Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Vanessa Maria Rodrigues (UFF)

Minicurrículo

    Doutoranda em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF). Pesquisa a preservação da coleção de filmes do cineasta doméstico Nahim Miana, realizados nas bitolas 8mm e 16mm ao longo das décadas de 1940 a 1970. Mestre em Artes, Cultura e Linguagens pela Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGACL-UFJF), com dissertação sobre a reutilização de filmagens de arquivo. Pesquisadora associada do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA-UFF).

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativa e montagem em filmes domésticos de Nahim Miana

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Nosso objetivo é analisar as estratégias de narrativa e montagem empregadas nos filmes domésticos Virginia vai à escola (1951), Quitandinha Petrópolis (1949) e Eliane ensaia seus primeiros passinhos (1951), realizados por Nahim Miana. Para isso, utilizamos como metodologia a revisão manual, fotograma a fotograma, das películas em mesa enroladeira. A investigação demonstrou que essas produções seguem as normas e princípios do cinema clássico e contam com diferentes procedimentos de montagem.

Resumo expandido

    Nesta comunicação, analisaremos as estratégias de narrativa e montagem de três filmes domésticos: Virginia vai à escola (1951), Quitandinha Petrópolis (1949) e Eliane ensaia seus primeiros passinhos (1951). Esses títulos fazem parte da coleção Nahim Miana, formada por 34 rolos de películas cinematográficas doadas, no ano 2000, à Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), em Juiz de Fora (MG).
    Descendente de imigrantes sírio-libaneses, Nahim Miana nasceu em 1922, em Santos Dumont (MG). Ainda criança, juntamente com a família, ele se muda para a vizinha Juiz de Fora, também na zona da mata mineira, onde reside até a morte, em 2001. Nahim nunca teve relação profissional com o cinema: inicialmente, trabalhou como industrial e, a partir do final da década de 1950, atuou como professor de inglês, atividade que exerceu até cerca de três anos antes de morrer. Os filmes eram realizados por ele por “diletantismo”, logo, não havia intenção comercial nem interesse em que as obras fossem exibidas além do círculo familiar, amical e circunvizinho mais próximo. Não se sabe ao certo quando e o porquê Nahim começou a filmar, mas a produção mais antiga dele existente na Funalfa data de 1947, ano do nascimento de Virginia, sua primogênita. Os demais filmes de Nahim pertencentes à instituição foram feitos até meados da década de 1970. As temáticas dos registros giram em torno dos eixos: família e infância; eventos públicos e políticos; práticas religiosas; e passeios.
    Nesta discussão, propomos conectar as obras Virginia vai à escola (1951), Quitandinha Petrópolis (1949) e Eliane ensaia seus primeiros passinhos (1951) a uma ótica mais global, uma vez que a história e a historiografia do cinema geralmente têm recorte no estudo dos longas-metragens comerciais de ficção (Bernardet, 2008), dedicando menor espaço às produções que não se encaixam nesse perfil, mas que são outro modo igualmente importante de se entender as muitas veias da tradição cinematográfica, como é o caso dos filmes amadores/domésticos. Estes, além de propiciarem novas perspectivas para as reflexões sobre o cinema, permitem leituras a partir de diferentes enfoques historiográficos, viabilizando questionamentos variados às filmagens do passado (Zimmermann, 2008).
    Nossa metodologia se baseia no estudo da fisicalidade da manifestação original em que as obras de Nahim foram realizadas, ou seja, na análise das cópias físicas nos formatos 16mm e 8mm doadas à Funalfa e levadas, em 2022 — a partir de um convênio firmado no âmbito da minha pesquisa de doutorado —, para o Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (Lupa-UFF) para ações de revisão, catalogação e reparo. Para isso, tomamos como base o trabalho de crítica e exame manual em mesa enroladeira de Óculos do Vovô (dir. Francisco Santos, 1913), feita por Maria Rita Galvão (2018). Utilizamos ainda a possibilidade de contato com a materialidade da película para a investigação do fotograma fixo, similarmente à abordagem dos pesquisadores Jacques Aumont e Michel Marie (2004) e Bordwell e Thompson (2013).
    A partir desses métodos, identificamos que as produções cinematográficas realizadas por Nahim seguem as normas e princípios do cinema clássico, com narrativas lineares (com começo, meio e fim); personagens, ação, tempo e espaço bem definidos; uso de pontuações (fades e wipes) e efeitos ópticos. Além disso, a prática da montagem é constantemente adotada pelo cineasta doméstico: seja ela durante a própria filmagem, numa roteirização de quando acionar e parar a câmera; ou na pós-produção, por meio das emendas entre planos e a inserção dos créditos e cartelas elaborados manualmente.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.

    BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro: Metodologia e Pedagogia. São Paulo: Annablume, 2008.

    BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A Arte do Cinema: Uma Introdução. Campinas, SP: Editora da Unicamp; São Paulo, SP: Editora da USP, 2013.

    GALVÃO, Maria Rita. Jogo de Armar: Anotações de catalogador. Vivomatografías. Revista de estudios sobre precine y cine silente en Latinoamérica, n. 4, diciembre de 2018, pp. 167-187.

    ZIMMERMANN, Patricia. Introduction. The Home Movie Movement: Excavations, Artifacts. Minings. In: ISHIZUKA, Karen; ZIMMERMANN, Patricia (ed.). Mining the excavations in histories and memories home movie. California: University of California Press, 2008. p. 1-28.