Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Glauber Brito Matos Lacerda (Uesb)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PPGCOM/UFBA). Desde 2012, é professor do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Atualmente, pesquisa a poética sonora do Noticiero ICAIC Latinoamericano.

Ficha do Trabalho

Título

    A música nas primeiras edições do Noticiero ICAIC Latinoamericano

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Nesta comunicação, apresentaremos uma análise transversal dos usos musicais em 8 das 10 primeiras edições do cinejornal cubano Noticiero ICAIC Latinoamericano (1960-1990). Embora o Noticiero tenha passagens notáveis pela musicalização criativa, as primeiras edições estão vinculadas a convenções anteriores ao cinema sonoro. Nosso intuito é aferir possíveis rupturas e continuidades na expressão musical do cinejornal em relação à tradição cinejornalística.

Resumo expandido

    A presente comunicação é parte da investigação intitulada “A música no Noticiero ICAIC Latinoamericano (1968-1972)” que, por sua vez, é um desdobramento da tese de doutorado “Ouço Cuba, vejo Vietnã: monumento e mimeses da poética anti-imperialista do Noticiero Icaic Latinoamericano” defendida no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Póscom/UFBA) em 2021. A investigação atual tem como objetivo mapear e analisar a poética musical das reportagens do cinejornal cubano entre as décadas de 1960 e 1970.
    O Noticiero ICAIC Latinoamericano (1960-1990), nos 30 anos que circulou nos cinemas cubanos, divulgou os avanços do campo socialista no mundo e noticiou as transformações na sociedade cubano após a revolução de 1959. O cinejornal se tornou notável, entre outras coisas, pelos usos de músicas pré-existentes empregadas no intuito de produzir engajamento no público. Dentre as passagens mais conhecidas, estão as canções que imortalizam Benny Moré na reportagem que narra o seu funeral (NIL 142, 25/02/1963), as imagens das lutas pelos direitos civis dos afro-estadunidenses acompanhados pela canção Now! (Jule Styrne/Betty Comden/Adolph) Green), na voz de Lena Horne (NIL 272, 23/08/1965), que viria a se tornar o consagrado curta homônimo de Santiago Álvarez (Cuba, 1965) e a versão dos Beatles para Roll over Beethoven (Chuck Berry) que satiriza a alienação política de parcela da juventude do mundo capitalista (NIL 247, 01/03/1965).
    As primeiras edições, no entanto, no que concerne à música, vincula-se mais com estratégias de musicalização convencionadas desde o período silencioso. Segundo o musicólogo estadunidense James Deaville (2015), ao analisar compilações de partituras e manuais para músicos que acompanhavam projeções nas primeiras décadas do século XX, a música dos cinejornais já era percebida como um elemento fundamental na “formatação da opinião pública”. Ao se debruçar sobre algumas dessas antologias de acompanhamento musical das décadas de 1910 e 1920, Renan Chaves (2022) constata que predominava duas tendências epistemológicas no que tange à música para filmes de não ficção ainda antes do advento do cinema sonoro, são elas:

    (1) ocupar o espaço espectatorial, gerando um ambiente sonoro que fosse agradável ou que não comprometesse a fruição das imagens e de seu conteúdo; (2) encaixar-se ritmicamente, simbolicamente ou metaforicamente ao que era visto, ratificando, representando ou reforçando o conteúdo visual. (CHAVES, 2022, p. 36)

    Nos primeiros números do Noticiero – décadas após o lançamento dessas coletâneas e já na era do som sincrônico – a música está mais a serviço da boa fruição e do reforço do conteúdo visual do que posta em primeiro plano sonoro de modo que a imagem pareça seguir os movimentos musicais, tal como assistimos nas passagens memoráveis do NIL citadas anteriormente. Nos primeiros Noticieros, percebemos uma aparente redundância na articulação entre hinos nacionais e marchas militares e passagem da missão diplomática cubana por países da América do Sul (NIL 1, 06/06/1960), na Marcha Eslava (Pietr Ilitch Tchaicovsk) como um referente geopolítico na reportagem sobre a missão comercial cubana em Moscou (NIL 3, 20/06/1960) e no Hino de Cuba com imagens de trabalhadores cubanos que hasteiam a bandeira do país, em nome da soberania nacional, quando da intervenção cubana nas refinarias de petróleo estadunidenses que operavam no país (NIL 5, 04/07/1960). Em geral, percebemos arranjos sonoros vococêntricos (CHION, 2011), com a voz do narrador sempre em primeiro plano, a música ao fundo estabelecendo conexões rítmicas e/ou simbólicas com as imagens e os efeitos sonoros que se sincronizam e destacam elementos visuais.
    Ao mapear e escrutinar 8 das 10 primeiras edições do Noticiero, compreendemos rupturas e continuidades do Noticiero ICAIC em relação a seus antecessores e, ao mesmo tempo, apresentaremos um quadro referencial que sirva de parâmetro para análises futuras.

Bibliografia

    BERTHIER, N. Fidel Castro: um monumento de celuloide. In: BERTHIER, N; ARÊAS, C. Noticiero Icaic: Memória del Mundo – 30 años de periodismo cinematográfico en Cuba. Madrid: Ediciones Hurón Azul, 2023.

    CHAVES, R. A formação do som do documentário: do cinema mudo ao afloramento do eu-realizador. Tese (Doutorado) – Universidade de Campinas, Campinas (SP), 2022.

    CHION, M. A audiovisão: som e imagem. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.

    DEAVILLE, J. Sounding the World: The Role of Music and Sound in Early “Talking” Newsreel. In: ROGERS, H. Music and Sound in Documentary Film. Londres; Nova Iorque: Routledge, 2015.

    LACERDA, G. Ouço Cuba, vejo Vietnã: monumento e mimeses da poética anti-imperialista do Noticiero Icaic Latinoamericano. 214 páginas, ilustrada. 2021. Tese (Doutorado) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021.