Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Francisco Elinaldo Teixeira (UNICAMP)

Minicurrículo

    Titular em comunicação e cinema, professor do curso de Midialogia e do Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP. Autor, entre outros dos livros: O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea (org.). São Paulo: Hucitec, 2015; Arqueologia do ensaio no cinema-audiovisual brasileiro (Formações e Transformações). São Paulo: Hucitec, 2022.

Ficha do Trabalho

Título

    Prerrogativa do intercessor no filme-ensaio de arquivo-found footage

Formato

    Presencial

Resumo

    O filme “Máquina do desejo – Os 60 anos do Teatro Oficina” (Joaquim Castro & Lucas Weglinski, 2021), estrutura-se inteiramente com materiais de arquivos diversos, notadamente, da exuberância arquivística do próprio Teatro Oficina. Trata-se de uma história arqueológica, aparentemente linear, mas cheia de descontinuidades constituídas de camadas em constantes atualizações de sua trajetória. A forte presença de Zé Celso, e não dos realizadores, opera-se como modo de criação de intercessor no filme.

Resumo expandido

    “Máquina do desejo”, indexado como documentário, foi premiado como melhor montagem (Festival É Tudo Verdade), tendo suscitado debates a respeito de sua consistência pouco inovadora, por demais linear, concomitante com uma leitura de que a forte presença de Ze Celso teria algo de excessivamente biográfico.
    De fato, para além de um mero documentário de compilação, trata-se de uma forte experimentação com materiais extraídos de arquivos, com foco nos regimes de visibilidades e enunciados autorizados em vários momentos históricos (populismo, regime militar, exílio, abertura, atualidade), assim constituindo-se como um filme-ensaio dos mais significativos de uma cultura dos arquivos da contemporaneidade.
    O filme-ensaio enquanto inscrição da subjetividade do ensaísta, de seus movimentos e processos de pensamento, articula-se pela via de sua presença em corpo e/ou voz, mas também pela solicitação de intercessores, personagens conceituais ou figuras estéticas, com os quais intercede na escolha de materiais de composição, na elaboração de combinatórias dos materiais, visando a criação de sentido. Tal relação de intercessão se manifesta, sobremaneira, nesses ensaios fílmicos realizados quase que inteiramente de materiais apropriados, com o recuo da presença em corpo e/ou voz do realizador, quando então solicita intercessores ao longo do processo fílmico.
    “Máquina do desejo”, nesse sentido, ´solicita a forte presença de Zé Celso, não com um propósito biográfico, mas como um intercessor que ao longo do filme adquire personas diversas tais como Dionísio, Xamã, Antropófago pós moderno. Ai, a inscrição dos movimentos e processos de pensamento dos realizadores, de suas subjetividades, se opera pela montagem-edição de vastos materiais de arquivo (visuais, sonoros) dos quais se apropriam e ressignificam, propondo-nos uma relevante arqueologia do presente do Teatro Oficina e, para além disso, de uma potente concepção da criação artística.

Bibliografia

    Deleuze, Gilles. Foucault. Lisboa: Vega, s/data.
    Foucault, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis/RJ: Vozes, 1972.
    Oiticica, Hélio. “Experimentar o experimental”. São Paulo, Arte em Revista, no. 5, 1980.
    Teixeira, F. E. O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea (org.). São Paulo: Hucitec, 2015.
    ______________.Arqueologia do ensaio no cinema-audiovisual brasileiro (Formações e Transformações). São Paulo: Hucitec, 2022.
    Weinrichter, Antonio. Metraje encontrado. La apropiación en el cine documental y experimental. Pamplona/ES: Fondo de publicaciones del gobierno de Navarra, 2009.