Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Luciano Marafon (UTP)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação e Linguagens pela UTP (Bolsa PROSUP-CAPES). Mestre em Comunicação e Linguagens, e Especialista em Intermídias Visuais – Cinema pela UTP. Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Unochapecó.

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativas de Computador: Outra Perspectiva de Produção e Montagem

Formato

    Presencial

Resumo

    O estudo propõe uma discussão sobre novas configurações do cinema. Partindo do ponto que este cinema não é mais somente o da sala escura, proporcionando outras configurações de narrativas e outras construções imagéticas ao espectador. Abre-se a discussão sobre o que é filme, se é que ainda podemos chamar essas narrativas de filmes, apesar de estarem dentro de um contexto de “cinema de dispositivo” por Fernão Ramos. Para compor o corpus de estudo, é analisado Host, Amizade Desfeita, e Searching.

Resumo expandido

    Atualmente, é possível perceber inúmeras formas de criar narrativas, as quais podemos situar em um ambiente de vanguarda, as quais utilizam das redes sociais, aplicativos de comunicação, ciberespaço e telas de dispositivos móveis para a criação de outras formas de produção e montagem. Entendo aqui como novas mídias a partir do pensamento de Lev Manovich (2001), que diz que as novas mídias remetem a processos comunicacionais que passam pelas lógicas computacionais, envolvendo desde a produção até a distribuição de conteúdos. Como defendido por Peter Weibel, “[…] as novas mídias não foram apenas um novo ramo na árvore da arte, mas na verdade transformaram a própria árvore da arte” (Online, 2012). Desse modo, o que se pode apontar é que vivemos em um contexto de pós-mídia, um território, segundo Weibel (2012), no qual toda mídia se torna digital e pode assim ser reconfigurada a qualquer momento. Isso nos leva aos chamados filmes de computador, que são construídos inteiramente através destes dispositivos. Portanto, este estudo foca em narrativas que são construídas a partir das novas mídias, debatendo reconfigurações das imagens a partir do ambiente digital e apontando para uma reconfiguração da produção e da montagem desses conteúdos, que leva em conta aspectos de usabilidade e de interface de outros softwares. Como corpus deste estudo é possível citar os filmes propostos inteiramente pelo computador, tais como Host (2020), Amizade Desfeita (2015), Searching… (2018) e Missing (2023). A escolha dos aplicativos de vídeo chamada para a criação desses filmes influencia na narrativa e na montagem, porém é perceptível uma grande experimentação entre os diversos aplicativos disponíveis. Em questões de narrativa, a história passa a ser contada unicamente em primeira pessoa, através da visão do protagonista.
    Um dos diretores que mais utiliza essas técnicas de produção e montagem é o Timur Bekmambetov. Para o diretor é imprescindível que sejam criadas a partir de três unidades: unidade de lugar, tempo e de som: 1. Unidade de lugar: o cenário é a realidade virtual em geral e uma tela de computador específica, pertencente a um personagem. A ação nunca sai da tela. O espectador deve estar constantemente ciente de onde exatamente se originou a ação que ocorre em um determinado momento; 2. Unidade de tempo: toda a ação ocorre em tempo real – aqui e agora, enquanto o filme é montado por meio de montagem in-frame sem quaisquer transições visíveis; 3. Unidade de Som: todos os sons do filme vêm do computador. Sua origem sempre pode ser explicada racionalmente. Ou seja, quando vemos o filme Host, por exemplo, temos a sensação de participar da vídeo chamada feita pelo Zoom. Afinal, nada que se passa na tela vai além da sala de chamada. Isso ocasiona uma outra perspectiva de pensar a roteirização, já que não é necessário descrever no roteiro os movimentos do mouse, mas sim o abre e fecha de janelas. Também possibilita pensar em formas de montagem que são estritamente limitadas de acordo com o aplicativo utilizado na narrativa. Observando os exemplos citados, podemos apontar que atualmente o surgimento de experimentações com a tecnologia digital disponível tem destacado o papel da interface na montagem de filmes, como cita Carlos Alberto Scolari: “A interface é a mediadora de um intercâmbio que funciona de maneira muito similar à relação entre autor-texto-leitor” (SCOLARI, 2018, p. 226). Estamos em um momento de transição das narrativas, que se tornam interativas, imersivas com realidade aumentada e com um potencial de se tornarem ainda mais populares e amadoras. Essas narrativas computacionais nos levam para além da sala escura, visto que muitas delas não chegam a ser exibidas em salas de cinema, mas sim em serviços de streaming, como no caso de Host. Sendo assim, o debate sobre produção, montagem e exibição desses conteúdos deve ser aprofundado para entender outras perspectivas desse “novo cinema” ou dessa “nova linguagem”.

Bibliografia

    BEKMAMBETOV, Timur. Rules of the Screen movie: The Unfriended. Manifesto for the Digital Age. Movie Maker, April 22, 2015. Disponível em: Acesso em: 05 nov. 2022.

    MANOVICH, Lev. Post-media Aesthetics. In: KINDER, M.; MCPHERSON, T. (Ed.). A
    Decade of Discourse on Digital Culture. Berkeley: Univ. of California Press, 2007. 1a
    ed., 2001.
    _________. Software takes command. Creative Commons Licence. Nova York, Londres, Sidney, Nova Delí: Blumsburry, 2013.

    SCOLARI, Carlos Alberto. Las leyes de la interfaz: diseño, ecologia, evolución, tecnologia. Barcelona: Gedise Editorial, 2018.

    RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal, o que sobrou do cinema? A querela dos dispositivos e o eterno retorno do fim. Revista Galáxia: SP: 2016.

    WEIBEL, Peter. The Post Media Condition, 2012. Disponível em Acessado em 06 de nov. 2022.