinematográficas.
Resumo expandido
- Essa comunicação apresenta a experiência da construção de uma mostra de cinema, com filmes realizados em processos formativos em dois assentamentos do MST, no Ceará. A seguir, um breve relato teórico-metodológico a partir dos filmes e suas interlocuções entre gestos estéticos, políticos, históricos, que agem de forma pedagógica, dentro do processo formativo do ateliê de Filmes-Carta com mulheres dos assentamentos Recreio e Nova Canaã, em Quixeramobim, sertão central do Ceará. A formação teve início em outubro de 2023 e acontece até maio de 2024, culminando com uma mostra de filmes. Apresentaremos o diálogo com a prática de curadoria em sala de aula com mulheres, a fim de desenvolver um pensamento crítico com os temas que os filmes dirigidos por mulheres e exibidos trazem para a centralidade dos encontros. Instigando assim a produção de narrativas audiovisuais e a criação de dispositivos de criação que emergem na construção de uma mostra de cinema que tem como tema: “O tempo da terra, do arar, da cura e do cuidado com o corpo”. Os encontros são constituídos a partir da relação das alunas com seus territórios, no desejo de criar narrativas que possam dar conta de suas vidas cotidianas, de muitas lutas e alegrias.
Como gesto de criar não apenas filmes, mas também uma Mostra de Cinema ao final da formação, costuramos a prática da realização através de ferramentas metodológicas que tecem relação com as imagens/sons constituintes dos seus próprios espaços cotidianos. A metodologia, que propomos no processo pedagógico, gera o diálogo entre o cinema e as realidades das realizadoras, criando camadas de narrativas edificadas na formação, exercitamos em interlocução: mapas afetivos, fotografias narradas, escritas e trocas de cartas, caminhadas sonoras, mapa de sons e de palavras. A costura entre realização e o desejo de fazer circular os trabalhos audiovisuais entre os assentamentos, fez com que incluíssemos na formação um processo pedagógico sobre curadoria como ato de criar e de curar. Nessa intenção colocamos como perguntas ativadoras: O que é curar uma imagem? Como se dão as escolhas de narrativas? Como se montar as escolhas de imagens e sons para um filme? Como fazer seus filmes circularem?
Nesta perspectiva, criamos solo fértil para desenvolver a mostra de filmes, colocando como horizonte relações entre memória, afeto, luta pela terra e pertencimento. Nesse recorte, estamos tecendo ao longo do processo a aproximação com os modos de fazer, de ver e de circular os trabalhos. Tendo estes elementos como território fecundo de realização e de dar a ver as histórias com mulheres. Propomos ao final do itinerário formativo uma vivência estética de troca entre os dois assentamentos em que a partir da troca de imagens, áudios, desenhos etc., tenhamos um acervo para construirmos pequenos experimentos fílmicos que serão exibidos na Mostra Sertão Cinema Delas.
Na formação, mapeamos os filmes exibidos em mostras e festivais que circulam as produções de filmes realizados por mulheres, tais quais: Fincar, Mostra Elas, Mostra Clandestina, FimCine, FeminaFest, Mostra Cine Caratapa, Lugar de Mulher é no Cinema etc., a fim de apresentar possibilidades e formas de exibição dos filmes. Unindo à discussão formas metodológicas e teóricas com a prática de curadoria em sala de aula, trazemos para a centralidade da discussão o papel dos festivais e mostras que atuam diretamente com filmes realizados por mulheres cis, mulheres trans, travestis, em que os relacionamos com os processos formativos. Uma questão importante para essa proposta, principalmente quando falamos de filmes descentralizados, realizados em comunidades fora dos grandes eixos de produção de filmes, é justamente trazermos para a proposta o diálogo entre a prática da realização e a circulação de filmes realizados por mulheres em múltiplos aspectos.
Bibliografia
- CESAR, Amaranta. Que lugar para a militância no cinema brasileiro contemporâneo? Interpelação, visibilidade e reconhecimento. In; Revista Eco Pós- Imagens do Presente – Vol 20, N- 02, Rio de Janeiro, 2017.
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MATTOS, Tetê, “Festivais de cinema no Brasil – uma abordagem feminino” In: TEDESCO, Marina Cavalcanti (Org). Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2021 – p. 179-200.