Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Euclides Santos Mendes (UESB)

Minicurrículo

    Euclides Santos Mendes é doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e fez pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). É mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em História Social do Trabalho e bacharel em Jornalismo, ambos pela UESB. Cursou o European Master of Arts in Media, Communication and Cultural Studies, na Itália e na Dinamarca.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema e Neorrealismo na Bahia: a formação do Ciclo Baiano de Cinema

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo investiga o diálogo do Neorrealismo com o Ciclo Baiano de Cinema (1959-1964). Em tal contexto, foi decisivo o trabalho do crítico Walter da Silveira ao fundar o Clube de Cinema da Bahia, em 1950, e ressaltar a importância social de filmes neorrealistas italianos. A partir da ambiência cineclubista e sociocultural em Salvador nesse período, surgiram filmes que dialogam com o ideário neorrealista, como “A grande feira” (1961), de Roberto Pires, e “Barravento” (1962), de Glauber Rocha.

Resumo expandido

    O Neorrealismo surgiu na Itália, dos escombros da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e modificou o modo como a produção cinematográfica passou a se relacionar com o mundo contemporâneo, possibilitando a criação de filmes com orçamentos pequenos em relação aos padrões da indústria cinematográfica e incluindo novas personagens, paisagens e temas oriundos da realidade social das classes populares. No artigo “Uma exigência cinematográfica: a autenticidade nacional”, publicado em 1968, o crítico baiano Walter da Silveira considera o Neorrealismo uma experiência de investigação sobre a sociedade italiana do pós-guerra. A relação entre cinema e Neorrealismo na Bahia surgiu, sobretudo, a partir da atividade de formação cineclubista liderada por Walter da Silveira no Clube de Cinema da Bahia, fundado em 1950, e da necessidade de pensar em novas condições para a criação cinematográfica como expressão de um cinema baiano, do ponto de vista econômico-cultural e preocupado com questões sociais locais. Tal relação, em meio a outras possíveis relações, exerceu papel significativo na configuração de uma cultura cinematográfica que desaguou no Ciclo Baiano de Cinema (1959-1964). No Brasil, o diálogo do Neorrealismo com o cinema nacional ocorreu em meio às transformações políticas, sociais, econômicas e culturais dos anos 1950, época marcada pela modernidade, pelo nacionalismo popular e pela euforia desenvolvimentista do governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961). Em tal contexto, surgiram filmes como “Rio, 40 graus” (1955), de Nelson Pereira dos Santos, que, em diálogo com o ideário neorrealista, criou novas imagens e sons de um país em transformação. Nesse período, houve em Salvador uma intensa movimentação cultural marcada pela ação do Clube de Cinema da Bahia e pela criação das escolas de Teatro, Dança e Música na então Universidade da Bahia, gerando, assim, as condições que possibilitaram o florescimento do Ciclo Baiano de Cinema. Estabeleceu-se, assim, uma rede de interdependências sociais, envolvendo pessoas e instituições que mobilizaram uma formação voltada para as artes, valorizando as tradições da cultura popular afro-brasileira em consonância com ideias vanguardistas. Nesse contexto, coube ao crítico Walter da Silveira e ao Clube de Cinema da Bahia relevante papel na construção de uma cultura cinematográfica baiana, que encontrou expressão crítica nos jornais e, posteriormente, fez a passagem da cinefilia à produção cinematográfica, dando voz e vez a jovens cineastas baianos que fomentaram a invenção de novos rumos para o cinema na Bahia e no Brasil. No processo de configuração do Ciclo Baiano de Cinema, o diálogo com o ideário neorrealista inspirou a criação de condições para um fazer cinematográfico social e humanista, sem grandes orçamentos e aparatos técnicos, tematizado por questões locais, como os desafios urbanos e sociais de uma cidade em expansão em “A grande feira” (1961), filme dirigido por Roberto Pires sobre a ameaça de destruição da feira de Água de Meninos, em Salvador, bem como o misticismo religioso e a exploração do trabalho de pescadores em “Barravento” (1962), primeiro longa-metragem dirigido por Glauber Rocha. Filmes como “A grande feira” e “Barravento” demonstram a potência de um cinema independente na Bahia, feito nas ruas, fora de estúdios, com baixos orçamentos e incorporando características da realidade social local. Esses aspectos econômicos e estéticos se coadunam com o ideário neorrealista que surgiu no pós-guerra e se espalhou pelo mundo, encontrando especial acolhida na América Latina. Na Bahia, o ideário neorrealista ajudou a criar uma consciência crítica em torno das potencialidades do fazer cinematográfico em novas condições de produção e capaz de pensar sobre a realidade sociocultural contemporânea ao Ciclo Baiano de Cinema.

Bibliografia

    CARVALHO, M. S. S. A nova onda baiana: cinema na Bahia (1958-1962). Salvador: EDUFBA, 2003.
    FABRIS, M. Nelson Pereira dos Santos: um olhar neorrealista? São Paulo: EDUSP, 1994.
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    SILVEIRA, W. A história do cinema vista da província. José Umberto Dias (org.). Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978.
    ________. Uma exigência cinematográfica: a autenticidade nacional. Universitas: Revista de Cultura da Universidade Federal da Bahia, nº 1, set./dez. 1968.
    ________. Fronteiras do cinema. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966.