Trabalhos aprovados 2024

Ficha do Proponente

Proponente

    Manoel Adriano Magalhães Neto (USP)

Minicurrículo

    Doutorando em Música na USP, Mestre em Música pela UFRJ e graduado em Comunicação Social pela Uerj. Atua como diretor de documentários, músico, compositor de trilhas sonoras e produtor musical. Dirigiu “Nada Pode Parar os Autoramas” (2020), documentário premiado internacionalmente, e “Abreu-Prazeres” (2023). Seu primeiro álbum solo, “Consertos em Geral”, foi escolhido um dos 50 melhores lançamentos nacionais pela revista Rolling Stone em 2018.

Ficha do Trabalho

Título

    Cara a cara: o contexto sonoro no filme de estreia de Júlio Bressane

Formato

    Presencial

Resumo

    A construção sonora em “Cara a Cara”, primeiro filme do cineasta carioca Júlio Bressane, conjuga a trilha sonora original à música pré-existente, em um ambiente de proximidade entre os materiais. O objetivo deste trabalho é identificar o uso da música pré-existente, analisar o mesmo em relação à obra fílmica e ainda discutir o contexto musical utilizado no longa-metragem como um todo, abordando ainda o trabalho do compositor Sidney Waismann.

Resumo expandido

    O trabalho objetiva identificar e listar o material de música pré-existente utilizado no filme “Cara a Cara”, primeiro longa-metragem do cineasta Júlio Bressane, tentando demarcar a origem das gravações selecionadas, e também entender como o material dialoga com a música composta originalmente. O diretor tem extensa carreira, com mais de vinte longas realizados, e comumente está associado pela crítica ao movimento que convencionou-se chamar de Cinema Marginal na historiografia do cinema brasileiro, mesmo que Bressane prefira chamar de Cinema de Invenção, título do livro de Jairo Ferreira a respeito de sua geração de realizadores.

    No entanto, “Cara a Cara” foi apontado inicialmente como integrante de uma nova onda do Cinema Novo e até hoje permanece citado como uma espécie de filme de interseção entre os dois momentos (e movimentos), mesmo que boa parte do exercício de autor que Júlio Bressane faria nos próximos anos já estivesse presente no filme. É o ponto de partida do cineasta, mas ao mesmo tempo representa um fricção entre os dois grupos que consolidaram-se no período do final dos anos 1960 no cinema do Brasil.

    Lançado em 1967, o filme tem nos créditos de trilha sonora original o nome do músico e fotógrafo Sidney Waismann, cujos outros dois créditos musicais encontrados por este estudo na cinematografia nacional estão nos longa-metragens “Tempo de Violência” (1969), de Hugo Kusnetzoff, e “ABC do Amor” (1967), de Eduardo Coutinho. As cartelas iniciais do longa-metragem apontam a participação de Maria Bethânia e Jards Macalé em uma canção adicional (utilizada na cena final) e ainda excertos de Villa-Lobos, Ernesto Nazareth (creditado apenas como Nazareth) e J. S. Bach, que representam a música pré-existente escolhida por Júlio Bressane para compor o panorama sonoro junto à trilha original. Este estudo busca, inicialmente, apontar quais são as peças utilizadas desses compositores, identificando os momentos no filme e analisando os contextos do uso musical e também das obras escolhidas, com o apontamento dos artistas e as gravações selecionadas pelo diretor.

    Uma das marcas do trabalho de Júlio Bressane é o uso dos planos musicais completos como um convite ao espectador pela escuta, mas ao mesmo tempo criando grandes sequências de interação com a imagem, em uma linguagem pré-videoclíptica. O diretor intenciona que as passagens musicais durem por grandes períodos em cena e “Cara a Cara” contempla uma sucessão de planos com trilha, onde estão inseridos não só os materiais pré-existentes como também a trilha sonora original de Waismann. O filme recebeu menção honrosa e o prêmio de melhor fotografia no III Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 1967, e merece destaque por sua excepcionalidade na obra de um dos maiores diretores brasileiros. “Cara a Cara” apresenta experimentações na trilha sonora original que não se repetiram na obra de Bressane, mas podem abrir uma nova perspectiva para a compreensão das inúmeras escolhas do diretor no campo da música em seus filmes, em uma variedade tão extensa quanto a sua filmografia.

    Observar o ambiente sonoro de “Cara a Cara” mais detidamente possibilita um ponto de partida para futuros estudos do uso da música na obra de Bressane, principalmente por conta do longa-metragem já apresentar diversos caminhos que seriam desenvolvidos de diferentes formas em outras obras ao longo das próximas seis décadas pelo cineasta.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. Cinema marginal?. Folha de S. Paulo, São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1006200107.htm

    BRESSANE, Júlio. Catálogo Retrospectiva Júlio Bressane: Cinema Inocente. Centro Cultural Banco do Brasil. Rio de Janeiro, 2002, 112 p.

    COELHO, João Marcos. Morre, aos 87, criador do grupo Swingle Singers. O Estado de S. Paulo, São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2015. Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/musica/morre-aos-87-criador-do-grupo-swingle-singers/

    LAZO, Vlademir. Cara a Cara. Revista Zingu! Edição #48. 21 de agosto de 2011. Disponível em https://revistazingu.net/2011/08/21/cara-a-cara

    COSTA JÚNIOR, Francisco José Pereira da. A sonoridade no cinema moderno brasileiro. Belo Horizonte: Fafich/ Selo PPGCOM UFMG, 2023, 182 p.

    FLORES, Virginia Osorio. Poesia cinematográfica e canção popular em Júlio Bressane. In: FONSECA, Eduardo Dias, RAMALHO, Fábio Allan Mendes (Dir.), 234p.