Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Victor de Oliveira Costa (UFF)

Minicurrículo

    Bacharel em Estudos de Mídia pela UFF (2022). Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual também pela UFF. Se dedica a estudos na área de cinema latino-americano nos anos 60 e 70. Atuou no planejamento, pesquisa e produção do livro “Fernando Pino Solanas: Cinema, Política, Libertação Nacional”, André Queiroz (org.) (Editora Insular, 2022), e na organização do Seminário Internacional Todo Solanas, realizado em maio de 2022.

Ficha do Trabalho

Título

    O conceito de Tercer Cine e as críticas ao cinema novo brasileiro

Formato

    Presencial

Resumo

    Em 1969, os cineastas argentinos Fernando Solanas e Octavio Getino, desenvolveram a partir de suas experiências, os conceitos de três modelos de cinema, baseados na relação de cada modelo com o cinema dominante dos EUA e da Europa. Com isso, teceram críticas a uma série de movimentos cinematográficos. Esta comunicação tem como proposta destrinchar o conceito de Tercer Cine e entender como o cinema novo brasileiro se insere nessas críticas.

Resumo expandido

    Os anos 60 foram transformadores no que diz respeito ao cinema. Diferentes movimentos despontaram ao redor do mundo com propostas estéticas, narrativas e de linguagem inovadoras. Muitos desses estabeleceram uma ruptura com modelos hegemônicos de produção cinematográfica. Principalmente na América Latina, cujo contexto ainda envolvia uma conjuntura política complexa, marcada por golpes militares. A partir desta contextualização, esta comunicação vai focar em dois países: Brasil e Argentina. Ambos passavam por um cenário de instabilidade política, econômica e social.
    No Brasil, uma nova geração de cineastas despontou na década de 60, fruto de uma conjunção de um período político do projeto nacional-populista de João Goulart com foco nas chamadas “Reformas de Base” e de um momento pós-fracasso da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Paulo, símbolo da industrialização do cinema no Brasil nos anos 50. Assim, o grupo, formado por Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni, entre outros, começou a apostar em uma produção independente — em oposição à lógica industrial/comercial — com uma postura crítica e conscientizadora, seguindo a linha do “cinema de autor” tão em voga na Europa, especialmente na França com a Nouvelle Vague.
    Já na Argentina, o grupo Cine Liberación — cujos principais expoentes foram Fernando Solanas e Octavio Getino — apresentaram em 1968 um documentário político de grande repercussão internacional. Trata-se de “La Hora de Los Hornos”, cuja exibição foi proibida na Argentina, que vivia um período de intensa repressão e censura com o governo de Juan Carlos Onganía. Mesmo assim, o documentário norteou todas as experiências de produção, distribuição e exibição clandestinas do Grupo Cine Liberación. A partir dessas experiências, Solanas e Getino publicaram na Revista Tricontinental um manifesto intitulado “Hacia un Tercer Cine”, em que expressaram suas críticas ao modelo de cinema dominante dos EUA e da Europa, estabeleceram que o cinema estaria dividido em três modelos e apresentaram o conceito de cinema militante.
    Neste sentido, o Primer Cine seria a reprodução das principais características de um cinema imperialista, um modelo que visava a comercialização dos filmes e o lucro. O Segundo Cine tinha como ambição alcançar um certo patamar de liberdade criativa nos filmes, uma vez que o cinema industrial/comercial não permitia a adoção de uma posição mais autoral por parte dos cineastas. No entanto, esse modelo — também denominado “cinema de autor” — , por mais que fosse uma oposição ao Primer Cine, atuava no interior deste mesmo sistema, ou seja, uma contradição. Finalmente, o Tercer Cine representa um enfrentamento não apenas ao Primer Cine, mas também ao Sistema Imperialista ao qual esse pertence. Este terceiro modelo também reforça o caráter político do cinema, uma ferramenta de transformação social subversiva e revolucionária. Um cinema, de acordo com Solanas e Getino, “militante”. Por não se encaixar nas estruturas do sistema dominante, o Tercer Cine recorria a sistemas alternativos e clandestinos.
    Dessa forma, o grupo Cine Liberación relacionava diretamente o cinema novo brasileiro à categoria Segundo Cine e, portanto, tecia uma série de críticas a ele. Essas diziam respeito, não apenas à lógica do “cinema de autor” inspirado numa visão europeia, mas sobretudo, a aspectos de financiamento, produção, distribuição e exibição, desenvolvidos no interior do sistema do Primer Cine, ou seja, uma posição equivocada na visão de Solanas e Getino. Considerando o breve contexto apresentado, esta comunicação tem duas propostas. Primeiramente, destrinchar o conceito de Tercer Cine, cuja categoria mais avançada é o cinema militante. Em segundo lugar, expor como o cinema novo brasileiro se encaixa no conceito de Segundo Cine, criticado por Fernando Solanas e Octavio Getino.

Bibliografia

    AUTRAN, A. O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro. São Paulo: HUCITEC Editora, 2013.
    BERNARDET, J. C. Cinema Brasileiro – Propostas para Uma História. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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    GETINO, O. Cine Argentino: Entre Lo Posible y Lo Deseable. Buenos Aires: Ediciones Ciccus, 2016.
    MESTMAN, M. La Exhibición Del Cine Militante: Teoría y Práctica en El Grupo Cine Liberación. In: La comunicación mediatizada: hegemonías, alternatividades, soberanías, pp. 123-137. Buenos Aires: CLACSO, 2009.
    ROCHA, G. Revolução do Cinema Novo. Rio de Janeiro, RJ: Alhambra/Embrafilme, 1981.
    SOLANAS, F. E., GETINO, O. Cine, Cultura y Descolonización. Buenos Aires: Siglo XXI Argentina Editores S.A., 1973.
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