Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Sabrina Tenório Luna da Silva (UFMT)

Minicurrículo

    Sabrina Tenório é professora da graduação em Cinema e Audiovisual da UFMT. Doutora e mestre em comunicação pela UFPE, realizou doutorado sanduíche na Universidade Livre de Berlim com bolsa da Capes.

Ficha do Trabalho

Título

    Direção de arte entre a ficção e o documentário: Uma análise de Cavalo

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste artigo, pretendemos debater aspectos relativos à direção de arte no filme Cavalo (2020, dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti). Localizado entre o documentário e a ficção, o primeiro longa-metragem fomentado por um edital público em Alagoas, tem como tema o resgate da ancestralidade, da memória do corpo e das identidades a partir das religiões de matriz africana. Fruto de cinco anos de pesquisa e desenvolvimento, Cavalo apresenta aspectos relevantes para o campo da arte.

Resumo expandido

    Neste artigo, pretendemos analisar a direção de arte em Cavalo (Dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti, 2020), primeiro longa-metragem fomentado por edital público em Alagoas desde a implantação de editais de longas com arranjos regionais. O filme se localiza entre a ficção e o documentário, sendo definido como uma obra híbrida. O processo de pesquisa e desenvolvimento que resultou em sua realização durou aproximadamente cinco anos e envolveu reflexões que transformaram o roteiro e a proposta iniciais.
    A direção de arte, assim como, em diversos casos, a presença de atores e preparadores de elenco, pode ser percebida de forma constante em produções que se situam entre o documentário e a ficção no cinema brasileiro. Além de Cavalo, destacamos a presença de diretores de arte em filmes tão diversos como o curta-metragem Ilha das Flores (1989, dir. Jorge Furtado), com direção de arte de Fiapo Barth, além dos longas Avenida Brasília Formosa (2010, dir. Gabriel Mascaro, direção de arte: Thales Junqueira), Elena (2012, dir. Petra Costa, direção de arte: Alonso Pafyeze) e Brasil S/A (2014, dir. Marcelo Pedroso, direção de arte: Juliano Dornelles).
    Em artigo onde analisam a direção de arte e a encenação na obra documental de Agnés Varda, Souto e Rocha afirmam que “a direção de arte, departamento tão associado à ficção, comparece no documentário trazendo novas perspectivas e se somando ao desejo de experimentar e jogar com a representação” (SOUTO, M.; ROCHA, R. A, ano, 101).
    A direção de arte do filme Cavalo foi assinada por Nina Magalhães e Weber Salles Bagetti. O filme, que tem preparação de elenco de Glauber Xavier e Flávio Rabelo, contou com sete jovens que mergulharam em um processo artístico de criação a partir da dança, do corpo e dos movimentos.
    Nas religiões de matriz africana, Cavalo é aquele que é capaz de receber entidades em seu corpo. A preparação de elenco teve como objetivo resgatar a ancestralidade, a memória do corpo e a identidade e tudo isso foi estimulado pela escolha de locações com forte significação, além de intervenções cenográficas realizadas de forma pontual.
    A eleição da arquitetura e da paisagem estão na base da cenografia cinematográfica (HAMBURGER, 2014, p. 32) e no caso de Cavalo ela aparece também como local de resgate da ancestralidade e como base da proposta de realização.
    No início da obra, as cartelas iniciais contam a história da criação do mundo a partir da mitologia Iorubá e logo após vemos uma reencenação do processo ocorrer no manguezal. Maceió e Alagoas são espaços importantes na constituição da obra e espaços diversos como avenidas, o palco do Teatro Deodoro, onde ocorrem os ensaios dos atores, assim como suas casas e locais como a Lagoa do Mundaú nos são apresentados.
    O filme também conta com chuva cenográfica e com a criação de um storyboard pelo diretor de arte Weber Salles, onde vemos imagens detalhadas de cenas de posteriormente foram filmadas na Lagoa do Mundaú, na praia de Guaxuma e na Rua das Árvores, localizada no centro de Maceió (NUNES, ano, p. 75, 76, 77). O filme, dessa forma, resgata a ancestralidade a partir dos corpos que interagem com o território geográfico e fílmico. Território esse que foi terra do Quilombo dos Palmares, mas também local onde, em 1912, ocorreu a Quebra de Xangô, dia de violência contra os povos do terreiro do estado.
    O espaço e as atuações que ocorrem no mesmo, utilizam, portanto, elementos associados à ficção para alcançar toda a sua potencialidade. O espaço, para Velasco, ao analisar as ideias de Massey em torno do mesmo, “é conexão, interação, coetaneidade. Ele é sempre construído socialmente no encontro” (VELASCO, 2020, p. 151). Ao pensar no espaço por uma perspectiva documental aliada a uma narrativa dramática que utiliza atores, elementos cenográficos e intervenções, pretendemos aprofundar os debates em torno dessa intersecção, tendo como base as contribuições da equipe de arte para a realização da obra.

Bibliografia

    HAMBURGER, Vera. Arte em cena: a direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Ed. SENAC Edições SESC, 2014.

    NUNES, Valéria de Lima. Ebó fílmico como ferramenta cartográfica – Diálogos e devires de uma artista e o filme Cavalo. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema, Universidade Federal de Sergipe, 2023.

    SOUTO, Mariana, ROCHA, Rafael. A direção de arte como estética performática em documentários de Agnès Varda – Realidades de Artifício. Revista Esferas, Brasília: ano 13, vol. 1, nº 26, janeiro-abril, 2023.

    VELASCO, Diogo Cavalcanti. Imagem-Espaço. Rebeca – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, Ano 9, n. 1, janeiro-junho, 2020.