Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz de Oliveira Fonseca (UFPA)
Minicurrículo
- Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFPA e mestranda em artes no PPGARTES-UFPA, trabalha com direção de arte, produção audiovisual e pesquisa. Dirigiu a arte de curtas como O Filho do Homem, vencedor de melhor curta universitário no 10º Cine Fantasy. Foi premiada no 45º Festival Guarnicê com o longa Os Fãs mais Rebeldes que a Banda como melhor direção de arte. Trabalhou na equipe de arte de projetos como Retrato de Um Certo Oriente de Marcelo Gomes e na série Cidade Invisível da Netflix.
Ficha do Trabalho
Título
- A Visualidade Amazônica no Filme Essa Cidade Se Esqueceu Como Planta
Seminário
- Estética e teoria da direção de arte audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho busca promover algumas reflexões acerca do processo de direção de arte do curta-metragem paraense “Essa Cidade Se Esqueceu Como Planta” (dir. Mayara Sanchez, 2024) partindo do olhar da pesquisadora/diretora de arte e dos aspectos que envolvem a construção de uma visualidade amazônica, utilizando os conceitos de atmosfera e espacialidade fílmica.
Resumo expandido
- Neste trabalho pretendo abordar paralelos presentes no curta-metragem “Essa Cidade Se Esqueceu Como Planta” (19 min, 2024), dirigido por Mayara Sanchez, com o conceito de visualidade amazônica (LOUREIRO, 2015) sob o prisma da direção de arte — partindo do processo criativo que realizei enquanto diretora de arte do filme e pesquisadora do tema. Ao realizar um debate que reflete sobre a presença e abordagem desse conceito no que tange a experiência de produção audiovisual na região amazônica, busco pontuar a aplicação de algumas concepções de direção de arte na construção de uma espacialidade própria da região, flexionando com os aspectos de atmosfera (MARTINS, 2017) e espaço fílmico.
A direção de arte se relaciona diretamente com as poéticas que envolvem o espaço fílmico, utilizando elementos e recursos da linguagem cinematográfica a serviço da materialização e projeção de um espaço tridimensional para o espectador, criando imagens e paisagens que constroem uma narrativa fílmica. Entendendo o meu papel como diretora de arte na obra analisada, posso afirmar como alguns aspectos intencionados no processo de realização do trabalho da direção de arte envolveram a seleção, curadoria e disposição de objetos utilizados na narrativa a fim de criar um espaço cênico permeado por materialidades e imaterialidades (DI GRAZIA, 2022).
Livremente inspirado na lenda do açaí, o filme reflete sobre luto, memória e tradição, através da história de um jardineiro e coveiro de uma fictícia ilha nos arredores de Belém que batalha contra a prefeitura da capital para manter o corpo de sua falecida esposa enterrado no seu quintal, seguindo as tradições funerárias da ilha, das quais ele é o último guardião. O trabalho de direção de arte no filme foi feito de forma a valorizar o estético amazônida, preservando certos traços de regionalidade que promovem um caráter de naturalismo ao filme.
A espacialidade que atravessa o filme pode ser entendida como parte integrante do “imaginário amazônico” (LOUREIRO, 2015), esse espaço que possui identidade e códigos próprios, mas que também remonta a um processo de elaboração, um processo de invenção (GONDIM, 2014) pautado no olhar do outro na percepção do território. Um espaço que dá margem para fabulações e criações que surgem através do contato com a paisagem da floresta e dos rios. O personagem segue uma lógica de tradição que possui força e lugar no espaço em que está inserido, e que narrativamente adquire uma abordagem voltada para o sensível.
O trabalho de direção de arte aqui intencionado levou em consideração as condições de produção de baixo orçamento, que tem relação direta com o que seria o custo amazônico e suas particularidades ao se filmar na região Norte do país. As intervenções realizadas nas locações por vezes foram pontuais, procurando valorizar as potencialidades narrativas dos espaços dentro da narrativa fílmica. Partindo do espaço fílmico e através dos recursos de arte, houve a construção da atmosfera visual (GIL, 2011) que atravessa o filme e compõe a atmosfera do filme. Há imagens pontuais de santos, raízes e folhagens diversas que funcionam como plantas curandeiras, velas e bálsamos que se misturam em um altar sacro. Existe uma disposição que é composta por objetos de origens diversas que ao serem colocados lado a lado se transformam e adquirem outro sentido em prol da construção do universo do personagem na narrativa fílmica. O personagem atribui valor sentimental e espiritual para as árvores do quintal de sua casa, considerando as tradições que permeiam o lugar, e os objetos utilizados em cena adquirem outros sentidos quando em contato com o gestual dos atores.
Por fim, ao relacionar os conceitos de espacialidade e atmosfera pretendo também tensionar de que forma nos apropriamos dessa visualidade amazônica na construção imagética do filme, considerando a multiplicidade de abordagens, identidades e vivências contidas nas narrativas amazônicas.
Bibliografia
- DI GRAZIA, Juliana. “Reflexões Sobre o Tecido de Mundo e a Percepção do Invisível na Ambientação do Espaço Cênico Aspirações Merleau Pontianas”. In: JACOB, Elizabeth; ROCHA, Iomana; FASO, Nívea; FERREIRA, Benedito; XAVIER, Tainá (org.). Caderno de Resumos SIDART – I Simpósio Internacional de Direção de Arte Audiovisual. Rio de Janeiro: UFRJ, 2022.
GIL, Inês. A Atmosfera fílmica como consciência. n.2, Lisboa: Caleidoscópio: Revista de Comunicação e Cultura, 2011
GONDIM, Neide. A Invenção da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994.
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica – Uma poética do imaginário. 5ª ed. – Manaus: Editora Valer, 2015.
MARTINS, India Mara. “A Direção de Arte e a Criação de Atmosferas no Cinema Contemporâneo Brasileiro”. In:
BUTRUCE, Débora; BOUILLET, Rodrigo (org.). A Direção de Arte No Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Caixa Cultural RJ, 2017.