Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Maria Acker (ULBRA)
Minicurrículo
- Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e mestra pela mesma instituição. Professora e coordenadora do curso de Jornalismo, presencial e EaD, da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. É bacharela em Comunicação Social – Jornalismo e especialista em Cinema pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Realiza pesquisas sobre o gênero horror no cinema, experiência estética, tecnologia e Jornalismo.
Ficha do Trabalho
Título
- Imagens do passado nas reconfigurações do slasher em X e Pearl
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- A proposta analisa os slashers X – A Marca da Morte (2022) e Pearl (2023), de Ti West, a fim de compreender como os filmes reconfiguram o subgênero na contemporaneidade. Argumentamos que as obras possuem estratégias peculiares de ativação das camadas de passado, pois evidenciam traços da ficção gótica. É como se o slasher buscasse a rememoração para a autocrítica aos cânones. A diferença agora é que a nostalgia ocorre após período de explosão de ambiências digitais em múltiplos dispositivos.
Resumo expandido
- Desde os primeiros filmes, o slasher sempre foi identificado como um subgênero polêmico do horror. Dos exageros em violência e sangue à exposição do corpo feminino (HUTCHINGS, 2004; CLOVER, 1992), as produções conseguiram ao mesmo tempo dividir a crítica e lotar salas de cinema, sobretudo de adolescentes (DIKA, 1987). Reverberando uma guinada conservadora dos Estados Unidos, os filmes a partir do final dos 1970 do mesmo modo levavam os medos da branquitude às telas, invisibilizando os negros e outras questões sociais (COLEMAN, 2019). Caracterizados por muitos assassinatos de jovens, trazem ainda o ponto de vista do agressor, majoritariamente masculino (DIKA, 1987), o que gerou controvérsia referente à identificação do público com os personagens. Porém, paradoxalmente, as mulheres já eram apontadas como a maioria entre os aficionados por essas obras, segundo o ensaio de Vera Dika (1987). Podemos inferir que a figura da final girl (CLOVER, 1992) contribuiu para isso. As contradições demonstram que o subgênero não se resume à sangue e exploração de corpos, pois, em que pese os períodos de saturação (ROCKOFF, 2002), a produção de slasher mantém uma constância e nesta proposta abordamos duas obras contemporâneas: X – A Marca da Morte (2022) e Pearl (2023), ambos de Ti West. O fechamento da trilogia, Maxxxine, será lançado ainda em 2024.
Para alcançar os objetivos, o horror precisa equilibrar ressonância e violação, familiaridade e choque (PHILLIPS, 2005). O slasher opera mais pela violação e choque, todavia no corpus de análise outros elementos se sobrepõem. Nestas produções, identificamos a autorreflexividade e ativação da memória do espectador por meio de elementos estéticos e narrativos nostálgicos e de simulação de diferentes suportes de imagem. A experiência de algo já visto (DIKA, 1987) é recorrente no slasher, como se o público estivesse preparado para o que vai encontrar. A autocrítica realizada pelas obras de West quebra algumas dessas expectativas, promovendo reconfigurações, entre elas a da garota final e da assassina em série, que se conectam pelo duplo. A materialidade fílmica evidencia uma fotografia que simula obras clássicas, sejam as de horror ou melodramas, fantasia e musical. Não se trata de buscar todas as referências e menções a filmes consagrados, mas de analisar como o passado e a nostalgia se engendram com a narrativa. Júlio França (2017) observa que há três elementos recorrentes na estrutura narrativa gótica: “o locus horribilis, a personagem monstruosa e a presença fantasmagórica do passado” (2017, p. 2493). Em desencanto diante do mundo e da perspectiva de futuro, postura característica da Modernidade, “os eventos do passado não mais auxiliam na compreensão do que está por vir: tornam-se estranhos e potencialmente aterrorizantes, retornando, muitas vezes em figurações fantasmagóricas, para afetar as ações do presente” (FRANÇA, 2017, p. 2493). Já Claudio Vescia Zannini (2017) defende que há sim uma aproximação entre o slasher e esse tipo de narrativa justamente pelo subgênero cinematográfico apresentar os três aspectos fundamentais da ficção gótica delineados por França (2017). A mesma fazenda isolada é o lugar dos traumas que desencadeiam os assassinatos em série cometidos por Pearl (Mia Goth). A personagem monstruosa se desvela da juventude à velhice em imagens que transitam por diversas texturas.
Argumentamos que X e Pearl reforçam o lugar do slasher no horror, possuindo estratégias peculiares de ativação das camadas de passado, uma vez que evidenciam traços da ficção gótica. É como se o slasher buscasse a rememoração a fim de trilhar o caminho da autocrítica aos cânones. Assim, estruturamos o pressuposto de que o passado em X e Pearl pontua a relação entre o slasher e o gótico e corrobora a discussão de que esses filmes são compilações autorreflexivas para o gênero. A diferença agora é que a nostalgia em imagens ocorre justamente após período de explosão de ambiências digitais e diversos dispositivos.
Bibliografia
- CLOVER, Carol. Man, Women and Chainsaws: gender in the modern horror film. Princeton: Princeton UP, 1992.
COLEMAN, Robin R. Means. Horror Noire: a representação negra no cinema de terror. Rio de Janeiro: DArkSide Books, 2019.
DIKA, Vera.‘The Stalker Film’. Urbana & Chicago: American Horrors: Essays on the Modern American Horror Film, 1987.
FRANÇA, Júlio. O Gótico e a presença fantasmagórica do passado. Anais XV Abralic, 2017, p. 2493 – 2502.
HUTCHINGS, Peter. The Horror film. London: Routledge, 2004.
PHILLIPS, Kendal. Projected fears: horror films and American culture. Westport, USA: Praeger, 2005.
ROCKOFF, Adam. Going to pieces: the rise and fall of the slasher film, 1978 – 1986. Jefferson, USA: McFarland & Company, 2002.
ZANINI, Claudio Vescia. A máscara de quem te mata espelha teu medo: a indeterminação do rosto assassino e outros rastros do gótico nos filmes slasher. Anais XV Abralic, 2017, p. 1863 – 1869.