Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Patrícia Mourão de Andrade (Unicamp)

Minicurrículo

    Pós-doutoranda no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com bolsa Fapesp (processo 2022/11065-5), tem Pós-doutorado no Departamento de Artes Visuais da Universidade de São Paulo (USP), e doutorado em cinema pela mesma universidade, com bolsa sanduíche na Columbia University.

Ficha do Trabalho

Título

    No princípio era a luz – Lygia Pape e o cinema antes do cinema

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Em 1967, depois de praticamente sete anos sem produzir ou mostrar sua produção artística, Lygia Pape lança, La nouvelle Création. Seu primeiro filme de que se tem notícias, La nouvelle inaugura ainda uma tradição de filmes de artistas que irá florescer nos anos 1970. Mas o cinema não surge na vida de Pape em 1967. Ainda nos anos 1950, ela delineia um conjunto de propostas para situações cinema. Nesta comunicação, pretendo retraçar a relação da artista com o cinema, desde seus primeiros esboços para filmes, passando por sua colaboração com o Cinema novo.

Resumo expandido

    No início da década de 1960, Lygia Pape, uma das maiores expoentes do neoconcretismo, desacelera sua produção, ficando praticamente sete anos sem produzir nem expor novos trabalhos. Em 1967, iniciando uma nova e intensa fase produtiva, ela lança La Nouvelle Création. Seu primeiro filme, La nouvelle também inaugura uma tradição de filmes de artistas que irá florescer nos anos 1970.

    Mas o cinema não surge na vida de Pape em 1967. Como já demonstrei em outras ocasiões, em 1959, no auge de sua fase neoconcreta e pouco antes de desacelerar sua produção, ela desenvolveu um roteiro para um filme abstrato sobre a construção de Brasília. Antes disso ela também havia delineado projetos para filmes ou para “situações-cinema” envolvendo projeções.

    Na segunda metade dos anos 1950, enquanto desenvolvia alguns de seus trabalhos mais conhecidos da época, a série de xilogravuras chamadas Tecelares, ela esboçou algumas propostas para “poemas cinemáticos”. Explorando apenas cor, luz e som, estes seriam filmes curtos, minimalistas, abstratos e não narrativos. Olhando-os de hoje, é notável o seu parentesco com o que viria a ser, quase dez anos depois, o cinema estrutura norte-americano. Com um projetor trazido de uma viagem a Europa também nos anos 1950, ela também trabalhou em um conjunto de “poemas-luz”, como ela os chamava, nos quais explorava um jogo de sombra e luz sobre pequenas superfícies de vidro pintadas, algumas das quais com palavras impressas.

    A contemporaneidade entre os Tecelares e seus primeiros esboços para cinema não é uma coincidência. Embora a fisicalidade de uma xilogravura não pareça em nada próxima da imaterialidade da luz projetada, xilogravura e cinema estarão diretamente relacionados trajetória de Lygia Pape. Pois será pela via da xilogravura, a técnica de reprodução mais artesanal e rudimentar de todas, que a artista se abre ao cinema. “Eu fui cavando o preto até chegar ao branco, que me era, na verdade, o espaço externo. Ao terminar minha pesquisa em gravura, tinha chegado ao branco total. O final da escavação era a luz. (…). Foi assim que cheguei ao cinema, que é cor luz projetada.”

    A xilogravura também a envia ao cinema por outros meios, mais literais. Em 1960, Amilcar de Castro a apresentou a Nelson Pereira dos Santos, que estava atrás de alguém que dominasse a técnica para fazer os letreiros de seu filme Mandacaru Vermelho. A experiência dá certo, e nos anos seguintes Pape colabora não apenas com Nelson, mas também com Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman e Arnaldo Jabor, fazendo letreiros ou cartazes para seus filmes. Trabalha nos laboratórios da Líder, diretamente sobre os copiões, na cozinha do cinema, por assim dizer, acompanhando e participando da feitura das principais obras do Cinema Novo.

    Não é apenas uma colaboração. Nos próximos oito anos, com sua produção como artista paralisada, Pape envolve-se com o cinema de diferentes maneiras – diria, inclusive, que, mais que envolver-se com o cinema, Pape investe nele: seu trabalho como designer não é remunerado. Ela acompanha a programação da Cinemateca, estuda teoria da montagem em cursos no MAM-Rio, organiza sessões em sua casa – foi ali, ainda em 1959, a primeira sessão de Pátio, de Glauber Rocha. Nesse período tem suas primeiras experiências próximas da realização: colabora na montagem de um filme, hoje perdido, do diretor teatral e assistente de Glauber em Barravento, Alvinho Guimarães, chamado Moleques de rua, além de realizar uma vinheta para a Cinemateca do MAM, a convite de Cosme Alves Netto.

    Nesta comunicação, pretendo retraçar a relação da artista com o cinema, desde esses primeiros projetos, passando por suas colaborações com o Cinema novo e a Cinemateca do MAM, até finalmente chegar a seus primeiros filmes finalizados.

Bibliografia

    CANDELA, Iria (org). Lygia Pape: A multitude of forms. Nova York, The Metropolitan Museum of Art, 2017.
    GAENSHEIMER, Susanne (org). Lygia Pape: The Skin of All. Stuttgard, Hatje Cantz. 2022
    PAPE, Lygia. Espaços imantados. Rio de Janeiro: Projeto Lygia Pape, 2004.
    ____________. Gávea de Tocaia. São Paulo: Cosac Naify, 2000.
    ____________. Lygia Pape. Rio de Janeiro: Funarte, 1983.
    ___________. Lygia Pape ‐ Entrevista a Lúcia Carneiro e Ileana Padilla. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.