Ficha do Proponente
Proponente
- Annyela Gomes Rocha de Oliveira (UFPE)
Minicurrículo
- Annyela Rocha é cineasta, com formação pela Universidade Federal de Pernambuco, e Jornalista, formada pela Universidade Católica de Pernambuco. Trabalha com a imagem e o audiovisual, principalmente com o cinema. Em 2013, fez intercâmbio com bolsa da Capes/Cnpq pelo programa Ciência sem Fronteiras, estudando durante um ano nos Estados Unidos. Em 2020, concluiu uma Pós-graduação em Fotografia, pela Unicap, e atualmente é mestranda em Comunicação no PPGCOM-UFPE.
Ficha do Trabalho
Título
- Isolamentos – relato de experiência de poesia, montagem e confinamento
Formato
- Presencial
Resumo
- Este relato de experiência descreve o processo de realização da videoarte experimental Isolamentos, feita no contexto de isolamento social. O relato traz as escolhas estéticas e teóricas que embasam a investigação de uma montagem vertoviana. A montagem experimental trabalhou com imagens de arquivo pessoal, um acervo de found footage, conceito debatido junto a referências estéticas como o trabalho das cineastas brasileiras Petra Costa e Letícia Simões.
Resumo expandido
- Isolamentos é um vídeo experimental de 10 minutos realizado em 2020, durante um momento adverso de mundo e auge do isolamento social, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso na minha especialização em Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual. O curta surgiu, então, como investigação estética e teórica, se costurando no percurso de disciplinas como Gêneros do Audiovisual, ministrada por Pedro Severien, e também Literatura, Fotografia e Audiovisual, ministrada por Catarina Andrade, que é também agora a minha orientadora enquanto realizo o mestrado no PPGCOM-UFPE.
O curta propôs uma busca de uma identidade de expressão artística cinematográfica, guiada por um sentido poético. Uma resposta não só à necessidade individual da artista, mas também de um registro do espírito coletivo num momento de pandemia mundial. Essa investigação surgiu da hipótese de que, através do processo de montagem autoral com material de arquivo seria possível atribuir novos sentidos e significados para imagens feitas em contextos diversos, gerando reflexões e identificações com seu público-alvo. A montagem é o elemento chave para o diálogo estabelecido com os espectadores, somada às experimentações sobre as imagens com intervenções de apagamentos das pessoas, gerando cenários imaginários do mundo no momento de isolamento social.
O objetivo geral desse processo foi a própria realização do curta-metragem experimental que remete aos tempos de pandemia e isolamento, e teve ainda como objetivos específicos explorar o acervo pessoal desta artista autora, investigar a criação a partir do arquivo e fortalecer ainda a cadeia produtiva audiovisual pernambucana e o conjunto de obras artísticas produzidas por mulheres. As referências teóricas, estéticas e conceituais passam por produções primordiais na história do cinema mundial, como O Homem com a Câmera, de Dziga Vertov, tocando ainda em produções contemporâneas e brasileiras dirigidas por mulheres, como as cineastas Petra Costa e Letícia Simões. O resultado pode ser assistido em https://www.youtube.com/watch?v=UkMoMgY6aR0&feature=youtu.be
O projeto foi todo realizado pela autora deste relato de experiência, Annyela Rocha, sob o nome artístico de Anny Stone.
Nestes vídeos utilizados, feitos entre 2013 e 2020, notei a recorrência de alguns elementos de certa experimentação estética, entre os quais o desapego por uma “perfeição” na qualidade da imagem: o que interessa aqui não é uma alta definição do pixel, mas uma exploração sensorial sobre esses registros. Notei, então, que precisava buscar essa minha “identidade de artista”, na qual interessa não só o resultado final, mas o processo em si, a busca interna por uma linguagem própria, e as formas como essa expressão artística pode vir a gerar emoções nos futuros espectadores. O cineasta Andrei Tarkovski também refletiu sobre essa busca da linguagem:
No entanto, antes de se tornarem de uso comum, as descobertas de métodos e procedimentos têm de se tornar o único recurso de que o artista dispõe para comunicar, através da sua própria linguagem, e tão plenamente quanto possível, a sua visão pessoal de mundo. O artista nunca vai em busca do método pelo método, ou apenas em nome da estética; ele é dolorosamente forçado a desenvolver o método como um meio de transmitir com fidelidade a sua visão de autor acerca da realidade (TARKOVSKI, 2010, p. 95)
Fui, assim, completamente guiada pela soma das referências visuais, estéticas e teóricas percorridas, e sempre resgatando o sentimento de trabalhar de uma maneira que fosse leve e prazerosa nessa produção artística. Construir esta videoarte experimental ao longo das disciplinas foi essencial para criar o produto final Isolamentos de uma maneira que resultou numa visão de mundo particular, com o estabelecimento de uma linguagem própria a partir da montagem no audiovisual.
Bibliografia
- BACHELARD. Gastón. A Poética do Espaço. São Paulo: Abril Cultural, 1978;
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política: Obras Escolhidas. 1a. Edição, 11a. Reimpressão, São Paulo: Ed. Brasiliense, 2008;
DIDI-HUBERMAN, Georges. Cascas. Tradução de André Telles. Serrote: Uma Revista de Ensaios, Artes Visuais, Ideias e Literatura, São Paulo, n. 13, p. 99-133, mar. 2013;
MORIN, Edgar. O Cinema ou O Homem Imaginário – Ensaio de Antropologia Sociológica. 1a. Edição, São Paulo: Realizações Editora, 2014;
XAVIER, Ismail. Sétima arte: Um culto moderno. O idealismo estético e o cinema. São Paulo: SESC, 2017.STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Tradução de Fernando Mascarello. Campinas: Papirus, 2003;
TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 3a. edição. São Paulo: Martins Fontes, 2010;
TAYLOR, Diana. O Arquivo e o Repertório: Performance e Memória Cultural nas Américas. 1a. Edição, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013.