Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Nakazato Jacobina (UFMS)

Minicurrículo

    Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e graduado em Audiovisual pela mesma instituição.

Ficha do Trabalho

Título

    Violência e censura em “Você também pode dar um presunto legal”

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho parte da análise do filme de “Você também pode dar um presunto legal” (1970/2006) do diretor Sergio Muniz (1835-2023) para investigar a construção das imagens e sons propostos pelo filme e sua relação com a história política do contexto brasileiro do período da ditadura civil-militar. O objetivo principal é compreender como o filme articula censura e violência durante o período ditatorial no Brasil no início da década de 1970.

Resumo expandido

    Este comunicação tem por objetivo apresentar as relações de produção do filme Você também pode dar um presunto legal (1970/2006), de Sérgio Muniz (1935-2023), partindo da pergunta: Como no filme “Você também pode dar um presunto legal”, a música, as vozes narrativas e o futebol fazem a discussão da violência no período ditatorial no início da década de 1970?
    Acreditamos que estes elementos permitem analisar de que forma as relações de produção do filme possibilitam compreender o mecanismo da censura perpetrada pelo regime civil-militar no Brasil, na primeira metade da década de 1970.
    Para que conseguisse sobreviver ao autoritarismo militar, a obra percorreu rotas clandestinas na França, Itália e Cuba (SIMIS, 2006). Na época foi recomendado ao diretor que não exibisse seu filme por tratar de temas como o financiamento de grandes empresas para as práticas de tortura e ainda propor reflexões sobre a ineficiência do Estado diante das ações arbitrárias do Esquadrão da Morte. Ciente dos perigos que envolvia a produção, e diante do cenário de perseguição e violência ditatorial, Muniz escondeu seu filme em película em Cuba e guardou uma cópia em VHS consigo até a primeira exibição pública, que se deu em uma mostra universitária organizada mais de 30 anos depois, pela professora e pesquisadora Anita Simis em 2003 na Unesp – Campus de Araraquara. Somente décadas depois o filme pôde expor fatos históricos sobre a ditadura civil-militar, quando finalmente a produção veio a público (LEANDRO, 2019).
    Assim, o filme retrata a rede de solidariedade que aconteceu entre Europa e Cuba junto ao Brasil. No entanto, é caracterizado por um amplo acontecimento pertencente aos países da América Latina que sofreram com a chegada de ditaduras-militares na segunda metade do século XX. Além disso, segundo a pesquisadora e diretora Anita Leandro (2019), o filme ficou durante trinta e três anos escondido, tendo sido mostrado somente a um grupo restrito de pessoas próximas ao diretor. E foi somente em 2006, após a reedição, que o filme começou a ganhar conhecimento público, principalmente em universidades.
    O levantamento da historicização da obra permite também a compreensão do processo de produção e preservação dos materiais até sua divulgação, 36 anos depois.
    Deste passado obscuro, restam ainda as imagens, sejam em vídeos ou fotografias, que comprovam as atrocidades do autoritarismo dos militares da década de 1970. Dentre os registros, a linguagem audiovisual se tornou uma ferramenta que não só de denúncia, mas também de resistência. São imagens que hoje se tornam provas de crimes contra a humanidade, e que ao sobrevirem no tempo assumem perspectivas de documentos históricos, que permeiam a memória coletiva da sociedade brasileira.

Bibliografia

    AGUIAR, Carolina Amaral de (org). et al. Cinema e história: circularidades, arquivos e
    experiência estética: Salina, 2017.

    AGUIAR, Carolina Amaral de (org). et al. Cinema: estética, política e dimensões da memória. Porto Alegre: Sulina, 2019.

    AGUIAR, Carolina Amaral de. Cinema e História: documentário de arquivo como lugar de memória. Revista Brasileira de História, v. 31, p. 235-250, 2011.

    MORETTIN, Eduardo Victorio; NAPOLITANO, Marcos. O cinema e as ditaduras militares:
    contextos, memórias e representações audiovisuais. 1 ed. São Paulo: Editora Intermeio, 2018.

    NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Editora Contexto, 2004.

    SIMIS, ANITA. Sergio Muniz, uma trajetória. Rev. Eptic (online) v. 1, p.11, 2006