Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    German Nilton Rivas Flores Lima (UFC)

Minicurrículo

    Nilo Rivas é graduado em Ciências da Comunicação pela Universidad César Vallejo e em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente é mestrando em Artes na UFC. Roteirista, montador, produtor e membro do Coletivo #ir.
    nilorivas@alu.ufc.br

Ficha do Trabalho

Título

    Gestos de Montagem em Pontos Estruturantes: A Construção Almodramática

Mesa

    Montagem 24: entre Almodóvar, Inteligência Artificial e Queer VR

Formato

    Presencial

Resumo

    Ao passo que o cinema mergulha na arte de contar histórias, encontra no melodrama terra fértil para testar avanços dramatúrgicos. O almodrama, marcado por elementos como mise en scene, autocitações e cromatismos, é atravessado pelos conceitos de camp e kitsch. Surge então a inquietação de analisar como os gestos de montagem, especialmente em pontos estruturantes, contribuem para esse estilo. O filme “Tudo sobre minha mãe”, de Almodóvar, serve como objeto de análise nesse debate interdisciplinar.

Resumo expandido

    Contamos histórias desde sempre. Para o Cinema, usar uma narrativa envolvente apresenta-se como um desafio por tratar-se de uma arte relativamente nova mas, principalmente, por sua constante evolução epistemológica. Desde “A Poética” de Aristóteles [335 a.C. – 323 a.C.] que estabelece uma estrutura de três atos (começo, meio e fim) e, entre cada um, “uma mudança dos acontecimentos”, até pelo conceito de “plot point” (ponto de virada) que “dão sustentação à história” (SOUZA, s. d.) introduzido por Syd Field, estes elementos estruturais representam a espinha dorsal de um filme clássico.
    Por outro lado, a narrativa de uma história para a tela de cinema se concretiza por meio da montagem: uma seleção de imagens que se justapõem, escolhidas por um_ montador_, entendendo uma ordem e conjugando uma série de elementos com a intenção de transmitir uma mensagem para além do que possamos ver e escutar (SOTTA, 2015). Podemos definir essa conjugação de elementos e os procedimentos composicionais-sensoriais a fim de construírem retóricas visuais como “gestos de montagem” (SZAFIR, 2019). Utilizando as palavras de Eisenstein (2002) “deve-se também notar que a transição no interior de cada parte não é simplesmente uma transição de um estado de ânimo meramente diferente, a um ritmo meramente diferente, a um evento meramente diferente, mas sempre a transição para uma qualidade meramente oposta” (EISENSTEIN, 2002).
    À medida que nos aprofundamos na arte de contar histórias, o cinema encontrou no melodrama terreno fértil para testar seus avanços dramatúrgicos. Este gênero é descrito como “hegemônico na esfera dos espectáculos, do teatro popular do século XIX ao cinema que conhecemos” (XAVIER, 2000), continuando a movimentar grandes massas e, politicamente, alcançando e rompendo esferas sociais e culturais. Na década de 80, ganha destaque o cineasta Pedro Almodóvar “cuja poética teatralizada implica, antes de tudo, a celebração hedonista da corporalidade e do excesso através da diegese, intertextualidade, estética camp/queer ou o recurso ao melodrama” (ROSALES, 2014). Reconhecido por seu estilo cinematográfico, “nomeado ‘almodrama’ por Silvia Colmenero, trata-se de um melodrama visceral onde o desejo está sistematicamente ligado à dor, à perda e à morte” (POYATO, 2014), Almodóvar destaca-se por uma série de elementos intrínsecos à sua obra, que vão desde a mise en scene, autocitações e cromatismos à teatralidade e os programas iconográficos; e é atrelado aos conceitos de camp [estilo que valoriza o exagero, o artificial, o extravagante e o irônico] e kitsch ou seja, considerado de mau gosto, brega ou excessivamente sentimentais (Op. cit). Nessa esteira, surge a inquietação sobre como os gestos de montagem utilizados nos pontos da Sequence Approach, contribui no estilo almodramático?
    Partindo da articulação entre gestos de montagem, almodrama e pontos estruturantes, pretende-se debater uma produção cinematográfica: Tudo sobre minha mãe ou Todo sobre mi madre, que é um filme espanhol de 1999, dirigido por Pedro Almodóvar. Este longa-metragem gira em torno de Manuela (Cecilia Roth), que perde seu filho de 17 anos em um acidente de carro e, a partir disso, decide encontrar o pai do garoto. Durante sua jornada, ela encontra antigas amizades até o momento em que, em um outro funeral, reavê Lola (Toni Cantó) genitor do seu filho, agora transexual. Com uma narrativa emocionante, este filme é aclamado pela crítica e obteve vários prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme Internacional.
    Compreendo, como expectativas de alcance desta proposta, uma trilha interdisciplinar que oportuniza elaborar um cruzamento entre essas práxis artísticas do cinema, que convergem na [re]escrita e na [re]estruturação de um pensamento estético e crítico do cinema à partir de lugares diferentes, mas que se retroalimentam e complementam.

Bibliografia

    ARISTÓTELES. Poética. Tradução Eudoro de Sousa. 2. ed. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. 1990. Série Universitária. Clássicos de Filosofia.

    GULINO. J. Screenwriter: The sequence approach. Fremantle: Ed. Continuum; New edition. 2004.

    EISENSTEIN, S. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.

    POYATO, P. et al. El cine de Almodóvar: Una poética de lo” trans”. Universidad Internacional de Andalucía, 2014.

    ROSALES, M. El teatro en el cine. Signa: Revista de la Asociación Española de Semiótica, n. 23, p. 869-874, 2014.

    SOUZA, J. 8 Sequence approach. Tertúlia narrativa. [s.d.] Disponível em:

    SZAFIR, M. Da retórica: Audiovisual e as regulações das paixões. In: Montagem audiovisual: reflexões e experiências. São Paulo: SOCINE. 2019, p. 107-135.

    XAVIER, I. Melodrama, ou a sedução da moral negociada. Novos Estudos: CEBRAP. v. 2, n. 57, p. 81-90. jul. 2020. Disponível em