Ficha do Proponente
Proponente
- Carolina de Oliveira Silva (Unicamp)
Minicurrículo
- Carolina de Oliveira Silva é doutoranda do PPG em Multimeios da UNICAMP, mestra em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e bacharel em Comunicação Social RTV (UAM). É membro do Grupo de Pesquisa GENECINE, faz parte do corpo editorial da Revista Zanzalá e atualmente, desenvolve pesquisa sobre as personagens femininas no cinema de FC brasileiro. É roteirista, professora de comunicação e colaboradora do Delirium Nerd.
Ficha do Trabalho
Título
- A escuta feminista como metodologia: ouvir as vozes da FC brasileira
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este artigo pensa a escuta feminista (Borges; Ferreira, 2021) como metodologia de análise das vozes femininas em filmes de ficção científica brasileiros. A hipótese é de que as vozes justapostas a partir dos filmes Acquária (2003) de Flávia Moraes, Era uma vez Brasília (2017) de Adirley Queirós e Joana Pimenta e Lucicreide vai pra Marte (2021) de Rodrigo César, podem contestar o que teóricas como Mary Ann Doane (1983) apontou como uma política problemática da voz quando da perspectiva feminista.
Resumo expandido
- Este trabalho nasce de uma lacuna identificada nas análises sonoras que se referem ao recorte de minha pesquisa de doutorado: as mulheres na ficção científica brasileira. Ao detectar em minha trajetória uma preocupação quase sempre voltada às imagens, me perguntei o que seria possível se me permitisse, enfim, me dedicar a escuta dessas mulheres que, à primeira vista, eu conhecia tão bem.
Assim, a perspectiva da voz foi se tornando cada vez mais coerente, já que não bastava mais olhar para os filmes de maneira distinta, mas encontrá-los em suas possibilidades. Tide Borges e Mariana Ferreira (2021), apresentam em um texto sobre as trabalhadoras do som no cinema brasileiro, uma aproximação entre mulheres que se dá pelo diálogo – ao qual eu estendo, não em uma conversa à maneira de entrevistas, mas no encontro entre filmes do meu corpus que, de alguma forma, encontravam nas vozes um elemento de destaque.
O canto de Sarah (Sandy Leah), uma mulher branca guerreira, é a chave para a recuperação de planeta inabitado pela água; a voz de Andreia (Andreia Vieira), uma mulher preta, é a única possibilidade de enfrentamento de um mundo opressor em que é possível viajar no tempo para acertar as contas e, as histórias de Luci (Fabiana Karla), uma mulher nordestina e emprega doméstica, são o principal combustível de uma viagem que promete levá-la à Marte. Três mulheres em mundos completamente distintos poderiam, enfim, se encontrarem para uma conversa? No que resultaria o encontro entre uma FC ambientalista, uma distopia e uma comédia?
A fim de provocar esses diálogos, este trabalho propõe uma metodologia de análise – da voz e dos discursos – que desobedeça às linearidades temporais. Em outras palavras, como sugerem Ramayana Souza e Alessandra Brandão (2023) ao discutirem sobre as análises fílmicas que se dedicam a esmiuçar os filmes, a ideia é de que eles passem a ser entendidos como corpos, capazes de se repelirem e se aproximarem a todo momento. Assim, ao também tomar emprestada a organização de corpus possíveis, quando do aspecto das constelações fílmicas (Souto, 2020) – ouvir as mulheres da nossa ficção científica – seus cantos, silêncios e histórias – é, também, problematizar o que poderia ser a escuta feminista no cinema como método de análise.
Para endossar o estudo, autoras como Virgínia Flôres (2013) e Débora Opolski (2021) serão utilizadas com o intuito de compreender as especificidades sonoras das vozes, considerando assim, a voz como parte tão importante quanto qualquer outra da mise en scène, dada as inúmeras variações de timbres que uma personagem pode ter (Flôres, 2013). Além disso, também será considerada as funções narrativas e dramática dos diálogos, comumente divididas entre os aspectos aurais e verbais para a análise (Opolski, 2021), mas que, de modo geral, são interdependentes.
Para além da aproximação de filmes que frequentam o gênero da FC e tornam possíveis sua discussão a partir de uma atitude feminista, bastante cara ao gênero que, muitas vezes se pretende propositor de outras formas de vida, este trabalho também procura refletir sobre textos já consolidados na área como o de Mary Ann Doane (1983). Para a autora, a construção de uma política da voz, apesar de necessária, apresenta problemas, dentre eles, a da própria perspectiva feminista, que funcionaria como uma oposição ao olhar fálico, tendo em vista o investimento mais no olhar que no ouvir – ainda que tal afirmação seja passível de discussão.
Ao tomar emprestado tais reflexões, colocá-las em diálogo e cotejá-las às falas das personagens, este trabalho, ainda em processo de feitura, pretende não só contribuir para novas reflexões em torno das vozes das mulheres da nossa FC, mas apresentar outras formas de apreensão dessas histórias, menos centralizadas e mais coletivas, como o seria uma boa roda de conversa.
Bibliografia
- DOANE, M. A. A voz no cinema: a articulação do corpo e espaço. In: XAVIER, I. (org.). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.
FLÔRES, V. O cinema: uma arte sonora. São Paulo: Annablume, 2013.
GUIMARÃES; C. B.; FERREIRA, M. M. de M. Escuta s. fem.: In: Trabalhadoras do cinema brasileiro: mulheres muito além da direção. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2021.
OPOLSKI, D. Edição de diálogos no cinema: a fala cinematográfica como um elemento sonoro. Curitiba: Ed. UFPR, 2021.
SOUTO, M. Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema. Galáxia, n. 45, 2020.
SOUZA, R. L. de. Velcros Lésbicos no cinema: modos de usar. GEL – Grupo de Estudos em Lebianidades. Youtube, 29 de setembro de 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uMTLNCFvcQc. Acesso em: 29/09/2023.
SILVA, C. de O. A voz feminina negra em Era Uma Vez Brasília: uma perspectiva de análise. In: VICENTE, E. (org.). Sonoridades midiáticas: rádio, música e cinema. São Paulo: ECA-USP: TikiBooks, 2023.