Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Angélica Del Nery (ECA-USP)

Minicurrículo

    Maria Angélica Del Nery (São Paulo, 1964). Cineasta, fotógrafa, artista visual. Doutoranda no PPGMPA-ECA-USP; mestre em Artes (PPGAV-ECA-USP; 2017); pós-graduada em Fotografia (FAAP; 2014). Principais trabalhos em direção de filmes: Urucuia; Livro para Manuelzão; Turista Aprendiz; Exercícios do Olhar; Um. Principais publicações em fotografia: Brasil da Sanfona; Violeiros do Brasil; Povos de São Paulo; Presença. Exposições recentes: Sala Devir Cinema; Tempo Permanência Carnaval.

Ficha do Trabalho

Título

    O sonho da Ninfa: a imagem sobrevivente em The Dreamers, de Bill Viola

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    A videoinstalação The Dreamers (2013), de Bill Viola, traz a tensão entre o estático e o movimento. Na obra, a aparente imobilidade de corpos submergidos está em oposição à mobilidade de suas vestes e seus cabelos; o movimento visível da matéria está em oposição ao movimento invisível dos sonhos. A partir do estudo de Aby Warburg sobre a Ninfa na pintura de Botticelli e a partir de reflexões sobre imagens fixas e imagens em movimento, este trabalho pergunta-se: como sonha a Ninfa contemporânea?

Resumo expandido

    The Dreamers (2013) é uma videoinstalação do artista Bill Viola composta de sete vídeos dispostos em uma sala escura, sendo que em cada vídeo vemos uma personagem enquadrada em plano americano. São sete pessoas de idades e características diversas; todas submersas e de olhos fechados. Seus cabelos e vestes se movimentam com a água, mas seus corpos aparentam imobilidade. Uma tensão se mantém como um silêncio denso: fixidez e movimento, sono e sonho, morte e vida. A operação técnica é muito nítida: é o ralentamento extremo. O que este trabalho nos fala de temporalidade? No que essa temporalidade decorre de sua intermidialidade?
    O estudo da videoinstalação The Dreamers pretende o cruzamento de quatro eixos. O primeiro eixo parte do tensionamento do próprio meio expressivo (vídeo) com a fotografia e a pintura. Nos sete vídeos, apesar do movimento constante, temos a impressão de estar diante de instantâneos fotográficos. Esta impressão, que nos chega de relance, parece vir da imobilidade aparente dos corpos. Por outro lado, o enquadramento e a caracterização de cada personagem com trajes muito específicos trazem uma carga de subjetividade comum aos retratos. O segundo eixo de análise parte da relação de Bill Viola com o elemento água, tão presente em sua obra e em seu pensamento sobre a vida. Em The Dreamers é a água que gera todo movimento figurado. O terceiro eixo parte da relação de The Dreamers com a Ninfa warburguiana. O estático dos corpos e o movimento incessante dos cabelos e vestes trazem uma sutil tensão que nunca se esvai. A figura de uma menina de cabelos claros e longos, com uma blusa vermelha de fino tecido e babados, atrai nosso olhar. Estamos diante de uma imagem sobrevivente? Também em The Dreamers a relação entre Bill Viola e a pintura do Quattrocento volta a figurar. O quarto e último eixo diz respeito ao sonho. O título da obra nos diz que as personagens sonham, mas seus sonhos são inacessíveis para nós, e, então, só nos cabe imaginar. Das sete imagens videográficas, em seu limiar entre movimento (visível e invisível) e fixidez, emerge, com a Ninfa, uma experiência de temporalidade ligada à memória e ao desejo.
    Com que sonha a Ninfa de Bill Viola? Para formular esta pergunta, este estudo realiza um movimento em direção aos escritos de Aby Warburg sobre Botticelli e às suas reflexões sobre Nachleben, Pathosformel; e um movimento em direção aos escritos de Giorgio Agamben, Philippe-Alain Michaud e Georges Didi-Huberman sobre o pensamento de Warburg e, em específico, sobre a presença da Ninfa na contemporaneidade. O ensejo deste estudo é refletir sobre como, em The Dreamers, a partir da tensão entre movimentos visíveis, fixidez e movimentos invisíveis, e a partir do limiar entre imagem e imaginação, Bill Viola acolhe a imagem sobrevivente, atemporal, da Ninfa.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. Ninfas. São Paulo: Hedra, 2012.

    BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

    ______. Ninfa fluida. Essai sur le drapé-désir. Paris:Gallimard, 2015.

    DUBOIS, Philippe. Photographie & Cinéma: de la différence à l’indistinction. Paris: Éditions Mimésis, 2021

    GUIDO, Laurent; LUGO Olivier (Orgs.). Fixe/animé: Croisements de la photographie et du cinéma au XXe siècle. Lausanne/Paris: L’age d’Homme, 2010.

    HANHARDT, John G.. Bill Viola. São Paulo: Edições SESC, 2018

    MICHAUD. Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.

    ______. Filme: por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto: 2014.

    WARBURG, Aby. Sandro Botticelli: o Nascimento de Vênus e a Primavera. Lisboa: KKYM, 2012.