Ficha do Proponente
Proponente
- MILENA SZAFIR (UFCE)
Minicurrículo
- Professora do Programa de Pós Graduação em Artes e do curso de Cinema e Audiovisual da UFCE, com pós-doutorado em AI e Design pela USP. Coordena o Projet’ares Audiovisuais (#ir! & #MESA media lab). Foi membra do comitê científico da SOCINE (2021-2023), propositora-cocoordenadora do extinto ST Montagem Audiovisual (2018-2019) e responsável pela identidade visual (design) do XXII Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos em Cinema e Audiovisual, “50 anos do maio de 68”. profmilena@manifesto21.tv
Ficha do Trabalho
Título
- Anarquivamento e Montagem AI
Mesa
- Montagem 24: entre Almodóvar, Inteligência Artificial e Queer VR
Formato
- Presencial
Resumo
- Se na virada do século XX ao XXI debatíamos as gestualidades do Remix no audiovisual, que permearam os realizadores audiovisuais da cultura digital de primeira onda (1995-2007) e que se inserem nos atuais softwares para edição em tempo real (já podiam ser encontradas também nas experimentações estéticas de filme-ensaio e found footage), cem anos após as vanguardas europeias, os ready-mades retornam em formato de “prompts” nos aplicativos de inteligência artificial online como Runway, Firefly etc
Resumo expandido
- Frente à contemporaneidade tecnológica dos elementos cinematográficos em órbita, serão apresentadas abordagens, técnicas e estéticas referentes aos “gestos de montagem” (Szafir, 2014) através de experimentações desbravadoras que sempre envolvem(-nos) em um “manto da desconfiança”.
Neste sentido, após especulações e utilizações do ChatGPT (“Generative Pre-Trained Transformer”, lançado em 2022 pela empresa OpenAI que um ano antes já havia colocado à disposição o DALL-E, ferramenta de geração de imagens estáticas), o debate de utilização da inteligência artificial (AI) – em seu formato online – chega à imagem em movimento.
A criatividade já não-generalizada compreende o auxílio da IA/AI (inteligência artificial / artificial intelligence) na realidade cinematográfica como, por exemplo, “uma ferramenta muito interessante de inspiração para roteiristas … Pode dar algumas sugestões de caminhos que o roteiro pode levar e, obviamente, criar algo usando como parâmetro toda a coleta que ela faz de obras existentes … está se utilizando de outras obras que já foram criadas … Qualquer coisa que ela te sugerir, vai estar baseada em outras coisas que ela pesquisou na internet.” (Quintas, 2024)
Se na virada do século XX ao XXI debatíamos as gestualidades do Remix no audiovisual – “que permearam os realizadores audiovisuais da cultura digital de primeira onda (1995-2007) e que se inserem nos atuais softwares para edição em tempo real, já podiam ser encontradas também nas experimentações estéticas de Godard (Histoire(s) du Cinema, 1999), por exemplo” (Szafir, 2015) -, cem anos após as vanguardas europeias – dadaísmo, surrealismo etc – os ready-mades retornam em formato de “prompts”.
Na atual conjuntura da criatividade à imagem em movimento, em particular em seus gestos de montagem, algumas questões serão colocadas sob os holofotes do audiovisual nesta Mesa Temática “Montagem 24: entre Almodóvar, Inteligência Artificial e Queer VR”: anarquivamento, nomenclaturas e conceitos (Jaillant, 2022; Seligmann-Silva, 2014-2023) como um caminho à neodecolonialidade em relação às práticas em andamento da montagem via aplicativos de inteligência artificial em ambientes online e as criações através dos implícitos procedimentos de morphing. Não há, portanto, como generalizarmos a criatividade tampouco a proposta de um cinema universal. Será através de uma gama de sentidos éticos, políticos e poéticos que pretendemos apresentar a montagem cinematográfica e audiovisual contemporânea como uma especulação posterior à prática de remixar uma história previamente existente online. Os aplicativos de edição online (web native cinema) não são apenas para composição da imagem videográfica, mas também possibilitam conectar outras informações na esfera telemática. Ou seja, para além da publicação de um vídeo isolado, uma história mais complexa pode ser construída através dos diferentes formatos dos dados em órbita na web.
Portanto, partiremos de nossas pesquisas prévias para adentrarmos às atualidades dos campos originalmente percorridos a fim de buscarmos diálogo com pesquisadores de ontem e hoje: “em que nível de competência tecnológica deve operar um artista que pretende realizar uma intervenção verdadeiramente fundante? Deve operar ele apenas como usuário dos produtos colocados no mercado pela indústria da eletrônica? Deve operar ele como engenheiro ou programador, de modo a poder construir as máquinas e os programas necessários para dar forma a suas idéias estéticas? Ou ainda deve operar ele no plano da negatividade, como alguém que se recusa a fazer uma utilização legitimadora da tecnologia?” (Machado, 1997)
Visamos, dessa maneira, alcançarmos “atrás de detrás dos pensamentos” (Lispector apud Castello, 2015) o elemento cinematográfico montagem para “transver o audiovisual em um mundo sem centro ou margem” através de derivas e tropeços, flâneries e (des)encontros “conosco mesmos e com tudo o que aprendemos”.
Bibliografia
- BEIGUELMANN. Acervos Digitais e Pesquisa: arte, arquitetura e tecnologia. FAPESP, 2022.
https://www.acervosdigitais.fau.usp.br/en/anarquivamentos/ Acesso em 30/03/2024.
CASTELLO. Manoel além da razão. IN: BARROS, Meu quintal é maior do que o mundo. RJ: Objetiva, 2015.
JAILLANT. Archives, Access and Artificial Intelligence. doi.org/10.14361/9783839455845 2022. Acesso em 24/02/2024.
MACHADO. Repensando Flusser e as imagens técnicas. IN: GIANETTI. Arte en la Era Electrónica: Perspectivas de una nueva estética. Barcelona, 1997.
SELIGMANN-SILVA. Sobre o anarquivamento. Revista Poiésis, n.24, p. 35-58, 2014.
SZAFIR. Retóricas Audiovisuais 2.1: Ensino e Aprendizagem Compartilhada (Passado, Presente, Futuro ou Por uma Arqueologia-Cartografia da Montagem). Tese ECA/USP, 2015.
_. Neo-Remix Gestos v.1.1. INTERCOM, 2015.
_. De Volta Para o Futuro: Videohacktivismo, #Enredados Remix Gestos v.3. Anais SOCINE, 2015, pp.455-562.
QUINTAS. ChatGPT: o que é, (26 de janeiro 2024). Acesso: 30/03/24