Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael Saar da Costa (PPGCine UFF)
Minicurrículo
- Doutorando pelo PPGCine UFF. Dirigiu curtas-metragens, entre eles “Depois de tudo” e “Homem-ave”, premiados em diversos festivais. É realizador, pesquisador e montador. Seu primeiro longa, “Yorimatã”, foi exibido no Festival de Havana, Mostra de SP 2014 e ganhou o prêmio de Melhor Filme no In-Edit 2015. “Peixe abissal” estreou na Mostra de Tiradentes e ganhou os prêmios de Melhor Documentário no Queer Lisboa 2024 e Melhor Diretor no FIDBA.
Ficha do Trabalho
Título
- Yankovic e Parra: documentário e a música popular latino-americana
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Uma investigação das relações do novo cinema latino-americano e a música popular nos anos 1950 representada no encontro entre a cineasta Nieves Yankovic e a artista Violeta Parra. Diálogos possíveis entre duas chilenas que se encontram nos filmes documentais Andacollo (1958) e Los artistas plásticos chilenos (1960).
Resumo expandido
- Os anos 1960 marcaram uma América Latina de efervescência política e artística em uma convergência potencializada por conjunturas nacionais mobilizantes, como a Revolução Cubana, e, por outro lado, os governos militares. Cinema, teatro, música, artes plásticas, literatura, buscam aproximações frente a dilemas sociais comuns e se apresentam em movimentos de renovação em estética e discurso. Também vemos a consolidação dos cinemas novos brasileiros, o Nuevo Cine Latinoamericano, a Tropicália, a Música Popular Brasileira e a Nueva Canción Latinoamericana. Situados frente aos debates acerca do neocolonialismo cultural, o repúdio à hegemonia estadunidense e europeia na América Latina, os movimentos de renovação e emancipação cultural buscaram na tradição popular um dos elementos de impulso revolucionário de afirmação de identidades nacionais. No Brasil esta nova arte se volta ao morro e ao sertão, presentes na música de protesto, no Teatro Opinião, no cinema novo.
Podemos traçar um paralelo com outros territórios latino-americanos, como o Chile, e o panorama no qual um cinema que reproduzia estéticas importadas e hegemônicas encontra realizadores que irão abrir caminho para o Nuevo Cine Latinoamericano, como Sérgio Bravo, e a dupla Nieves Yankovic e Jorge Di Lauro. Em comum, no trabalho pioneiro destes cineastas, está a artista Violeta Parra, que compõe a trilha sonora e eventualmente aparece nos primeiros filmes destes cineastas.
Nieves Yankovic iniciou sua carreira como diretora a partir de 1958, sempre ao lado do companheiro Jorge Di Lauro, dividindo a direção de nove documentários. A filmografia de Yankovic e Di Lauro compreende perspectivas de uma busca estética e autoral sobre a autenticidade chilena, passando por olhares antropológicos, testemunhais sobre espiritualidade e o sincretismo cristão-indígena, as artes e contextos sócio-políticos sob o olhar poético dos textos de Yankovic.
A aproximação da artista Violeta Parra acontece em finais dos anos 1950, quando compõe a trilha de dois documentários fundamentais para o Nuevo Cine Latinoamericano, Mimbre (dir. Sergio Bravo, 1957) e Andacollo (dir. Nieves Yankovic e Jorge Di Lauro, 1958). Yankovic afirma, em entrevista a David Vera-Meiggs, que Violeta não era especialmente conhecida quando a encontrou nos anos 50, e que se empenhou em promover seu trabalho e apresentá-la aos meios culturais. Andacollo é conduzido pela narração de Nieves e música interpretada por Violeta Parra, retratando a celebração do dia da Virgem de Andacollo, uma das maiores festividades chilenas, com caráter religioso e folclórico, que acontece na cidade de Andacollo, de ancestralidade Inca e marcada pela mineração. De todas as canções apresentadas por Parra, nenhuma é de sua autoria, e observamos a utilização de temas da tradição popular, reprojetando a memória e o imaginário destas expressões, pensando nesta arte as perspectivas de reconhecimento, preservação e difusão.
No curta-metragem Los artistas plásticos de Chile de 1960, Nieves reencontra Violeta Parra. O filme curiosamente tem creditada a direção somente de seu parceiro Di Lauro, porém é o texto e a voz de Nieves que percorrem toda a obra, marca do trabalho da dupla. Realizado em cores e cinemascope, o filme traça um panorama dos artistas plásticos de então, e, passando pelo atelier de diversos deles, chega à Feira de Artes Plásticas del Parque Forestal de 1959, onde encontra Parra.
De um lado, a realizadora Yankovic, precursora dos movimentos seguidos pelo Nuevo Cine Chileno que entre os anos sessenta e setenta apontou o olhar para seu país, suas questões políticas e estéticas, sua cultura. De outro, Violeta Parra, de forma análoga na música, se torna figura pioneira no que também se chamaria de Nueva Canción Chilena, uma obra autoral e política, e o trabalho de recompilação da canção tradicional, do olhar urbano sobre o interiorano.
Bibliografia
- FERNANDÉZ, Javier Osório. Música popular y poscolonialidad: Violeta Parra y los usos de lo popular en la Nueva Canción Chilena. X Congresso de IASPM-AL. Córdoba, Argentina, 2012.
MORALES C., Marcelo. Violeta Parra y el cine chileno. Disponível em . Acesso: 01 de março de 2021.
MOUESCA, Jacqueline. El documental chileno. LOM Ediciones: Santiago de Chile, 2005.
WOZNIAK-GIMÉNEZ, Andrea Beatriz. Música Popular e engajamento nos anos 60: Cultura Política nas trajetórias artísticas de Violeta Parra, Mercedes e Elis Regina. Escritas – Revista de História de Araguaína. Araguaína, v.6, p. 66-83, 2014.
GAETE, Cristina Beatriz González. Mujeres detrás de las cámaras: Patrimonio audiovisual chileno a través de una cartografía comentada de largometrajes de ficción dirigidos por cineastas chilenas (1896 – 2016). Tesis para optar al grado académico de Magíster en Arte y Patrimonio. Universidad de Concepción. Concepción, 2018.