Ficha do Proponente
Proponente
- Elianne Ivo Barroso (UFF)
Minicurrículo
- Professora do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF. Atua no PPGCINE/UFF e PPGMC/UFRJ. Pesquisa desde 2016 sobre montadores brasileiros.
Ficha do Trabalho
Título
- “Fingir é conhecer-se”: em busca do estilo de montagem de Radar (Leovi
Mesa
- Montagem entre gestos e ferramentas
Formato
- Presencial
Resumo
- Retrato de Leovigildo de Souza Cordeiro, conhecido como Radar, atuante no período entre os anos 1960 e 1980 no cinema brasileiro, tendo se destacado como montador cinematográfico. A presente proposta visa entender a contribuição de Radar que montou gêneros diversos, transitando das comédias eróticas à filmes policiais, infantis e experimentais. Através da análise da montagem dos filmes As Audaciosas (Mozael Silveira, 1975), O Esquadrão da Morte (Carlos Imperial, 1975) e Tabu (Julio Bressane).
Resumo expandido
- Em Cinema Inocente (1979), o diretor Julio Bressane demonstra sua admiração por Leovigildo de Souza Cordeiro, mais conhecido como Radar. Trata-se de um filme manifesto sobre o cinema que traz tanto cenas ficcionais como, por exemplo, uma entrevista com o realizador francês Marcel L’Herbier, como também elementos documentais. Nesse caso, Bressane nos mostra seu encontro com Radar, que passeia pelo Rio de Janeiro com seu chaveiro com o símbolo do esquadrão da morte (fala-se que, além de trabalhar com cinema, era também policial). O montador é visto diante da moviola, em voz off, diz “fingir é conhecer-se”, citando Fernando Pessoa. “Onde está Radar?”, se pergunta Bressane, que vai encontrá-lo e entrevistá-lo nos estúdios da Magnus Filmes no Rio de Janeiro. Enfim, Bressane traça um retrato do montador que participou de mais de 100 pornochanchadas, das quais 50 foi editor.
Leovigildo de Souza Cordeiro nasceu em Pernambuco em 1935 e faleceu em 1983. A primeira menção ao seu nome na Base de Dados da Cinemateca Brasileira é como maquinista em No Tempo dos Bravos (Wilson Silva, 1964). Segundo Luiz Felipe Miranda (1990), Leovigildo veio para o Rio de Janeiro ainda nos anos 1950. Fez pequenos papéis, entre outros, em Macunaíma (Joaquim Pedro, 1969). Atuou também em várias funções no cinema antes de se tornar montador. Foi assistente de direção da série Tarzan, feita no Brasil na década de 1960. Foi também continuísta, roteirista, assistente de montagem e diretor do policial Sete Homens Vivos ou Mortos (1972-76).
Nosso interesse é fazer um retrato do montador através de sua biografia, tentando compreender sua trajetória no cinema e analisando a filmografia da qual participou como montador. Chama nossa atenção a diversidade de gêneros montados por Leovigildo, destacando-se as comédias eróticas, os filmes policiais, infantis e autorais. Trabalhou com vários diretores como Élio Vieira de Araújo, Mozael Silveira, Carlos Imperial, Carlos Alberto Almeida, Paulo Barreto, Julio Bressane e Roberto Mauro.
O primeiro filme a ser analisado é As Audaciosas (Mozael Silveira, 1975), que conta a história de Gustavo que trabalha em uma boate e recebe o pedido de um amigo para acompanhar algumas mulheres a uma festa em uma fazenda. O avião faz um pouso de emergência na floresta e eles precisam encontrar o caminho de volta, mas os conflitos se sucedem principalmente depois de um foragido da polícia se juntar ao grupo.
A segunda obra a ser analisada é O Esquadrão da Morte (1975) de Carlos Imperial. Trata-se de uma ficção sobre um assalto a uma fábrica no Rio de Janeiro. Depois de um tiroteio, a polícia prende alguns envolvidos no crime, mas não conseguem recuperar o valor roubado. O mistério aumenta com várias mortes ligadas ao assalto.
O terceiro e último longa-metragem é Tabu (1982) dirigido por Julio Bressane. Radar recebe com o filme o prêmio de melhor montagem pela Associação Mineira dos Críticos Cinematográficos em 1984. Trata-se de um encontro fictício entre Oswald de Andrade e Lamartine Babo, entremeado com cenas de Tabu (1930) do diretor F.W. Murnau e alguns filmes pornográficos. Em uma montagem poética e vertiginosa, os personagens de Oswald e Lamartine divagam sobre muitos assuntos.
Através da montagem dos três filmes, pretendemos identificar gestos de montagem de Radar que demonstram um certo estilo eclético e que se adapta a vários gêneros cinematográficos. “Fingir é conhecer-se” de Fernando Pessoa dá conta da complexidade identitária que tende à fluidez da vida e à capacidade de adaptação de cada um. A frase reflete sobre a natureza da autenticidade e o quão é permeável a fronteira entre ser e performar. É dessa forma que entendemos a presença enigmática de Radar, atravessando tantas formas de montagem, trabalhando em tantas frentes no cinema e, nas horas vagas – quem sabe – fingindo ou sendo policial.
Bibliografia
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