Ficha do Proponente
Proponente
- Erick Felinto de Oliveira (UERJ)
Minicurrículo
- Erick Felinto é pesquisador 1 do CNPq e Professor Titular da UERJ, onde realiza pesquisas sobre cinema, cibercultura e política. Foi professor visitante na Universität der Künste Berlin e na NYU. É autor dos livros A Religião das Máquinas: Ensaios sobre o Imaginário da Cibercultura (Sulina), O Explorador de Abismos: Vilém Flusser e o Pós-Humanismo (Paulus) e A Imagem Espectral: Comunicação, Cinema e Fantasmagoria Tecnológica (Ateliê Editorial), entre outros.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema Místico: Poesia Visual e as Atmosferas Mágicas de Nacer Khemir
Seminário
- Cinema Comparado
Formato
- Presencial
Resumo
- Nacer Khemir, artista, escritor e cineasta tunisiano, alcançou reconhecimento internacional com sua celebrada “trilogia do deserto”, composta pelos filmes Les baliseurs du désert (1984), Le collier perdu de la colombe (1991) e Bab’Aziz: le prince qui contemplait son âme (2005). O objetivo deste trabalho é explorar os componentes “atmosféricos” da obra de Khemir em sua associação com a temática literária derivada de clássicos como As Mil e uma Noites e das tradições populares do Islã.
Resumo expandido
- Nacer Khemir, artista, escritor e cineasta tunisiano, alcançou reconhecimento internacional com sua celebrada “trilogia do deserto”, composta pelos filmes Les baliseurs du désert (1984), Le collier perdu de la colombe (1991) e Bab’Aziz: le prince qui contemplait son âme (2005). Fortemente influenciado pela cultura islâmica tradicional (a obra de 1991 é inteiramente falada em árabe clássico), Khemir engendra em seus trabalhos uma atmosfera de poderosa magia e poeticidade. Lendas antigas, dervixes, criaturas mágicas e buscas espirituais atravessam seus filmes, particularmente a terceira parte da trilogia, na qual um sábio místico viaja com sua neta para participar de um festival sufi. O objetivo deste trabalho é explorar os componentes “atmosféricos” da obra de Khemir em sua associação com a temática literária derivada de clássicos como “As Mil e uma Noites” e das tradições populares do Islã. Os estudos de atmosfera e ambiência, ainda que relativamente raros no campo específico do cinema (pode-se citar, aqui, o trabalho de Inês Gil, A Atmosfera no Cinema, 2005), compõem hoje um dos domínios mais ricos e interessantes da estética contemporânea, especialmente no contexto de língua alemã. Na literatura, a noção vem sendo explorada por pensadores como Hans Ulrich Gumbrecht e Peter Stockwell. Profundamente ligada ao termo alemão Stimmung, derivado de “voz” (Stimme), e extensamente investigada por Heidegger em sua filosofia, a ideia de atmosfera (ou “mood”, em inglês, e “ambiance”, em francês) é definida por Gernot Böhme como uma espécie de “entrelugar”, situado a meio caminho do sujeito e do objeto, e manifestada experiencialmente no encontro destes em uma obra (2019). Para Gumbrecht, por sua vez, uma atmosfera não pode ser claramente explicada, senão simplesmente “apontada”, de forma deítica, pelo observador. Pode-se, no máximo, tentar descrever os efeitos por ela produzidos na experiência do confronto com a obra. Desde os primeiros investigadores contemporâneos do conceito, como Schmitz (1969) e Tellenbach (1968), a ideia de atmosfera é envelopada por uma aura de mistério, indefinição e magia. Não se trata, porém, de um problema de deficiência conceitual, mas antes daquilo que o singulariza e o torna um instrument particularmente útil para a análise de certos efeitos estéticos. Nesse sentido, ao lançarmos mão do conceito para investigar o trabalho de Khemir, propomos uma leitura da “Trilogia do Deserto” que encontra na ideia de “atmosfera mágica” o elemento central da poeticidade de seus filmes. No trânsito entre literatura, lendas, folclore e religiosidade, Khemir produz uma experiência de “transporte”, na qual o público se percebe mergulhado em uma realidade mágica maravilhosa dando corpo a experiências transcendentes por meio da arte. O que se pretende demonstrar, em última instância, é a constituição do que chamaremos de um “cinema mistico”, cujo objetivo é “presentificar” (Gumbrecht) um passado imaginário no qual história, magia e sonho compõem dimensões centrais da experiência estética e cinematográfica.
Bibliografia
- ARMES, Roy. The poetic vision of Nacer Khemir, in Cinema in Muslin Societies. London: Routledge, 2016.
BÖHME, Gernot. Ästhetischer Kapitalismus. Berlin: Suhrkamp, 2018.
_____________. Atmosphäre: Essays zur neuen Ästhetik. Berlin: Suhrkamp, 2019.
Durand, Gilbert. Introduction à la mythodologie. Paris: Albin Michel, 1996.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosphere, Mood, Stimmung. Stanford: Stanford University Press, 2012.
BÉGOUT, Bruce. Le Concept d’Ambiance. Paris: Seuil, 2020.